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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 28 de abril de 2020

VÁRIOS OBSTÁCULOS

As sociedades estão a falhar na tarefa de conduzir os mais novos até à idade em que deveriam segurar as rédeas disto. Inquietas, exigem à escola que o faça por elas: que promova todo o tipo de saberes e habilidades, incuta regras e valores, trate do físico, alimente, cuide, tome conta, entretenha, levante o moral e seja competente em todas estas coisas. É muita areia para que lhe seja possível pensar sequer em dar conta do recado, quanto mais fazê-lo, sendo pois natural que nela tudo se misture e pratique atabalhoadamente. Mas há outras dificuldades.
O conhecimento que ela hoje dá é apenas tolerável para uma percentagem de miúdos que deve rondar os vinte, trinta por cento, não mais. Os outros setenta limitam-se a estar lá estacionados, até mesmo por acharem que já sabem muitas coisas. E sabem. Não só por consumirem pornografia aos dez anos, mas pelo bombardeio de informação inútil sob a forma de imagens e ruídos a que constantemente estão sujeitos. Uma agressão que os ameaça e inquieta no presente e enche de apreensão quanto ao futuro. Uma avalanche que os satura e lhes tira paciência para o que a escola gostaria de lhes dizer e eles teriam vantagens em ouvir.
Para jovens a interagir e a funcionar em grupo, um espaço fechado já é tudo menos adequado para trabalhar ideias, mas seja como for lá permanecem dias inteiros entre quatro paredes, anos a fio, os seus melhores anos. Uma violência contra seres “cuja alma fora prometida às ondas brancas e às florestas verdes”, para citar um verso de sophia. Uma crueldade contra quem carece como de pão para a boca de dar vazão a pulsões irresistíveis: brincar, conviver, tagarelar, namoriscar, conceber e levar a cabo patetices. E dado que também servem para desopilar, o entusiasmo que muitas vezes envolve estas atividades é para eles mais importante do que levar na cabeça com o que quer que a escola lhes proponha.
Um número crescente tem progenitores que a escola já ajudou a produzir e são eles mesmos infantis e disfuncionais, pouca coisa havendo que alivie os garotos duma tal tristeza. Os modelos que apreciam, sejam cantores pimba, futebolistas broncos ou concorrentes de reality shows, também têm muito mais fulgor e força do que aqueles que a escola preza. Materialistas até ao osso, o que lá acontece pouco mais representa para eles do que treta inútil, e se ao tentar fazer o que lhes competiria ela ousar dizer-lhes que talvez os filhos não sejam os maiores, ficam ressentidos e apanham-lhe um azar que não a podem ver: acreditando que, em vez de educadores, os seus agentes são um obstáculo às ilusões que alimentam para os meninos, só não lhes acertam o passo se não tiverem oportunidade. 
Tudo handicaps que constrangem a tarefa de educar. Para agravar o cenário, a incerteza também se apoderou da própria escola. Numa crise severa de valores, como em todo o lado, ela tem dúvidas acerca daquilo que está certo e errado, do que é bom e mau, do que deveria ou não deveria transmitir. Sentindo-lhe estas inseguranças, os garotos, já de si descompensados e descrentes, levam-na pouco a sério, desafiam a sua autoridade, fazem pouco dela e ousam impor-lhe a regra de não existirem regras. Deseducá-la em vez de ser ela a educá-los. Com isto em pano de fundo, um velhadas qualquer com quem não têm nenhuma afinidade a vociferar teorias durante noventa minutos (ainda por cima o símbolo vivo da sua reclusão), por dinâmico que seja, domine as tecnologias, se vire do avesso e monte um espetáculo de entretenimento só pode ser para eles uma coisa insuportável. Mais do que instruí-los em línguas, ciências, técnicas ou maneiras, está condenado a rezar para que a indisciplina não descambe muito e a procurar-lhes terapia.
Por muitas exceções que haja, e certamente que há, a escola é uma instituição pouco eficiente, apesar de cara. E isso não tem a ver com mais ou menos verbas, antes com a ideologia que a impregna. Quem teoriza, opina e decide tem a seu respeito ideias distorcidas, não põe os pés nela ou já os pôs há tanto tempo que não faz ideia do que aquilo seja: um espaço de sofrimento para aqueles que lá andam. Substituí-la por algo totalmente diferente (que era melhor não ter o mesmo nome para evitar mal-entendidos), em vez de a defender, seria urgente para a sanidade de todos, em especial a dos que um dia deverão pensar, deliberar e agir pela comunidade.

Eduardo Pires

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