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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 2 de outubro de 2019

A HISTÓRIA DO CEGO SANTO E SÁBIO

Era uma vez um príncipe e uma princesa que estavam numa varanda que dava para a rua, nisto vêem uma junta de vacas pela rua a cima, nisto diz o rei:
- Oh! Que linda junta de bois ali vai!
Dizendo, logo de seguida, a rainha:
- Oh! Que linda junta de bois não. Oh! Que linda junta de vacas.
- Palavra de rei não volta a trás, e tu se me mandas repetir mando-te matar. No entanto, a rainha repetiu:
- Oh! Que linda junta de bois não. Oh! Que linda junta de vacas.
O rei mandou logo chamar os criados para levar a rainha para o meio do mato, ordenando que lhe levassem a língua da rainha. Mas os criados tinham uma cadela que era muito amiga deles e quando viu os criados com a rainha a cadela acompanhou-os. Eles levaram, então, a rainha, que estava grávida de sete meses, para uma ilha rodeada de mar onde viviam muitos macacos. Os criados em vez de matarem a rainha, mataram a cadela e levaram a língua da cadela, o rei quando viu a língua pensou que era a da rainha. A rainha ficou sozinha na ilha e um macaco entregou-se a ela, entretanto teve que se habituar a comer só pássaros, caça e tudo o que encontrasse. Passados uns tempos o filho nasceu, ela desfazendo os farrapinhos que trazia vestidos, para cobrir o filho, este começou a crescer e a vida dele era caçar. Um dia o rapaz chegou-se à beira da ilha, onde estava um braço de mar mais estreito e pôs-se a nadar para o outro lado deixando a ilha. No outro lado encontrou um cinturão cheio, um cão e uma espingarda, assim que pegou neste objecto reparou que era para atirar, nisto vê passar um bando de pombas e disparou sobre elas matando duas. O cão foi buscá-las trazendo-lhas à mão ficando o rapaz muito contente com essa e outra caça que conseguiu esse dia, indo depois ter com a mãe que lhe explicou o que era tudo aquilo. Ao outro dia voltou ao mesmo sítio com a espingarda e o cão, andou um bocado e viu um grande palácio, ele entrou para o quintal do palácio onde estava um gigante que lhe disse:
- Oh! Que rico franguinho aqui me apareceu.
E nisto vai-se direito a ele para o matar e para o comer, mas o rapaz dá-lhe dois tiros e o gigante cai por terra. O rapaz entrou no palácio para dar a volta àquilo tudo, encontrando um quarto cheio de ossos de pessoas que o gigante tinha comido. O rapaz foi buscar o gigante atirando com ele para cima dos ossos, arrecadando, também, as chaves todas do palácio para as levar à mãe, tendo chamá-la para o palácio. No dia seguinte quando foi para a caça disse para a mãe:
- Minha mãe tem aqui as chaves dos quartos todos, peço-lhe que não abra aquele ali.
A mãe respondeu:
- Então se tu me pedes tanto não vou abrir.
No entanto, mal o filho virou costas a mãe foi logo abrir aquele quarto, onde se encontrava o gigante, ao que a rainha proferiu:
- Então o que é que o senhor está aqui a fazer, está doentinho?
- Olha, foi o teu filho que me deu dois tiros e atirou-me para aqui, mas este palácio é todo meu.
- Mas eu posso tratar de si!
Entretanto a rainha começou a tratar dele, à noite chegou o filho e perguntou à mãe?
- Mãe abriu a porta?
A mãe respondeu que não e o filho ficou todo contente.
No dia seguinte voltou a sair para caçar, a mãe voltou a ir tratar do gigante até este ficar bem curado, combinando com este matar o rapaz para ficarem os dois com o palácio.
