Portugal, Bragança, Freixo de Espada-à-Cinta, Freixo de Espada-à-Cinta
Arquitectura militar, medieval e manuelina. Castelo implantado em cabeço, constituído por barbacã e castelejo de planta ovalada, de que só restam alguns trechos e uma torre heptagonal coroada por matacães e rematada por merlões biselados, outrora integrada no circuito muralhado do castelejo. O tipo de implantação e de organização do povoado revela um padrão semelhante aos castelos de Mós (v. PT010409130005), Urrós e Alva (v. PT010404060006).
Número IPA Antigo: PT010404020002
Categoria
Monumento
Descrição
Do castelejo conservam-se apenas alguns troços da muralha, de perceptível planta ovalada, quase circular, que actualmente constitui a cerca do cemitério, e a Torre do Galo, adossada a um dos troços, do lado O., de planta heptagonal, verticalista, com c. 25 metros de altura (correspondente a primitiva torre octogonal, de grande altura, que se localizava à esq. da entrada do castelejo e que possuía um dos pisos abobadados). As sete faces da torre são todas de larguras diferentes, variando entre os 5 e os 8 m. (face E.); na face NE., em plano elevado, abre-se uma porta em arco quebrado, descentrada, a que se acede por escada de 2 lanços opostos; no terço superior quatro faces são vazadas por frestas muito estreitas, nem sempre alinhadas no
mesmo plano e descentradas; na face O. pedra de armas com brasão da vila (um freixo entre duas espadas) e dois escudos nacionais; o remate é feito por balcão corrido sobre cachorrada de modilhões trilobados, inferiormente filetado e coroado por merlões paralelepipédicos, interrompido do lado SE. onde, a meio, apenas existe a marcação de um friso; do lado O. o balcão possui uma gárgula. Sobre o terraço da cobertura um campanário quadrangular, com pilastras nos cunhais providas de gárgulas de canhão e rematadas por pináculos; 3 faces são rasgadas por sineiras singulares e dupla na face N., todas em arco pleno; remate em pináculo tronco-piramidal, com relógio e grimpa de ferro. INTERIOR: com três pisos hexagonais abobadados, ligados por escada desenvolvida no interior da caixa murária, formando caracol no cunhal NE..
Acessos
Largo da Igreja, Rua D. Dinis, com acesso pela zona mais antiga da vila, por ruas muito estreitas, sendo aconselhável efectuar o percurso a pé
Protecção
MN - Monumento Nacional, Decreto de 16-06-1910, DG n.º 136 de 23 junho 1910 / ZEP, Portaria, DG, 2.ª série, n.º 19 de 23 janeiro 1953
Grau
1 – imóvel ou conjunto com valor excepcional, cujas características deverão ser integralmente preservadas. Incluem-se neste grupo, com excepções, os objectos edificados classificados como Monumento Nacional.
Enquadramento
Urbano. Torre destacada, em plano elevado, integrada no centro histórico, erguendo-se a N. da Igreja Matriz (v. PT010404020001); um pouco mais distanciada, a O., a Igreja da Misericórdia (v. PT010404020004). O primitivo espaço intra-muros do castelo é ocupado pelo cemitério, reaproveitando as fundações da muralha dionisina, arruinada.
Descrição Complementar
Utilização Inicial
Militar: castelo
Utilização Actual
Marco histórico-cultural / Cultural: museu (na torre existe uma maqueta do Castelo e plantas da torre)
Propriedade
Pública: estatal
Afectação
Sem afectação
Época Construção
Séc. 14 / 16 / 17 / 18 / 20
Arquitecto / Construtor / Autor
MESTRES DE OBRAS: Pêro Lopes; António Fernandes.
