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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Espécies ameaçadas: O que enfrenta o coelho-bravo?

 Sara Costa dá-nos a conhecer este mamífero que está hoje Em Perigo de extinção em Portugal e Espanha, sendo um alimento fundamental para animais como o lince-ibérico e águia-imperial.

Foto: Johan Hansson / Wiki Commons

As origens do coelho-bravo (Oryctolagus cuniculus) estão no sudoeste da Europa. Diversos estudos afirmam que, até à Idade Média, a área de distribuição natural da espécie era restrita à Península Ibérica e ao sul de França. Mas hoje em dia, graças à introdução por parte do Homem, encontramos o coelho-bravo espalhado por todo o mundo.

Conhecemos duas subespécies de coelho-bravo, Oryctolagus c. cuniculus e Oryctolagus c. algirus, sendo a segunda a que habita em Portugal, como podemos observar nesta imagem.

Imagem representativa da distribuição geográfica das duas subespécies do coelho-bravo (https://www.researchgate.net/figure/Geographical-distribution-of-the-two-subspecies-of-the-European-wild-rabbit_fig1_319109025)

Este pequeno mamífero caracteriza-se por uma pelagem castanho acinzentada, tendo a cauda bastante curta e branca na parte inferior. As patas traseiras são fortes e adaptadas para uma corrida em saltos, e a mobilidade das orelhas permite-lhe captar com precisão os sons em redor. Não apresenta dimorfismo sexual, no entanto a fêmea é ligeiramente maior e mais pesada do que o macho.

Segundo o livro “Mamíferos” de Helga Hofmann, podemos encontrar o coelho-bravo em diversos habitats, entre eles, pastos, zonas montanhosas (até 1600m de altura), planícies, jardins e outras zonas de vegetação baixa. Sendo exclusivamente herbívoro, a sua alimentação inclui sementes, ervas, raízes, plantas ou até frutos. 

O coelho-bravo vive em tocas comunitárias que se ligam por galerias, contando com várias entradas e saídas. Os grupos familiares, desde 2 a 7 indivíduos, vivem com uma rigorosa hierarquia com um macho e uma fêmea dominante.

Foto: Mathias Appel/Wiki Commons

Tendo a visão mais adequada a uma fraca luminosidade, é durante a noite que o coelho se alimenta e se desloca. Durante o dia, as atividades restringem-se às tocas e a áreas de mato denso, também como forma de evitar a sua predação.

O coelho-bravo pertence, e partilha, a família Leporidae com as lebres (Lepus granatensis). Podemos distinguir estes dois animais pelo tamanho, sendo o coelho uma espécie mais pequena. Além disso, a lebre possui patas traseiras mais longas e orelhas mais compridas pontuadas por manchas pretas.

Espécie fundamental na dinâmica e manutenção do equilíbrio ecológico dos ecossistemas ibéricos, o coelho-bravo enfrenta, nos dias de hoje, desafios preocupantes.

De Quase Ameaçado para Em Perigo…

Em 2019, a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) mudou a classificação do coelho-bravo de “Quase Ameaçado” para “Em Perigo” nas suas áreas nativas. Esta chocante alteração deveu-se ao drástico declínio que esta espécie enfrentou entre 2009 e 2019. A redução da população do coelho-bravo durante este intervalo de tempo foi superior a 50%, sendo as doenças, nomeadamente uma nova variante da doença hemorrágica viral (DHV), o principal motivo. 

A mixomatose, em 1950, e a DHV, em 1980, são exemplos de como as doenças já afetaram as populações de coelho-bravo no passado, explica o Instituto para a Conservação da Natureza e das Florestas. 

Uma nova variante da DHV, designada atualmente por GI.2, foi detetada em 2012 em Portugal, dois anos depois de ter surgido em França. Sendo uma variante altamente contagiosa, a taxa de mortalidade foi muito elevada e afetou tanto coelhos juvenis como adultos, domésticos ou selvagens. Segundo o relatório da IUCN, os declínios populacionais de coelho-bravo, derivados desta nova onda da DHV, são estimados em 70%. 

