Numa altura em que se assinalam os 40 anos da criação do Parque Natural de Montesinho, antigos dirigentes da área protegida esperam que o modelo inicial do parque regresse e haja uma maior aproximação às populações, como afirmam que acontecia nos primeiros anos.
Carlos Guerra, que esteve à frente do Parque Natural de Montesinho entre 1993 e 1998, critica a filosofia de gestão dos últimos anos que levou ao afastamento dos residentes na área do parque e espera que o 40.º aniversário seja um ponto de viragem. “Espero que haja o regresso ao que eram os princípios e os valores que estiveram na génese da criação do PNM, a conservação da natureza, da paisagem, mas também um bom exemplo do que deve ser o desenvolvimento sustentável. O PNM tem uma área habitada que é do tamanho da ilha da Madeira e que tem muita gente a viver lá dentro e há diferentes categorias e usos do solo. Nos últimos anos, infelizmente, a política do ICNB e do ICNF correspondeu sobretudo a uma maior atenção sobre o que seria apenas os valores da conservação da natureza, a instituição afastou-se completamente da sua génese, que foi sempre uma gestão de uma forma muito articulada com as populações e trabalhando para o bem-estar das populações”, destacou.
Carlos Guerra considera que um parque não pode ser uma reserva natural e recorda que já houve tempos em que as populações que integram esta área protegida se identificavam com o PNM.
Dionísio Gonçalves também recorda os primeiros anos do parque como de convivência mais saudável dos habitantes com o parque e os seus dirigentes. O primeiro coordenador desta área protegida considera que foram as populações “os arquitectos do parque”.
Também para Dionísio Gonçalves, que foi coordenado do parque de 1979 a 1983 e ente 1986 e 1992, é preciso trabalhar para uma aproximação entre a direcção e as populações. “Segundo tenho conhecimento, as pessoas que vivem no parque sentem-se como que perseguidas. As equipas têm de andar em cima das populações, por causa das directivas, da poluição. Os objectivos da criação do PNM foram ajudar a que os arquitectos do parque, as pessoas que vivem cá e que construíram esta paisagem se pudessem manter e continuar a construir essa paisagem. Tem de haver uma ligação muito estreita entre as pessoas que vivem e os que têm de executar as tarefas de gestão”, afirmou.
O Parque Natural de Montesinho, que integra território dos concelhos de Bragança e Vinhais foi instituído a 30 de Agosto de 1979, num decreto lei que valorizava “a riqueza natural e paisagística do maciço montanhoso Montesinho - Coroa e os valiosos elementos culturais das comunidades humanas que ali se estabeleceram”.
Escrito por Brigantia
Jornalista: Olga Telo Cordeiro
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