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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 31 de agosto de 2019

DEVANEIO EM MANHÃ DE VERÃO

Por: Humberto Pinho da Silva
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
Caminho tranquilamente, passo a passo, para os oitenta anos, e estou numa esplanada, à beira-mar, olhando o manso ondear das águas, do imenso oceano.
Longe, vejo o mar verde – verde glauco, – beijando suavemente as areias morenas; e mais além: barcaça, embrulhada em alva e diáfana névoa, esfumando-se rumo ao horizonte.
Por cima de tudo, rebrilha, esplêndido céu azul; azul intenso e fresco.
A manhã é macia, quase sem brisa, convidativa a doce sonolência.
Lentamente…lentamente…muito lentamente, dentro de mim, languidamente, tudo se vai esvanecendo…
Apaga-se o leve murmúrio embalador do oceano; o sussurro alegre de vozes perdidas, e risos escangalhados de crianças brincando.
Fecho os olhos. Abre-se, na memória, saudoso recorte do passado. Estampado na retina, vejo: cândido rosto de menininha:
Tem faces trigueiras, cor de pão centeio, tostadinho; olhos fogosos e ternurosos; lábios vermelhinhos, cor de cereja, cheios de risos festivos; epiderme, acetinada, doirada, sedosa, fresca, cheia de Sol.
Era ela; a garotinha que abria a porta da casa, quando era menino e moço.
Lançava os frágeis bracitos, ao pescoço; circundava-me, a cinta, com as perninhas roliças e finas; e, com infantil gesto carinhoso, lambuzava-me, as faces, de doces beijinhos.
Beijinhos húmidos, salivados. Beijinhos acariciadores, imbuídos de palavrinhas ternas, de sincera e ingénua amizade.
Depois…depois, pelo sombrio corredor, corria, balanceando a farta cabeleira, apanhada em rabo-de-cavalo, avisando, alegremente, a minha inesperada visita.
A saudosa cena familiar, que aflorou, arrancada à gaveta da memória, nesta serena manhã de Verão, encheu-me, o coração de terna saudade; saudade do passado, que passou, de passado, para sempre, perdido…; mas, intensamente, ainda vive, dentro de mim.

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Numa tépida manhã de Maio, banhada de morna luz rosácea, parti… As lágrimas escorriam-me pelo rosto, mal escanhoado, e a voz, embargada de saudade, tremia, soluçando.
Acreditava que o amor platónico, não teria fim…Enganei-me. Até a conversa epistolar, extinguiu-se, como nuvem passageira…
Meio século, passou… Passou a juventude e as ilusões…e passou, também, a amizade…
Eu sei… eu sei (mas, queria não saber,) que a amizade, depende, quase sempre, da idade, e da posição social, que se ocupa, no tabuleiro do xadrez da vida…
Muitas vezes – para meu mal, – mergulho em melancólicos devaneios, recordando amorosos episódios do passado. Transformo-os, então, em letra de forma. Servem-me para refletir: nos enganos e desenganos, que tive ao longo da vida.
Sei, ao passa-los ao papel, que são motivo de riso e galhofa, para insensíveis, e para muitos e muitas, que conheci no meu triste peregrinar.
Revelar o que nos vai na alma, é puro desconchavo. É que quem não pensa com a maioria; de acordo com o desvario, que é moda, é: anátema ou bobo….

Humberto Pinho da Silva, nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA.Foi redactor do jornal: “Notícias de Gaia"” e actualmente é o responsável pelo blogue luso-brasileiro: " PAZ".

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