Outros impactos que conduziram à drástica redução das populações de coelho-bravo foram a desflorestação, a caça, o fogo posto, as alterações climáticas e a destruição de habitats, por exemplo, para extensão da agricultura e pecuária. 

O papel do coelho-bravo

O coelho-bravo serve de alimento para, pelo menos, 39 espécies. Entre elas, saliento o lince-ibérico (Lynx pardinus) e a águia-imperial-ibérica (Aquila adalberti), sendo espécies também ameaçadas no nosso território. 

O declínio da população de coelho-bravo, quer por doenças quer por atividades humanas, irá desencadear enormes efeitos em cascata, pondo em causa a sobrevivência de espécies que dependem dele para a sua alimentação. Um estudo realizado em 2016 mostrou uma diminuição notória na fecundidade do lince-ibérico, em 65,7%, e da águia-imperial, em 45,5%, após a nova variante da DHV ter atingido o coelho-bravo.

Foto: Frank Vincentz

Para além de ser a base da cadeia alimentar de muitos predadores, estudos recentes apontam o coelho-bravo como um engenheiro dos ecossistemas. A sua capacidade escavadora confere abrigo a outras espécies, a decomposição dos seus excrementos e da sua urina permite alterar as propriedades físico-químicas do solo, aumentando a diversidade e o crescimento da comunidade vegetal e, por fim, a variedade da sua alimentação contribui para a dispersão de sementes de espécies vegetais.    

Projetos que trazem esperança

Entretanto, uma equipa internacional de cientistas comparou amostras de ADN de populações atuais com amostras de ADN obtidas a partir de um exemplar da coleção privada de Charles Darwin (século XIX) e de coelhos recolhidos antes do surto de mixomatose de 1950, concluindo que a espécie está a desenvolver uma maior imunidade a esta doença.

Outro estudo, publicado em 2017, demonstrou que um terço da população de coelho-bravo, em Portugal, já começa a apresentar alguma imunidade à nova estirpe de DHV. No entanto, esta imunidade pode não ser suficiente para obstar ao declínio deste animal, estimado em 20% a cada ano, pelo que é fundamental dar continuidade a todos os esforços de conservação.

Nesse sentido, Portugal e Espanha juntaram-se num projeto que procura “estabelecer um sistema de governança para a gestão do coelho na Península Ibérica”, o LIFE Iberconejo. Este projeto procura, para além de recuperar as populações de coelho-bravo, ajudar na prevenção dos danos que estes animais causam na agricultura. De maneira a cumprir estes objetivos, as áreas de atuação do LIFE Iberconejo passam por ações de sensibilização, monotorização da saúde das populações do coelho-bravo, testes de campo, criação de aplicações informáticas, prevenção de danos e avaliação dos impactos eco-sistémicos e socioeconómicos.

O Plano de Ação para Controlo da Doença Hemorrágica Viral do Coelho, em seguimento do Despacho n.º 4757/2017 do Ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, é outra iniciativa que trabalha em prol da conservação do coelho-bravo. Para atingir este fim, o ICNF, os laboratórios do Instituto Nacional da Investigação Agrária e Veterinária (INIAV) e algumas entidades gestoras das zonas de caça estão a trabalhar em conjunto no aumento da consciência social, na monitorização e controlo da mortalidade associada à DHV e na realização de práticas de gestão adequadas das populações de coelho-bravo.

Para além do controlo de doenças, outras práticas cruciais para a proteção deste mamífero passam pelo controlo da caça furtiva e pela melhoria dos seus habitats, nomeadamente através da construção de tocas artificiais e áreas de refúgio, limpeza de terrenos e aumento da disponibilidade de alimento e água.

Sara Costa
recém-licenciada em Ciências do Ambiente pela Universidade do Minho

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