Michel Monteiro revela que a primeira fase deste plano já tinha sido executada no passado mês de novembro, depois de a DGAV ter detetado algumas inconformidades e que também forçou à suspensão da atividade por alguns dias. “Decidimos avançar com a segunda fase, apenas neste período, para salvaguardar os maiores picos de procura dos serviços do matadouro, que é o mês de dezembro, época natalícia”, acrescenta.
A DGAV aponta a degradação daquela estrutura como consequência da falta de manutenção, como o principal problema a debelar para poder continuar a exercer a atividade de abate de animais. “O matadouro já tem 39 anos de existência e como qualquer unidade é sujeita a desgaste e tem de haver intervenção, para manter e conservar a unidade e infelizmente para estas manutenções correrem bem é necessário que se faça a suspensão do abate”, diz Michel Monteiro.
Na primeira fase, já tinha sido realizada uma intervenção no piso da linha de abate. “Nesta segunda fase, estamos a intervir nas restantes áreas do matadouro e proceder à substituição dos tubos de água que pelo tempo de vida que já têm, começam a ter alguns pontos de ferrugem e aproveitamos também para recordar alguns conceitos e sensibilizar os colaboradores algumas boas práticas, quer no abate, quer na higienização dos equipamentos, até porque a formação é obrigatória”, sublinha o administrador do MIC que tem linhas de abate de pequenos ruminantes, bovinos e suínos.
Michel Monteiro admite que esta situação “cria bastantes constrangimentos aos nossos clientes, como à própria empresa, mas se quisermos manter os níveis de qualidade que são exigidos nesta área alimentar, não há outra alternativa senão fazer aquilo que entendemos que deva ser feito para termos as coisas operacionais e em bom funcionamento”, adianta.
O plano de manutenção da estrutura e dos equipamentos implica um investimento de 17 mil euros e Michel Monteiro acredita que no final da próxima semana já será possível reabrir o matadouro. “Estamos dependentes de alguns prestadores de serviços, mas uma boa parte das obras e da manutenção que está também a ser realizada com recurso aos próprios colaboradores do matadouro. De qualquer modo, entendo que, no final da próxima semana estamos em condições de reabrir. É uma estimativa”, ressalva.
ASAE TINHA SUSPENDIDO A ATIVIDADE DO MIC HÁ SEIS ANOS
Já em 20 de dezembro de 2018, a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) suspendeu a atividade das linhas de abate de bovinos e pequenos ruminantes do Matadouro Industrial do Cachão, deixando apenas a funcionar a linha de abate de suínos, na sequência de uma operação de fiscalização, alegando que na base da decisão estava a degradação da estrutura como consequência da falta de manutenção.
O relatório da inspeção da ASAE apontava “causas estruturais relacionadas com a antiguidade da infraestrutura, como a pintura, os tetos e o chão” daquelas linhas de abate. Já quanto à rastreabilidade e conformidade documental, estava tudo correto.
Esta suspensão foi válida até que fossem efetuadas as medidas corretivas exigidas pela ASAE. Depois das necessárias obras de requalificação, as unidades de abate foram reabertas no dia 18 de fevereiro de 2019.
HISTORIAL DE CONSTANTES PROBLEMAS FINANCEIROS
O MIC pertence à Agro-Industrial do Nordeste, cujas entidades detentoras são os municípios de Mirandela e Vila Flor que adquiriram a unidade de abate, em 2005, por 450 mil euros, à PEC Nordeste, numa altura em que o Estado procurou desfazer-se do negócio da carne.
Já nessa altura estava a verificar-se uma diminuição da atividade, provocada pelo aumento do consumo na região de carne importada, nomeadamente de Espanha, da instalação de grandes superfícies comerciais na região que se abastecem a partir de centrais de compras em detrimento do mercado regional, mas sobretudo porque entraram em funcionamento unidades de abate em Vinhais, Bragança e Miranda do Douro.
A situação financeira do matadouro degradou-se ainda mais nos anos seguintes, levando a que, em 2012, a administração chegou a acordo com cerca de metade dos 44 funcionários para a rescisão do contrato e gradualmente negociar e obter acordos de pagamento com os credores.
Atualmente, o MIC tem 23 funcionários, mas, para que a unidade seja minimamente sustentável, cada município financia, anualmente, a unidade para cobrir os prejuízos. Em 2024, a verba rondou os 200 mil euros, repartida pelas câmaras de Mirandela e Vila Flor.
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