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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

“Estou a apaixonar-me por esta causa… porque faz sentido, porque o fim do trabalho aqui é simplesmente a Vida”

PALOMBAR | COLABORADORES CESC PROJECT – SERVIÇO CIVIL ITALIANO
Testemunho de Salvatore Bossa

O jovem italiano Salvatore Bossa, de 29 anos, está há seis meses a viver na aldeia transmontana de Uva, no concelho de Vimioso, e conta-nos, na primeira pessoa, a sua experiência de vida em Portugal e de trabalho na Palombar – Associação de Conservação da Natureza e do Património Rural. 

Salvatore Bossa é um dos quatro jovens italianos que estão a colaborar com a Palombar este ano no âmbito de uma parceira da associação com o CESC Project – Serviço Civil italiano (www.cescproject.org). O CESC Project pretende promover e desenvolver o serviço civil tanto em Itália, como noutros países, e atividades com foco na construção de uma cidadania consciente. Visa também contribuir para o desenvolvimento de uma convivência civil solidária e pacífica. O CESC Project desenvolve e implementa programas de cooperação internacional, voluntariado internacional e local.
Salvatore Bossa.

O voluntariado e os valores a ele associados são essenciais para a Palombar. Os/as voluntários/as enriquecem e dão vida e dinâmica à associação, contribuindo de forma significativa, frequente e continuada para assegurar as seus ações, projetos e atividades nas áreas da conservação da Natureza e preservação do Património Rural. Todos os anos, a Palombar acolhe vários/as voluntários/as e colaboradores nacionais e internacionais que contribuem de forma ativa para a sua missão.

Trabalho de Campo
Sede da Palombar em Uva.

“Uva é a minha casa há seis meses, o Português a minha língua”

Uva é a minha casa há seis meses, o Português a minha língua. No início, eu estava muito confuso por causa desta mudança para Portugal. Eu venho de Itália, de uma cidade com 60 000 habitantes, com muito trânsito e ruído de carros, mas, ao mesmo tempo, com uma paisagem riquíssima: por um lado, o mar, no meio do deslumbrante golfo de Napoli – com a ilha de Capri à frente; por outro, o Vesúvio, vulcão temível, gigante adormecido que nos preocupa há muitas gerações e cuja influência, talvez, torne o nosso povo explosivo e os nossos ritmos de vida frenéticos. 

Quando cheguei a Portugal, eu senti o contraste com tudo o que tinha vivido até àquele momento. Estávamos no mês de fevereiro. Antes de conhecer bem a equipa da nossa associação Palombar e o território Transmontano, eu conheci o frio e o silêncio da minha viela, com apenas o mocho-de-orelhas a cantar. Sempre estive habituado – e também protegido e ameaçado ao mesmo tempo -, a viver ao pé do Vesúvio, aqui não há um ponto mais elevado para onde olhar... é uma sensação estranha estar sempre no topo, mas se calhar os que vivem no Planalto não a conhecem. E ainda mais estranho para mim foi observar um céu geralmente “vazio”, sem os pombos e as gaivotas que via na minha cidade, até identificar, num ponto longínquo, um abutre, uma águia! Quem nasce aqui não deve ter o mesmo entusiasmo, é normal. 

Tenho reparado, durante as sessões de Educação Ambiental com crianças, que elas não se dão conta desta riqueza em termos de ambiente e de espécies. E é aqui que a Palombar intervém, promovendo a sensibilização e a preservação da Natureza e da Biodiversidade locais. E eu estou a apaixonar-me por esta causa, quer pelo facto de ganhar conhecimentos que antes não tinha, quer por termos que executar vários trabalhos, ainda que sujeitos às adversidades do campo ou pesados; porque faz sentido, porque o fim do trabalho aqui é simplesmente a Vida, e este facto influencia profundamente a minha consciência.

Estou muito feliz por estar aqui no Nordeste Transmontano, apesar de gostar mais de Fado do que de gaitas e de os cães que desafiam os carros no meio da rua me assustarem um pouco. Nesta região, não vivem muitas pessoas, mas as poucas que ficam têm valores e são simpáticas. Uva é o melhor exemplo, pois é uma aldeia acolhedora com uma atitude internacional, desde os parentes franceses dos habitantes, que sempre vêm de férias, aos jovens de todo o mundo, que chegam cá durante os campos de trabalho internacionais. Nunca dá para se aborrecer, ao contrário, esta dinâmica acaba por ser uma grande oportunidade de enriquecimento para todos. E eu espero dar a este lugar uma contribuição pelo menos igual àquela que estou a receber. Obrigado.


Salvatore Bossa
A explorar o planalto

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