Cronologia
1152 - Foral concedido por D. Afonso Henriques, referindo a povoação como "Fresno", e transformando a vila em couto de homiziados; 1212 / 1213 - Ocupação leonesa; 1236, anterior a - D. Sancho II doa Alva (v. 0404060006) ao Concelho de Freixo como sua aldeia, mandando expulsar daquele lugar os habitantes que aí moravam após a ocupação leonesa; 1246 - Foral de D. Afonso II, confirmando a vila como couto de homiziados; 1258 - As Inquirições referem que D. Sancho II havia dado a povoação de Alva por termo à vila de Freixo e que a Igreja de São Miguel dava duas partes da renda para o Concelho para as obras do castelo; o mesmo rei concedia-lhe também o lugar fortificado de Urrós, que estava ermo, por temer que pudesse ser ocupado pelo reino vizinho; 1273 - Foral concedido por D. Afonso III; séc. 14 - Segundo Rui de Pina D. Dinis "povoou de novo e fez" o castelo de Freixo; 1342 - Os freixonitas pedem a D. Afonso IV a aplicação da "terça" da Igreja Matriz às obras de conclusão do castelo; 1376 - Carta de D. Fernando que refere a construção de "hum apartamento da alcaçere" que o rei mandara fazer em Freixo; uma outra carta determina que as aldeias de Urrós e de Maçores deixassem de prestar a adua para reparação das fortificações da vila do Freixo e passassem a servir nas obras da vila de Torre de Moncorvo (v. 0409160004); 1381 - Doação da vila a Fernão Afonso, senhor de Valença; 1383 - Obras de beneficiação no castelo; 1406 - Privilégios concedidos à vila por D. João I, em agradecimento pelo apoio concedido na crise de 1383-1385; 1509 / 1510 - Os desenhos de Duarte D'Armas mostram o castelo com barbacã circular com entrada a O. por grande arco pleno aberto num corpo saliente encimado por matacães; os panos de muralha voltados a S. eram rematados por merlões paralelepipédicos, excepto do lado N.(semi-arruinado), onde se localizava uma porta falsa em arco pleno num ressalto da muralha, à esq., e outra porta em arco pleno, à dir.; do lado S., à dir. da entrada, um cubelo cilíndrico com duas ordens de bombardeiras cruciformes, sem merlões e internamente abobadado; o castelejo, igualmente circular, é circundado por várias torres e cubelos de altimetrias e formas diferenciadas: no extremo E., junto da porta falsa uma torre quadrangular de 2 pisos, coberta por telhado a 4 águas, com
2 pequenas janelas a N.e outra a S. e um balcão com matacães, havendo outros dois a coroar o pano de muralha ameiado que faz ligação à torre de menagem, mais alta, igualmente quadrangular, vazada por uma fresta em cada face, rematada por merlões biselados e acantonada por 3 balcões com matacães, dizendo a legenda que tem 4 pisos e o último é abobadado; seguia-se outra torre mais baixa, pentagonal, coroada por matacães; à dir. da porta principal um cubelo hexagonal com balcão de matacães e encimada por 2 campanários rematados por cruzes de ferro, um com dois sinos e outro com um "que se chama d'El-Rei"; à esq. desta uma torre muito alta, octogonal *2, com uma fresta em cada face, iluminado a meio uma sala abobadada, e coroamento de matacães com remate de merlões biselados; do lado N. um cubelo hexagonal, seguindo-se outro semi-cilíndrico, um ressalto rectangular e de novo um cubelo hexagonal com balcão de matacães e remate de merlões biselados, com uma sala abobadada, e, a meio do pano de muralha que liga à torre extrema outro balcão com matacães; no pátio existiam duas cisternas; no exterior, a O. do castelo, estendia-se o casario da vila, sobressaindo a E. a Igreja Matriz, com portal manuelino (v. 0404020001), a O. a igreja de Santa Maria de Vilar e um pouco mais longe, a N. a capela de São Brás; a E. localizava-se o arrabalde e pela encosta do mesmo lado estendiam-se terrenos cultivados, avistando-se ao fundo o rio Douro e na outra margem o castelo castelhano de "Vilibestre; 1512 - D. Manuel concede novo foral; 1513 - Obras no castelo, onde trabalhava o mestre pedreiro biscainho, Pêro Lopes; 1527 / 1532 - Segundo o "Numeramento", a vila possuia um "bõo castello, forte, cerqado, omde nam uyve mais que o alcayde" e tinha 447 fogos; 1569 - O mestre António Fernandes executa obras no castelo por ordem do monarca; 1758 - A guarnição da praça-forte compunha-se de um tenente e doze homens; séc. 17 / 18 - Provável construção do campanário sobre a torre do Galo; 1800 - O castelo ainda estava em bom estado; 1836 - O recinto do castelo passa a ser usado como cemitério municipal, sendo o primeiro enterramento efectuado em 8 Julho; séc. 20 - Escavações na torre revelam que não possuía masmorra ou dependência no piso inferior, que constituía apenas o embasamento; 1972 - Proposta a remoção do cemitério do interior do recinto muralhado; 1983 - A torre encontra-se em avançado estado de degradação e foi alvo de um estudo por parte do "Grupo da Pedra" e análises laboratoriais realizadas pelo INIC.
Características Particulares
A original torre heptagonal resulta de uma modificação da primitiva torre octogonal, que Duarte de Armas regista junto à entrada do castelejo.
Dados Técnicos
Estrutura autoportante
Materiais
Torre: Cantarias e alvenaria de granito claro, de aparelho "opus vittatum"; guardas da escada de alvenaria mista rebocada; porta de madeira; sinos de bronze. Troços de muralha: alvenaria de xisto e granito.
