Terminou no dia 4 a segunda edição do Festival Literário de Bragança. Depois da abertura oficial, a 1 de junho, muita coisa aconteceu no Centro Cultural Municipal Adriano Moreira. Durante os quatro dias do evento, foram destacados vários géneros literários, entre os quais, a poesia, o romance, a crónica e o ensaio, muitas vezes interpretados por escritores e personalidades convidadas.
Ontem, pelas 21 horas, a cidade prestou o reconhecimento merecido ao ex-proprietário, falecido em 1972, de uma das mais importantes livrarias na segunda metade do século passado em Bragança, através da “homenagem do Encontro Livreiro a Mário Péricles da Cruz”.
No acontecimento cerimonioso e perante uma sala repleta, houve momentos musicais e recordou-se pela voz da família, um dos mais antigos livreiros da cidade.
“Em 1972, faleceu o meu sogro e alguém teria de arcar com essa responsabilidade”, começou por recordar o genro de Mário Péricles, referindo-se à livraria. “Quis o destino que fossemos nós e cá viemos para Bragança. Estávamos em Viana do Castelo, na altura, e tivemos a livraria até 2004”, contou Luís Machado, visivelmente nostálgico. A família do livreiro só abdicou dessa “responsabilidade” há 12 anos por motivos de saúde. “A principal causa foi a saúde precária da minha mulher que já tinha tido alguns problemas nos anos anteriores. A segunda, que também ajudou, foi um período em que fecharam centenas de livrarias em todo o país devido à crise económica que se fez sentir na altura”, explicou o homem que ainda esteve à frente da livraria durante 32 anos. “No início de 2000, abriram outros espaços, hipermercados, grandes livrarias como a Bertrand, que passaram a controlar o negócio na província e deixou de ser rentável”, assumiu Luís Machado, fazendo questão de salientar, no entanto, que o principal motivo que levou ao encerramento de uma das livrarias mais antigas da cidade foi mesmo o estado de saúde da sua esposa.
Depois da homenagem, o festival terminou com uma “Mesa de Debate”, moderada pela jornalista Teresa Sampaio e em que participaram Rentes de Carvalho e Sérgio Godinho.
Para além do município de Bragança, a organização do Festival Literário contou, ainda, com a Academia de Letras de Trás-os-Montes e o Encontro Livreiro de Trás-os-Montes e Alto-Douro.
“O Festival tem estado a correr bem, tem tido uma boa aceitação por parte das pessoas e, hoje, estamos no momento em que vamos fazer uma homenagem a uma pessoa que marcou o panorama cultural na cidade e que é uma homenagem promovida pelos livreiros e pela autarquia como forma de reconhecer o excelente trabalho que foi feito ao longo de muitos anos”, referiu o presidente da Câmara Municipal de Bragança, no último dia do evento, momentos antes do tributo a Mário Péricles ter início. Na opinião de Hernâni Dias, bem como na opinião de muitos dos presentes, a livraria brigantina foi, sem dúvida, “uma referência na cidade”.
Sobre Mário Péricles da Cruz
"Em 1938, Mário Péricles da Cruz, criou a Livraria Liz, que englobava as áreas de Livraria, Papelaria e encadernação. A personalidade amável, contemporizadora e solidária do fundador catapultou a Livraria para um plano diferente dos restantes estabelecimentos congéneres e depressa se colocou na vanguarda dos mesmos a nível da cidade e região.
Era um tempo em que a cidade de Bragança recebia os estudantes de quase todo o distrito, uma vez que não havia estabelecimentos de ensino de grau superior ao primário nos outros concelhos.
Acontecia também que a maioria das famílias tinha sérias dificuldades económicas que não lhes permitia a compra, a dinheiro, dos livros e demais material escolar. Consciente dessas dificuldades, Mário Péricles da Cruz, facilitava a sua aquisição a crédito, sendo os pagamentos efetuados de acordo com as possibilidades de cada família. Isso permitiu a muitos estudantes prosseguir os seus estudos, o que não teria acontecido sem as facilidades concedidas.
Tal comportamento empresarial, impossível nos dias de hoje, aliado a um comportamento exemplar como cidadão e às qualidades excecionais de bondade e simpatia, granjearam-lhe um prestígio social de grande relevo que foi aumentando com o passar dos anos.
A área de encadernação, foi entretanto abandonada, passando a ser exercida no Patronato, para onde transitaram os empregados colocados nesse serviço. As áreas mais desenvolvidas eram as de papelaria, livros e material escolar, sendo a vertente de livraria pouco desenvolvida, o que bem se compreende se atentarmos às condições sociais e políticas dessa época.
Mário Péricles da Cruz viria a falecer em 1972, passando a empresa a ser gerida por sua filha Maria Celeste da Cruz Machado, em colaboração com o seu marido Luís Emílio de Brito Machado, passando a intitular-se Livraria Mário Péricles da Cruz.
Nos primeiros tempos a orientação dos serviços prestados não sofreu grandes alterações, vindo, no entanto, a verificar-se uma grande viragem, com o desenvolvimento da vertente Livraria, tendo em conta a abertura política verificada, a instalação do ensino superior em Bragança e o aparecimento de estabelecimentos congéneres, mais virados para as áreas de papelaria, livros e material escolar.
Com o decorrer do tempo, a vertente Livraria foi de tal modo incrementada que, nessa área, era reconhecidamente a melhor Livraria de Trás os Montes e uma das boas livrarias do norte do país; com milhares de livros das mais diversas áreas do saber. A sua clientela era a mais diversificada, incluindo muitos espanhóis da Galiza e da região de Leão que aqui vinham procurar obras dos melhores autores portugueses.
in página de facebook "Amigos da Livraria Mário Péricles"
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