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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 15 de dezembro de 2024

Bragança Estava Coberta de Neve...

 
Chegámos a Bragança de comboio numa fria noite de Dezembro muito perto do Natal. Estava a nevar quando chegámos à estação de caminhos-de-ferro.
Durante uns meses fomos viver para uma pensão. A pensão Rucha onde até o pão era fabricado ali diariamente num forno a lenha…
Depois fomos viver para a casa do Sr. Ramos, honrado Guarda Fiscal, na hoje chamada zona histórica mas que na altura era a Costa Grande. A Caixa de Previdência estava a fazer um bairro lá para a saída de Vinhais…como era diferente a noção das distâncias.
A placa identificadora dos limites da cidade estava situada no “pardão”, um muro em pedra que ficava no fim da rua do Loreto junto à Igreja. Uns anos depois a placa foi colocada em frente da escola das Beatas. Depois passou para junto do actual campo de futebol. Posteriormente deslocaram-na para perto da linha do comboio que passava na antiga padaria perto da casa dos cantoneiros na estrada de Vinhais. Depois “saltou” para perto da antiga lixeira…agora nem sei se ainda há placa. A cidade de Bragança começava a crescer envergonhada, desordenadamente e sem planeamento mas, a crescer.
Só em pleno séc. XXI, foi aprovado o controverso Plano de Urbanização de Bragança.
Um dia, da janela do meu quarto, vi o arco-íris incidir mesmo em cima da placa…e, corri como um louco para ser o primeiro a agarrar o pote cheio de ouro.
Não me lembra se ainda acreditava no Pai Natal, mas no pote de ouro, na ponta do arco íris, deixei de acreditar. O ouro não estava lá e eu tinha a certeza que tinha sido o primeiro a chegar.
O Bairro da Previdência já estava localizado fora dos limites da cidade. Transportámos os poucos pertences a pé pelo caminho de além do rio. Um colchão de palha foi uma trabalheira para mim e para a minha irmã. Eu baixote e ela bem mais alta, eu uma criança e ela uma mulherzinha…senti-me abafado muitas vezes com o colchão à cabeça e, algumas vezes, fiquei estirado no chão com o colchão em cima de mim. As viagens repetiram-se durante uma infindável semana. Só metíamos mãos à mudança durante a noite, depois do meu pai sair do emprego…era Inverno outra vez…e o meu primeiro Inverno no Bairro da Previdência.
Na primeira noite que passámos na nova casa só ficámos eu e a minha Mãe. A Emissora Nacional, transmitia o relato de um jogo de hóquei em patins da selecção nacional. Mais uma goleada das antigas, que eram sempre expressivas, contra o Japão. Só a vizinha Espanha nos fazia frente. Era um golo em cada dois minutos. A minha irmã tinha acompanhado o meu pai que fazia umas escritas à noite para ajudar a “aconchegar” o orçamento familiar para o qual ele era o único contribuinte. Depois, passei eu a acompanhar o meu Pai porque na taberna da Flor da Ponte apareceu uma mesa de “bonecos”. O meu Pai tratava da papelada do Sr. Joaquim e o Sr. Joaquim, lá me ia deixando dar uns chutos no esférico. A minha Mãe é que não gostava muito da brincadeira porque eu chegava a casa com a roupa e as mãos cheias do óleo que servia para lubrificar os varões de ferro dos matraquilhos. Eu não tinha culpa de mal chegar à mesa.
Adaptei-me rapidamente e esta passou a ser e será sempre, a minha terra. A minha irmã, ao invés, nunca se adaptou, habituada que estava ao reboliço da grande cidade. Logo que teve possibilidades, regressou a Lisboa onde ainda se mantém.
Do novo bairro e da nova casa, arrendada por 400$00 ao mês (o meu Pai ganhava ao tempo, cerca de 800$00 por mês), já me lembra de tudo ou de quase tudo. Muitas marcas ainda hoje se mantêm no meu corpo, nomeadamente ao nível dos joelhos. Não havia ruas nem passeios…só pedras. Era cada trambolhão mal punha o pé na rua.
Estava quase a ser concluída a escola das Beatas que ficava a 5 metros do meu quintal.
Com os novos moradores do bairro fazia os meus novos amigos. O Nuno, o Paulo, O Tozé, o César, O Figueiredo, O Tó e tantos mais. E para ajudar à festa no Bairro de Sta. Isabel, ali ao lado, viviam famílias numerosas, onde uma arroba de batatas apenas dava para uma refeição. Poucos eram os casais que tinham menos de 5 ou 6 filhos.
Era uma fartura de tudo e sobretudo de amizade que ainda hoje perdura! Não era necessário “contratar” ninguém de fora. Fazíamos 4 ou 5 equipas de futebol.

Obs* Na foto. Eu e a minha Irmã Ana Maria há 63 anos... em vésperas do Natal.

HM

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