“É preciso ir pondo lenha no forno para ir aquecendo. Vai aquecendo enquanto eu vou fingindo e depois está a levedar um bocadinho enquanto o forno acaba de arrojar. Depois de estar arrojo, mete-se. Em nome do pai, do filho do Espirito Santo. São João te faça bom pão, São Vicente te acrescente no forno e no mundo todo”.
Massa fingida. Forno Quente. Reza feita. Agora é esperar cerca de uma hora e aguentar a água na boca. São 30 pães feitos de forma tradicional, num forno a lenha, por Ana Maria Ramalho. Foi padeira durante mais de duas décadas. Tudo começou numa brincadeira. “Eu tinha vindo de França e estava com uma senhora que tinha uma taberna e essa senhora diz-me ‘tu tens tanta genica, tu podias ser padeira’ e eu disse-lhe ‘dá-me cada emprego’ e ela diz-me ‘experimenta, tenho aqui a taberna e ajudo-te a vender o pão’. Comecei naquela brincadeira até que tive dias de cozer quatro vezes, cada vez 30 pães”, contou.
Agora com 72 anos, a coluna já não lhe deixa seguir esta vida. Ainda se vê entre a farinha e o forno, mas apenas para consumo próprio. Fazer pão dá muito trabalho, mas a idosa diz que o segredo está no jeito. “É mais o jeito, o jeitinho e o amor em fazer este trabalho. Isto não é à força, isto é com jeito. O trabalho é cansativo. É por isso que o meu marido não me deixa cozer e eu digo-lhe que enquanto eu viver quero comer pão que eu coza”, afirmou.
Os curiosos foram aproximando-se para ver a mestre trabalhar. Fátima Marques foi uma delas. É de Tondela e veio passar o fim de semana à região. Quando soube da feira e que ia haver confeção de pão não quis faltar. Fez várias perguntas e ficou impressionada com algumas respostas. “Tenho alguma admiração por quem o faz de forma tradicional, é sempre interessante ter essa informação de quem é mestre. Ao bocadinho estava a perguntar se o pão ficava recesso, de um dia para o outro, e disseram-me que não, que aguenta uma semana e isso foi uma admiração para mim”, disse.
Além da venda de pão, na feira não faltaram outros produtos da região e até de fora, como foi o caso do queijo da Serra da Estrela.
A Feira do Pão de Caçarelhos tem vindo a crescer de ano para ano. Este ano contou com mais de 200 gaiteiros e o número de expositores também aumentou. O presidente da União das Freguesias de Caçarelhos e Angueira, Licínio Martins, admite que o espaço já é pequeno. “Temos vindo a tentar expandir um bocadinho com a construção do pavilhão multiusos, que nos veio dar uma valência diferente, mas é verdade que toda a gente se começa a queixar da falta de espaço e no que toca a expositores, este ano, tivemos de recusar muitos expositores”, referiu.
A 23ª Feira do Pão de Caçarelhos aconteceu sábado e domingo, com venda de produtos, festival de gaiteiros, desfile de folclore, mas também chega de touros e vários concertos.
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