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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 31 de agosto de 2019

Notícias da aldeia

Por: Fernando Calado
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)
Construí a casa junto da velha oliveira. Uma oliveira como milhares de oliveiras que há na minha aldeia. Mas esta oliveira viu-me nascer, viu-me crescer e se tiver sorte talvez me veja morrer. Uma oliveira que está sempre na mesma, não muda, como se já tivesse entrado no grande portal da eternidade. Talvez tenha mil anos, ninguém sabe. À sua sombra descansou toda a aldeia, ao longo de tantos séculos. O casal de pintassilgos todos os anos regressa para construir o ninho na ramada mais alta. Quantas vezes subi à oliveira, para ver se o ninho já tinha ovos, se os pássaros já tinham pelo canhoto, até que um dia ganhavam asas e iam à sua vida.
- Quero ver se cais da oliveira e partes uma perna! Mas não caí, mãe… nunca parti uma perna e nunca tive a felicidade de toda a aldeia me perguntar: Então partiste uma perna?! Quem te mandou subir à oliveira?! Mas não. Só uma vez caí da parreira da tia Sara. E a culpa foi do primeiro vago de uva que pintava sempre na vide mais alta da parreira.
- Quando fiz a casa disseram os vizinhos: - Deite abaixo o diabo da oliveira que lhe assombra a casa!
Mas como podia deitar abaixo a oliveira?! E depois onde pernoitavam as memórias, onde o pintassilgo fazia o ninho, onde o porco-pisco exibia, todo vaidoso, o seu peito vermelho?!
Não, a oliveira ficou junto à janela do meu quarto e conversa comigo, demoradamente, em noites de lua cheia, ou quando o vento e a chuva me fazem companhia.
Só mais uma coisinha, talvez gostem de saber, a cegonha já regressou, o porco-pisco também. Ainda hoje veio almoçar as migalhas de pão que lhe deito no parapeito da janela.
… estão-me a tardar as andorinhas! Talvez tenham perdido a última embarcação! Mas hão de chegar, reconstruir o ninho e ornamentar de asas as longas tardes de verão da pequena aldeia no coração do nordeste.
Na verdade o paraíso existe!... feito de silêncios… de coisas simples e cumplicidades.


Fernando Calado nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança. 
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.

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