Por: Humberto Pinho da Silva
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
Na adolescência viajei por terras estranhas. Comprei casa, e casei. Nasceu uma menina. Minha mulher era dona de casa. Trabalhei para sustentar família e a filha estudar.
A casa degradou-se. As paredes ganharam humidade; o telhado deixou cair pingas, se a chuva apertava; as caleiras rotas, jorravam em catadupas. Resolvi fazer obras.
Após o casamento, nunca fui à Serra da Estrela, nem veraneei no Algarve; só realizei duas escapadelas, por um dia, a Espanha. Criei pé-de-meia.
Como disse restaurei a casa. A moradia que comprei em solteiro, transformou-se num lar moderno, confortável e bonito.
As obras duraram três meses. No final, vizinhos e amigos perguntaram-me: se fui bafejado pela sorte! - Lotaria ou Euro-milhões. Ninguém pensou que era o fruto de quarenta anos de trabalho (incluindo serviço militar,) apenas afirmavam que estava rico!
Durante as obras entabulei conversa com o encarregado. Entre outros assuntos " explicou-me" a razão por que precisávamos de imigrantes
No parecer do bom homem, que se intitulava " Mestre", e que mais tarde emigrou para a Bélgica – na esperança de vir a estabelecer-se, em Portugal, – a imigração é devido a facilidade de estudar:
- " Trabalhei – disse o "oficial" – desde os catorze anos; mas aos doze já ajudava o paizinho nos biscatos. Aprendi a "arte" e cheguei a " Mestre"; mas ganho pouco mais que o aprendiz! A empresa só sobe o salário mínimo!... Dizem que é de lei!
- " Ora diga-me o senhor: na idade deste moço – apontava para o aprendiz, – já alisava paredes, fazia canalizações, assentava mosaicos e azulejava…. Agora este rapaz nada sabe fazer...nem massa!... Conhece inglês e algum alemão, que aprendeu quando andava por lá... Os rapazes de agora têm vergonha desta profissão. Envergonham-se de ver colegas doutores e terem que trabalhar para eles. Preferem emigrar...
-” Outrora eram os nossos que partiam com a terceira ou quarta classe, para fazerem o que os franceses e alemães tinham vergonha de fazerem; agora são os africanos, asiáticos e os "americanos" que chegam para executarem o que os nossos não querem..."
Não comentei, nem comento. Registo.
A casa degradou-se. As paredes ganharam humidade; o telhado deixou cair pingas, se a chuva apertava; as caleiras rotas, jorravam em catadupas. Resolvi fazer obras.
Após o casamento, nunca fui à Serra da Estrela, nem veraneei no Algarve; só realizei duas escapadelas, por um dia, a Espanha. Criei pé-de-meia.
Como disse restaurei a casa. A moradia que comprei em solteiro, transformou-se num lar moderno, confortável e bonito.
As obras duraram três meses. No final, vizinhos e amigos perguntaram-me: se fui bafejado pela sorte! - Lotaria ou Euro-milhões. Ninguém pensou que era o fruto de quarenta anos de trabalho (incluindo serviço militar,) apenas afirmavam que estava rico!
Durante as obras entabulei conversa com o encarregado. Entre outros assuntos " explicou-me" a razão por que precisávamos de imigrantes
No parecer do bom homem, que se intitulava " Mestre", e que mais tarde emigrou para a Bélgica – na esperança de vir a estabelecer-se, em Portugal, – a imigração é devido a facilidade de estudar:
- " Trabalhei – disse o "oficial" – desde os catorze anos; mas aos doze já ajudava o paizinho nos biscatos. Aprendi a "arte" e cheguei a " Mestre"; mas ganho pouco mais que o aprendiz! A empresa só sobe o salário mínimo!... Dizem que é de lei!
- " Ora diga-me o senhor: na idade deste moço – apontava para o aprendiz, – já alisava paredes, fazia canalizações, assentava mosaicos e azulejava…. Agora este rapaz nada sabe fazer...nem massa!... Conhece inglês e algum alemão, que aprendeu quando andava por lá... Os rapazes de agora têm vergonha desta profissão. Envergonham-se de ver colegas doutores e terem que trabalhar para eles. Preferem emigrar...
-” Outrora eram os nossos que partiam com a terceira ou quarta classe, para fazerem o que os franceses e alemães tinham vergonha de fazerem; agora são os africanos, asiáticos e os "americanos" que chegam para executarem o que os nossos não querem..."
Não comentei, nem comento. Registo.
Humberto Pinho da Silva nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG” e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".
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