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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

Caretos de Podence: da aldeia para o mundo. Uma tradição que promete ficar eterna

 Os Caretos de Podence este sábado sopraram as velas dos seus 5 anos do reconhecimento como Património Cultural Imaterial da Humanidade da UNESCO, na aldeia onde esta tradição é tão genuína e ainda não morreu, no concelho de Macedo de Cavaleiros.


A tradição cada vez está mais viva e vai perdurar eternamente, como destaca Cecília Reis, de 70 anos, que desde os 13 anos se veste de Careto:

Esta tradição cada vez está mais viva. Sabe que já tenho 70 anos e agora vou-me vestir de careto até morrer. Vesti-me pela primeira vez aos 13 anos. Fui achocalhada. Fui molestada por um careto. E o meu pai, na altura disse-me agora veste-te de careto, que ninguém toca em ti. E eu dei umas “pauladas” a um careto que me tratou mal. Antigamente, os caretos eram muito maus, nas suas tropelias. Quando tinham objetivos queriam chocalhar a dama querida. E faziam de tudo. Subiam aos telhados, partiam janelas e rebentavam portas. Ia tudo à frente deles e valia tudo.

A origem da tradição desconhecida, é um misto de elementos pagãos, profanos, mágicos com o religioso, e quando se veste de careto, sente uma energia que não sabe de onde vem, como acrescenta:

Nós já não sabemos a origem dos caretos. É uma tradição muito antiga. Prevê-se que tenham origem das invasões dos povos celtas. Isto era um misto de profano com o religioso. As caretas quase todas têm uma cruz que era para atrair a fertilidade. O paganismo fomentava a fecundidade. E depois juntou-se o profano, com o religioso. Quando me visto de careto, ficou com uma energia, que não sei de onde me vem.

A tradição das festas dos rapazes, moços vestidos com trajes coloridos à solta, repletos de chocalhos, numa aldeia que apenas conta com 200 habitantes. Mas é desta pequena aldeia que a tradição já dá caras em todo o mundo que é amplamente reconhecida, muito em parte ao trabalho desenvolvido de António Carneiro, presidente da Associação Caretos de Podence, que sempre foi o entusiasta para a tradição não morrer. Chegar aqui significa muito:

Significa um marco muito importante para os Caretos de Podence e para a aldeia. Cinco anos, após o reconhecimento de Património Cultural Imaterial da Humanidade da UNESCO, o Entrudo Chocalheiro. É para nós uma grande alegria continuar com esta dinâmica, que os Caretos de Podence têm, desde 2019. Vamos continuar com esta dinâmica e preservar esta tradição. Os Caretos de Podence hoje são uma marca nacional reconhecida, não só em Portugal, mas também no mundo.

Hoje fizemos a inauguração da Oficina dos Caretos que é uma forma também dos mais jovens, se interessarem por fazer máscaras e os trajes. Considero que é bom para Trás-os-Montes, que cada vez tem menos gente. São estas dinâmicas de um património que esteve quase perdido. E que hoje é uma tradição viva e identidade desta região.

Confessa que o percurso não foi fácil:

Como tudo na vida, as coisas fáceis, não têm sabor. Mas esta saga foi muito grande e continua a ser. Somos resilientes, continuamos a lutar e é uma grande paixão e alegria, porque é isso que os caretos transmitem.


Com o revivar dos Caretos de Podence, a aldeia é cada vez mais visitada por turistas. No âmbito da cerimónia dos cinco anos, também foi inaugurada a Oficina do Careto, que contou com a presença de Luís Pedro Martins, presidente do Turismo Porto e Norte, que evidenciou que preservar a memória e a transmissão da tradição é muito importante:

Estamos a permitir que as novas gerações, possam vir aqui entrar em contacto com este património, possam experimenta-lo nesta oficina que é agora inaugurada e que possam levar daqui esta memória, e replicar esta tradição. O que estamos a fazer é manter este património vivo, durante muitas gerações. Por isso é que eu disse que têm sido muito importante a promoção externa que temos realizados com os Caretos, como por exemplo, leva-los para o Brasil, para as nossas lojas de turismo, entre muitas outras ações. Mas de facto, este momento, ultrapassa qualquer outro, que é fazer com que haja transmissão da tradição entre os jovens.

O turismo é uma grande aposta e cada vez mais há unidades hoteleiras, como referenciou Benjamim Rodrigues, presidente da câmara Municipal de Macedo de Cavaleiros:

As unidades hoteleiras continuam a proliferar. Isto é um sinal que há progresso, que está ligado a este reconhecimento, e a esta projeção internacional. E já é um turismo de ano inteiro, não sendo sazonal, nem só do carnaval. As pessoas procuram o Entrudo Chocalheiro, não só no verão. Os caretos são imagem de marca. E de facto, o concelho de Macedo conseguiu notar esse progresso e esse crescimento económico ligado ao turismo.

Também foi inaugurada a exposição fotográfica “Behind the Mask” da autoria de Rui Rodrigues, de 25 anos.

Atrás da máscara pode se ver a tradição, conta o autor:

Conta a tradição do que é ser careto, como nasce e retrata todo o processo, desde o fato até aos dias do entrudo. Sou careto há cerca de 5 a 6 anos. Comecei quando vim falar com o António para usar a imagem dos Caretos neste trabalho e ele apoiou desde logo a iniciativa e foi aí que me convidou para vestir pela primeira vez o facto, que até foi numa saída á Covilhã. Foi aí que eu percebi como tinha de agir, para tirar as fotografias. Porque uma pessoa quando veste o fato, percebe o que um careto faz.

Foi realizada a apresentação do livro “Ser Careto Caminhada Rumo à UNESCO”, da autoria de António Carneiro, um livro de diversas memórias, que conta a aventura do renascer desta cultura, com prefácio de Marcelo Rebelo de Sousa e ainda com 31 testemunhos de diversas personalidades.

Houve ainda tempo para mostrar mais uma parceria, desta vez no chocolate, com a empresa “Avianense”, e ainda um momento de poesia, com o momento “Uma carta para ti”, e a apresentação do livro “O Crepitar da Terracota”, mas sem antes cortar o bolo dos cinco anos, com assinatura do chefe Eurico Castro.

Escrito por Rádio ONDA LIVRE

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