A rainha disse, então, para o gigante:
- Então como vamos fazer para o matar?
- Fazemos muito bem! Quando ele chegar dizes-lhe que estás muito doente e que precisas de comer peras do pereiro, em tal lugar assim, assim.
Os pereiros estavam encantados, pois se o rapaz tocasse numa das peras ficava lá também. Ali perto dos pereiros, havia um cego, santo e sábio, em cuja casa o rapaz parou quando ia a cavalo para os pereiros. O “cego, santo e sábio” tinha três filhas, dizendo para estas:
- Chamai aquele rapaz que eu quero falar com ele!
O rapaz entrou e disse-lhe o “cego, santo e sábio”:
- Oh! Rapaz que andas a fazer?
O rapaz contou-lhe que tinha a mãe muito doente e que não melhorava sem comer as peras dos tais pereiros, ao que o “cego, santo e sábio” respondeu:
- Sim, a tua mãe está muito doente, mas escuta bem aquilo que te vou dizer, vais lá aos pereiros e passas por baixo de todas as peras dos pereiros e no meio do terreno há uma pereira, da qual tiras quatro peras e voltas para aqui. Assim fez o rapaz, mas mal este virou costas o “ cego, santo e sábio” disse para as filhas:
- O rapaz desta salvou-se. Ele está a chegar agora, pegais nas quatro peras que ele trás e dais-lhe quatro peras das nossas.
Assim aconteceu, levando essas quatro peras trocadas à mãe. Quando cegou a meio do caminho o gigante deu conta que ele estava de retorno:
- O teu filho não ficou lá, ele vem ai.
O rapaz chegou ao palácio e deu as peras à mãe que lhe agradeceu de imediato, agarrando-se a ele falsamente. Ao outro dia o rapaz voltou para a caça, dizendo o gigante para a rainha:
- Diz ao teu filho que tu não melhoras sem beber a água das sete bicas da fonte.
O rapaz ao retornar da caça, ouviu as queixas da mãe:
- Oh! Meu filho, eu não melhoro sem beber água das sete bicas da fonte.
Ao que o rapaz retorquiu:
- Pois minha mãe eu vou buscar essa água.
O cavalo do rapaz dirigiu-se, mais uma vez, para a casa do “cego, santo e sábio”, este mandou as filhas chamá-lo perguntando-lhe depois:
- Então, como está a tua mãe?
Ao que o rapaz respondeu:
- Está muito doente, não melhora se não beber a água das sete bicas da fonte.
- Olha, levas esta cântara, vais por este caminho fora até encontrar uns portais muito altos e fortes. Mas toma sentido no que te vou dizer, quando estiveres perto deles, os portais vão-se abrir e tu vais de cântara na mão, só uma das bicas é que vai estar a pingar água, enchendo a cântara só dessa bica.
O rapaz quando foi “colher” a água, ainda se enganou, mas depois pôs a cântara na bica certa, contudo ao sair os portões fecharam-se, no momento em que ele ainda estava a passar, ficando lá entalado o que o levou a ter de rasgar o casaco. O “cego, santo e sábio” disse para as filhas:
- Minhas filhas! O rapaz salvou-se! Agora tirais-lhe aquela água e dais-lhe da nossa, enquanto eu falo com ele.
Assim, o “cego, santo e sábio” revelou ao rapaz:
- O gigante e a tua mãe estão para te matar. A tua mãe cuidou dele e está muito mais forte do que estava, ele não está morto. Agora tu vais para o palácio, não tenhas medo pede à tua mãe que te matem e que te partam às postas e te metam dentro de um saco, mandando-o num cavalo pelo mundo fora.
O rapaz quando chegou ao palácio lá estava a mãe e o gigante para o matarem, dizendo o rapaz para a mãe:
- Então minha mãe, tanto que eu lhe queria e fiz por si, e agora quer-me matar?
Respondeu a mãe:
- Não interessa, eu quero-te matar!