Bibliografia
VITERBO, Sousa, Dicionário Histórico e Documental dos Architectos, Engenheiros e Construtores Portugueses ou ao serviço de Portugal, vol. I, Lisboa, 1899; GIL, Júlio, Os Mais Belos Castelos e Fortalezas de Portugal, Lisboa, 1986; ARMAS, Duarte de, Livro das Fortalezas, Lisboa, 1990; ALVES, Francisco Manuel, Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança, Bragança, 1990; CASTRO, Elda de, RODRIGUES, J. Delgado, Estudos Relativos à Alteração e Restauro da Torre de Freixo de Espada-à-Cinta (Estudo realizado para a DGEMN), Lisboa, L.N.E.C., 1884; BARROCA, Mário Jorge, D. Dinis e a arquitectura militar portuguesa, in Revista da Faculdade de Letras. História, II série, vol. XV-1, Porto, 1998, pp. 801-822; PINTADO, Francisco António, De Freixo, a Freixo de Espada-à-Cinta, Freixo de Espada à Cinta, 1992; PINTADO, Francisco António, O Castelo de Freixo de Espada-à-Cinta, Freixo de Espada-à-Cinta, 1992; LIMA, Alexandra Cerveira Pinto S. [coord.], Terras do Coa / da Malcata ao Reboredo. Os Valores do Côa, Maia, 1998~; VERDELHO, Pedro, Roteiro dos Castelos de Trás-os-Montes, Chaves, 2000; PINTADO, Francisco António, Santa Casa da Misericórdia de Freixo de Espada à Cinta, Freixo de Espada à Cinta, 2001.
Documentação Gráfica
IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMN
Documentação Fotográfica
IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMN
Documentação Administrativa
IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMN; IAN/TT, Chancelaria de D. Manuel, Legitimações, Liv. 1, fl. 279.
Intervenção Realizada
DGEMN: 1940 - Execução de parapeito e merlões de cantaria apicoada na torre; lageamento do pavimento do adarve; revestimento de alvenaria rebocada; demolição de degraus em mau estado e colocação de novos degarus de cantaria; 1941 - Limpeza das muralhas e tomada de juntas; reconstrução de paredes de muralha com aproveitamento da pedra existente; 1942 - Beneficiação nas muralhas; 1970 / 1973 - Demolição de 13 edifícios para desafogo da torre, arranjo do acesso e arruamentos, ajardinamento e valorização da envolvente; 1973 e 1978 - Demolição de 4 edifícios para regularização do terreno e arranjo da zona de acesso; 1980 - Trabalhos de conservação da torre: recalçamentos, tomação de
juntas, substituição de cantarias e colocação de pavimento de tijoleira no piso intremédio da torre; 1982 - Beneficiação de troços de muralha e dos acessos: colocação de alvenarias de pedra granítica nas guardas da escada e de lagedo em passeio e degraus de acesso, calçada à portuguesa; consolidação de paramentos, aplicação de alvenarias de xisto nos troços de respaldo das muralhas; 1983 - Substituição de alvenarias de pedra à fiada por pedra de granito da região de grão e textura homogénea idêndica à existente, originária das primitivas pedreiras da localidade; lavagem com água e escova das cantarias e aplicação de silicone em todas as fachadas; 1983 / 1984 - Conservação dos paramentos das fachadas com substituição de pedra deteriorada e beneficiação de vários troços de muralhas com recalçamento das fundações e bases dos paramentos, assentamento de alvenarias de xisto, refechamento de juntas, limpeza dos paramentos, levantar e respaldar uma parcela de paramento das muralhas; 1984 - Beneficiação da torre: tratamento de paredesd, arranjo de escadas, colocação de lajedos e de vitrais, ajardinamento da zona anexa à escada e instalação eléctrica; 1985 / 1987 - Consolidação e beneficiação das muralhas: escoramento das fundações, colocação de alvenaria de xisto para reforço e consolidação das fundações, levantamento e regularização do respaldo das muralhas e aplicação de alvenaria de xisto, limpeza de vegetação, extracção de raízes e tomação de juntas em profundidade; C. M.; FEDER: 2000 - Plano de intervenção na envolvente.
Observações
*1 - A C.M.F.E.C. pretende criar um roteiro cultural incluindo a Igreja Matriz, o Pelourinho, a Torre do Galo, o Centro de Artesanato e a Casa Junqueiro. *2 - De acordo com Mário Jorge Barroca a Torre do Galo, por ser a mais alta (com 22 varas enquanto a de menagem tinha 19), veio a assumir o papel da torre de menagem, segundo o princípio de "comandamento".
Autor e Data
Ernesto Jana 1994 / Marisa Costa 2001 / Lina Oliveira 2005
in:monumentos.pt
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