Conta a lenda que, pelo século VIII da era cristã, quando os Mouros dominavam ainda a Península Ibérica, por estas terras do Nordeste Transmontano, havia um mouro que se encontrava na fortaleza do monte Carrascal, onde é hoje o Santuário de Balsamão da freguesia de Chacim, concelho de Macedo de Cavaleiros.
Este mouro lançara um odioso tributo – o Tributo das Donzelas -que conseguiu impor aos povoados destas imediações. Consistia o nefando Tributo, em obrigar todas as donzelas, no dia do casamento, a irem passar a noite de núpcias, no leito do mouro poderoso e sensual.
Aconteceu que uma formosa donzela de Castro foi pretendida pelo filho do chefe dos «Cavaleiros das Esporas Doiradas» de Alfândega da Fé. A jovem honesta e digna recusava-se ao casamento, para não se sujeitar ao tributo das donzelas que o infame mouro do monte Carrascal exigia. O noivo garantiu-Ihe que o mouro não a obrigaria a prestar esse tributo, porque no dia do casamento mobilizaria os «Cavaleiros das Esporas Doiradas», para fazerem frente ao cruel e tirânico mouro.
Numa manhã radiosa, os noivos e muito povo dirigiram-se para a capela do Santo Cristo da Fraga, onde se realizariam os esponsais. Quando o cortejo regressava a casa dos pais da noiva, um possante e feroz mouro, cumprindo as ordens do Emir do monte Carrascal, raptou a Noiva e colocou-a no cavalo, sendo acompanhado por uma grande e terrível escolta de soldados mouros. Ainda não tinham chegado os «Cavaleiros das Esporas Doiradas» de Alfândega. Quando chegaram dirigiram-se para o monte Carrascal, seguindo à frente o noivo desorientado.
No sopé do monte Carrascal, travou-se um terrível combate, entre mouros deste monte e os cristãos de Castro, de Alfândega e de mais povoações circunvizinhas. No ardor do combate, apareceu no Céu, a imagem branca de Nossa Senhora, qual Divina Enfermeira, com um vaso de bálsamo na mão, a curar os cristãos feridos que, de novo, voltavam para o combate. O noivo conseguiu penetrar na alcova do cruel e tirânico mouro, o Emir, a quem decepou a cabeça. Ao seu encontro vem a sua querida esposa já desfalecida, mas ilesa do nefando tributo.
Deste acontecimento resultou o nome de Castro Vicente (em documentos antigos aparece com a designação de VENCENTE), pela vitória alcançada; Alfândega, nome de origem árabe (Alfandagh...) recebeu o nome de Alfândega da Fé.
A chacina dos mouros deu o nome a Chacim. Diz a tradição que a Capela-Mor do actual Santuário de Balsemão fora uma antiga Mesquita de mouros; assim como o Santuário do Santo Cristo da Fraga de Castro Vicente sobranceiro ao rio Sabor, fora também uma Mesquita de mouros que tinha sido conquistada pelos Cristãos, na época histórica da reconquista, e onde se tinha realizado o casamento da donzela de que nos fala a Lenda de Castro Vicente.
RECOLHA (1985) de António Neto Pinto – Castro Vicente
FICHA TÉCNICA:
Título: CANCIONEIRO TRANSMONTANO 2005
Autor do projecto: CHRYS CHRYSTELLO
Fotografia e design: LUÍS CANOTILHO
Pintura: HELENA CANOTILHO (capa e início dos capítulos)
Edição: SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE BRAGANÇA
Recolha de textos 2005: EDUARDO ALVES E SANDRA ROCHA
Recolha de textos 1985: BELARMINO AUGUSTO AFONSO
Na edição de 1985: ilustrações de José Amaro
Edição de 1985: DELEGAÇÃO DA JUNTA CENTRAL DAS CASAS DO POVO DE
BRAGANÇA, ELEUTÉRIO ALVES e NARCISO GOMES
Transcrição musical 1985: ALBERTO ANÍBAL FERREIRA
Iimpressão e acabamento: ROCHA ARTES GRÁFICAS, V. N. GAIA
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(Henrique Martins)
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