- Se quiser me matar, mate! Mas partam-me todo em postas, metam-me dentro de um saco e prendam-me ao rabo de um cavalo para ir por esse mundo fora.
Mas o gigante queria matá-lo e enterrá-lo no quintal, o rapaz voltou a fazer o pedido à mãe, ao que esta respondeu ao gigante:
- Isso não interessa, vamos mas é matá-lo.
Então, mataram o rapaz e fizeram conforme ele tinha-lhes pedido, e o cavalo foi direito à casa do “cego, santo e sábio”.
O “cego, santo e sábio” manda as filhas tirar o saco com o corpo do rapaz, pedindo que o levassem para casa, dizendo depois para as filhas:
- Agora, minhas filhas ponde o lençol no chão, colocai posta por posta do corpo do rapaz até ficar perfeito.
Assim aconteceu, faltando só a “bicha”, a filha mais velha não a quis pôr, a do meio também não, mas a mais nova disse:
- É uma parte como as outras!
Agarrou nela e colocou-a no devido lugar, de seguida esfregaram-lhe o corpo com a água que ele tinha ido buscar e o corpo começou-se a unir.
O “cego, santo e sábio” tinha uma moca que pesava 100 arrobas, dizendo ás filhas para partirem a pêra, que o rapaz tinha ido buscar, em quatro partes. O rapaz quando comeu metade da pêra exclamou:
- Vou matar o gigante!
O “cego, santo e sábio” dirigiu-se a ele e disse-lhe:
- Anda cá, levanta esta moca!
O rapaz bem tentou, mas não tinha força para tal.
E o “cego, santo e sábio” referiu:
- Não vais matar o gigante, ainda não tens força para ele.
Quando o rapaz comeu a segunda parte da pêra voltou a jurar morte ao gigante, mas o “cego, santo e sábio” voltou a pedir-lhe que levantasse a moca e como na vez anterior ele não teve força suficiente, ao que lhe diz o “cego, santo e sábio”:
- Ainda não tens força para ele.
O rapaz quando comeu a terceira parte da pêra atirou com a moca para longe e disse o “cego, santo e sábio”:
- Agora já podes ir que já tens força para ele, mas olha que a tua mãe vai-te pedir para não a matares, no entanto também te matou a ti.
O rapaz já ia perto quando o gigante o vê e vai contar à rainha que o filho tinha chegado para os matar. A mãe implorou que não a matasse, mas o rapaz não quis saber matando os dois, assim, montou a cavalo e foi para casa do “cego, santo e sábio”, dizendo à chegada:
- Já matei a minha mãe e o gigante.
E responde-lhe o “cego, santo e sábio”:
- Fizeste muito bem! Agora estão aqui as minhas filhas escolhe uma para casar.
A mais velha disse:
- Caso eu com ele, pois tenho todo o direito de casar.
A do meio disse o mesmo, e a mais nova reclamou:
- Não! Quem lhe pôs a “bicha” fui eu, por isso, sou eu que caso com ele.
O rapaz assim o fez, casou com a mais nova e viveram felizes para sempre.

RECOLHA 2005 SCMB, CASIMIRO PARENTE, Idade: 66.
Localização geográfica: PAÇO DAS MÓS – ORIGEM + 60 anos.

FICHA TÉCNICA:
Título: CANCIONEIRO TRANSMONTANO 2005
Autor do projecto: CHRYS CHRYSTELLO
Fotografia e design: LUÍS CANOTILHO
Pintura: HELENA CANOTILHO (capa e início dos capítulos)
Edição: SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE BRAGANÇA
Recolha de textos 2005: EDUARDO ALVES E SANDRA ROCHA
Recolha de textos 1985: BELARMINO AUGUSTO AFONSO
Na edição de 1985: ilustrações de José Amaro
Edição de 1985: DELEGAÇÃO DA JUNTA CENTRAL DAS CASAS DO POVO DE
BRAGANÇA, ELEUTÉRIO ALVES e NARCISO GOMES
Transcrição musical 1985: ALBERTO ANÍBAL FERREIRA
Iimpressão e acabamento: ROCHA ARTES GRÁFICAS, V. N. GAIA

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