Churra galega bragançana ou cordeiro bragançano: os ovinos desta raça apresentam uma carne muito tenra, macia e suculenta. Para isso, é fundamental que mantenham uma alimentação à base de leite materno e um acompanhamento total por parte dos seus produtores, como de mãe para filho. Manuel João e Irene Cubo assumem esse papel há mais de 40 anos. “Da Terra à Mesa” é um projeto Boa Cama Boa Mesa que dá a conhecer os produtos portugueses a partir de histórias inspiradoras e de sucesso, desde a produção até ao consumidor, em casa ou no restaurante.
Manuel João Cubo, 63 anos, é produtor de cordeiro bragançano há mais de quatro décadas em Palácios, uma localidade do concelho de Bragança. É com a mulher Irene que se dedica diariamente a esta atividade, “de verão e de inverno, debaixo do guarda-chuva”. E afirma que “é preciso gostar”, visto que já não há muitos produtores por lá. “A malta mais nova não quer esta vida.”
Em tempos, faziam também criação de vacas, mas o esforço era demasiado para o casal, que dedica agora os seus dias às cerca de três centenas de cordeiros bragançanos. "Saímos de manhã e chegamos à noite.” E a dedicação é total: “são como filhos. Têm que estar agasalhados, dormir bem…”, explicam.
Cordeiro Bragançano DOP |
“Entende-se por Cordeiro Bragançano DOP a carne de ovinos da raça Churra Galega Bragançana abatidos com três a quatro meses de idade, nascidos e criados num sistema de exploração extensivo tradicional. Trata-se de uma carne muito tenra, particularmente suculenta, macia, e com uma gordura consistente e não exsudativa. O peso médio da carcaça estimado será entre 10 a 12 kg”, segundo informação fornecida pela Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural (DGADR). A área de produção centra-se no Nordeste português, nos concelhos de Bragança, Vinhais, Macedo de Cavaleiros, Vimioso, Valpaços, Mirandela e Chaves.
Os animais alimentam-se de milho, centeio, feno dos pastos transmontanos – “só procuram o que é bom”, atira Irene – e de leite materno, já que, aqui, nunca são separados das mães. De acordo com a DGADR, “o uso de produtos que possam interferir no seu crescimento e desenvolvimento”, como hormonas ou antibióticos, está interdito. “Um cordeiro pequenino é muito mais saboroso.” Mas explicar o paladar pode ser desafiante. “Só provando. Isto é uma maravilha.” Mais suculenta, tenra e com menos gordura do que a carne de outros cordeiros, tem também uma carcaça mais leve. “A de outros cordeiros é maior e mais grossa”, dizem. O “pastoreio extensivo na maior parte do ano” leva os animais a apresentarem “um nível de gordura equilibrado na carne, músculo firme e um marmoreado uniforme de gordura”, sustenta a DGADR.
Cordeiro Bragançano DOP |
Uma Associação para preservar a raça
“A raça Churra Galega Bragançana é tão antiga como a história da pecuária de Trás-os-Montes. Os fatores que contribuiram para diferenciar a raça Churra Galega Bragançana da raça Churra Galega Mirandesa foram as diferenças nas condições agro-ecológicas que se verificam na Terra Fria Transmontana, nomeadamente entre a Montanha e o Planalto Mirandês. Foram os celtas que cruzaram as ovelhas autóctones com os carneiros que traziam, obtendo assim o primitivo tronco churro, do qual deriva também a raça Churra Galega Bragançana. É uma raça muito rústica e bem adaptada às condições geográficas e climatéricas da Terra Fria Transmontana”, lê-se no site da Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural.
Mas Manuel João Cubo garante que a raça “estava a acabar, estava tudo misturado” e foi a Associação Nacional de Criadores de Ovinos da Raça Churra Galega Bragançana (ACOB) que “pegou nisto” com o objetivo de preservar e valorizar a raça. Um dos objetivos da associação, entidade gestora do Livro Genealógico da Raça Ovina Churra Galega Bragançana Branca e Preta, é criar uma cooperativa de produtores de ovinos desta raça, essencial para a sua valorização. Nesse sentido, melhorar a posição dos agricultores na cadeia de valor, um dos objetivos da PAC para o período 2023-2027, é também fundamental.
Cordeiro Bragançano DOP |
Manuel e Irene criam maioritariamente churra galega branca, variedade de pele fina e untuosa que, segundo informações fornecidas pela ACOB, começou a ser registada em 1991. A churra galega preta, “outrora dominante”, foi reconhecida apenas em 2015 tendo quase desaparecido “em virtude da menor valorização das suas lãs”. No entanto, esse é, também, um problema atual, nomeadamente com as churras galegas brancas, desabafa Irene. “As lãs eram aproveitadas para cobertores, camisolas e meias, mas agora ninguém as quer”, não constituindo uma fonte de receita para os produtores.
A sustentabilidade social, ambiental e económica na agricultura e nas zonas rurais são linhas orientadoras da PAC - Política Agrícola Comum que, em Portugal, tem como objetivos principais valorizar a pequena e média agricultura, apostar na sustentabilidade do desenvolvimento rural, promover o investimento e o rejuvenescimento no setor agrícola a a transição climática no período 2023-2027.
“Da Terra à Mesa” é um projeto Boa Cama Boa Mesa que dá a conhecer os produtos portugueses a partir de histórias inspiradoras e de sucesso, desde a produção até ao consumidor, em casa ou no restaurante.
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