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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Quando vires a pele da burra embarrada na figueira...

Quando vires a pele da burra embarrada na figueira,  já não fazes a sementeira!

É um provérbio transmontano. O povo usa-o para dizer que, quando as coisas começam a correr mal, o melhor é desistir a tempo. É a cultura popular na sua dimensão pragmática [e que lições poderiam tirar dela os atuais governantes, perante a obsessão de levar por diante compromissos absurdos que apenas conduzem ao descalabro...!]. Não menos curioso é que a origem deste provérbio está no conto popular “A mulher na pele da burra”, recolhido em Ferreira, Macedo de Cavaleiros:

            Conta-se que houve uma mulher numa aldeia do concelho de Macedo de Cavaleiros que era da raça do diabo. Era má e autoritária, e, por isso, não aceitava ordens de ninguém. Casou com um homem bom e humilde, e, como ele não mandava nada, acabou por morrer de desgosto. Depois, casou segunda vez, e, como o marido recebeu o mesmo trato, acabou da mesma maneira. A fama da mulher correu de tal forma, que, para arranjar terceiro marido, foi um cabo dos trabalhos. Mas como era pessoa de teres, lá lhe apareceu um duma terra vizinha. E logo o avisaram:
            – Ó pobrezinho, que triste sorte! Só te espera a morte!
            Mas ele não se importou. Não era como os outros. Determinaram o casamento, casaram, e ela, logo no primeiro dia, preparou-se para lhe fazer a vida negra. Dizia-lhe isto, dizia-lhe aquilo... só que a ele entrava-lhe por um ouvido e saía-lhe por outro. No segundo dia, foram para o campo. E ele então ordenou-lhe:
            – Arranca essas estevas, mata a burra e tira-lhe a pele!
            – Bô?! – diz ela – Quem faz isso és tu, pois quem manda sou eu!
            O homem pegou no rabo de uma sachola, e já não precisou de lhe dar a ordem segunda vez. Ela vai, e faz o que ele pediu. E depois do trabalho feito, o homem pegou na mulher, meteu-a na pele da burra e coseu-a. A seguir, acendeu uma fogueira com as estevas e pôs lá a mulher a assar. E com um pau ia virando e perguntando:
            – Mandas tu, ou mandou eu?
           E ela:
            – Mando eu!
            – Ah, mulher do diabo! – diz o homem – Ranhosa e teimosa, é virá-la e assá-la!
            Depois de tantas viradelas, a mulher lá se rendeu. E quando ele perguntou:
            – Mandas tu, ou mando eu?
            Responde ela:
            – Mandas tu, homem! Mandas tu!
            E assim acabou o castigo. O homem descoseu-lhe a pele da burra e deixou-a sair. No dia seguinte foi à feira vender uma junta de bois, e, com o dinheiro, comprou uma guitarra. Os vizinhos, ao verem tal, ficaram muito admirados. E logo pensaram que, em chegando a casa, o esperava um arraial de pancada. Por isso ficaram à espreita. E qual não foi o espanto de todos, quando o viram chegar a casa, com a guitarra nas mãos, e a cantar:

            – Guitarra, minha guitarra,
            Guitarra, minha bandurra!
            E tu não esqueças, mulher,
            A pele da nossa burra!

            E, mal entrou, disse à mulher:
            – Olha, mulher, vendi os bois, e com o dinheiro comprei esta guitarra.
            – Fizeste bem, homem, fizeste bem!
            O povo, que estava à escuta, não precisou ouvir mais. Acabou ali a má fama da mulher.

(Bibliografia: PARAFITA, A. - Antologia de Contos Populares,
Vol. 2, Lisboa, Plátano Editora, 2002)

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