Ver os destroços do automóvel,
o teu corpo ainda. E os dias cumprindo
o arco, oh borboletas de fogo!
Quem se atreverá a plantar-te na memória?
«Foi melhor assim» – disseste, dentro já
da inconsútil ideia oferecida.
Era quase manhã: anoitecia
o teu espírito visível nas estrelas.
Digamos que não morreste, a bomba
traiçoeira explodiu, continua a explodir
dentro deles, dos inimigos do povo. Aleluia!
Sepultemos a rosa insuportável.
O que é preciso é recompor o silêncio,
dizer ao vento: sopra, Maximino.
António Cabral (1931-2007) foi um poeta, ficcionista, cronista, ensaísta, dramaturgo, etnógrafo e divulgador da cultura popular portuguesa. Nascido em Castedo do Douro, Portugal, em pleno coração duriense, a 30 de Abril de 1931, iniciou a actividade literária aos 19 anos com a publicação do livro de poesia Sonhos do meu anjo. Ao longo de 56 anos de carreira dedicada à escrita, publicou mais de 50 livros em nome próprio, abraçando géneros tão diversos como a poesia, o teatro, a ficção e o ensaio, e dedicando-se em paralelo ao estudo apurado e divulgação das tradições populares portuguesas.
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