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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Nós Transmontanos, Sefarditas e Marranos - ANTÓNIO DA FONSECA (N. MOGADOURO, 1673)

Castelo Branco - Mogadouro
António da Fonseca nasceu na aldeia de Castelo Branco, por 1673, sendo batizado na igreja matriz do mesmo lugar, por os seus pais ali assistirem por negócios que tinham, já que a residência era na vila de Mogadouro. Manuel Lopes Dourado se chamava o seu pai, cirurgião barbeiro, natural de Freixo Espada Cinta. A mãe, nascida em Mogadouro, nomeava-se Ana Martins.
Um tio paterno, chamado Domingos Lopes Dourado, foi almocreve e casou em Urros com Maria de Andrade, fixando o casal residência em Escalhão. Ambos foram presos pela inquisição.(1) O mesmo aconteceu com sua tia Maria da Fonseca, casada com António de Morais,(2) ferrador de profissão, natural de Vila Flor, os quais residiram em Freixo, antes de se mudarem para o Porto.
Do lado materno, teve um tio, cujo nome dizia ignorar e que estaria “habilitado para clérigo” e 3 tias, todas casadas, com moradas repartidas por Mogadouro e pelas aldeias de Paradela e Vilarinho dos Galegos. 
Entre os seus irmãos inteiros, citemos: Manuel de Almeida, cirurgião barbeiro que primeiro casou no Azinhoso e segunda vez em Mogadouro e Pascoal de Almeida que foi para o Brasil e por lá viveu, casado com Floriana de Matos, o qual terá falecido antes que o mandato de prisão fosse executado.(3)
Das vivências de António Fonseca com familiares citados, praticamente não temos registo. De contrário, a sua vida foi completamente marcada pelos encontros e desencontros com o seu meio-irmão paterno Gaspar Fernandes Pereira, a partir do ano de 1706.(4)
Voltemos a Mogadouro, à infância de António Fonseca. Ignoramos a sua idade quando ficou órfão de mãe e foi enviado para Salamanca, onde passou um ano. Regressado a Portugal, viajou para o Porto e dali embarcou para o Brasil, onde o encontramos, em constante movimento e desempenhando atividades diversas. Por um lado, exercia o ofício de ajudante de ordens com gente da tropa ou da ordenança.(5) Por outro lado, dizia-se mercador e “costumava comprar e vender cavalos para o que era bastante esperto e diligente”, na expressão de uma testemunha, acrescentando outra que ele fazia “viagens ao sertão em negócios de cavalos e bois, que era o seu modo de que vivia”.
Primeiramente ter-se-á fixado em Parnaíba, na fazenda do capitão Manuel Álvares de Sousa, de quem se tornou ajudante, transitando depois para a fazenda do mestre de campo Atanásio Sequeira Brandão sita na Barra da Carrinhanha, na margem do rio S. Francisco, onde chegou com uma carta de recomendação daquele pedindo para o “emparar e favorecer”.
Em uma de suas viagens, dirigindo-se do Rio de S. Francisco para a cidade da Baía, chegando ao sítio de Água Fria, tomou conhecimento que à fazenda de Clara Lopes e seus filhos, sita em Parnamirim, Campos da Cachoeira, chegara um carregamento de fazendas trazido por Gaspar Pereira e enviado do Porto por Gaspar Lopes da Costa. Aquele era o seu meio-irmão paterno e os outros eram todos seus conhecidos de Mogadouro. Obviamente que logo se dirigiu à dita casa e por lá ficou uns 2 meses. Este foi o primeiro mau encontro com o irmão, conforme explicaremos mais à frente.
De Parnamirim seguiu para a Baía e dali “alvorou” como ajudante do sargento-mor Temudo Meireles Machado para o seu “engenho” no sítio de Rio Fundo, distante uma dúzia de léguas da Cachoeira. No Rio Fundo, casou com Violante da Silva, uma afilhada da mulher do mesmo sargento-mor e que viveria no mesmo engenho com os pais Manuel da Cunha e Custódia da Silva.
Por 1713, pegou na mulher e nos filhos e voltou para a fazenda do mestre de campo Atanásio Brandão, passando-se depois para a fazenda da Malhada, sita nas proximidades e pertencente ao Dr. João Calmon, chantre da Sé da Baía, visitador e comissário da inquisição.
Em 1719, estando em sua casa, apareceu ali o seu irmão Gaspar pedindo-lhe para o acompanhar numa viagem de canoa pelo rio de S. Francisco a cobrar uma dívida derivada de um “comboio” de fazendas que tinha vendido ao capitão Domingos de Amorim, dono do “engenho” do Pilão Arcado. Em paga lhe daria 100 mil réis e um cordão de ouro e lhe pagaria uma dívida que tinha de 150 mil reis. 
Demorou a viagem 4 meses e, para o caso de o devedor se recusar a pagar, levavam uma ordem do dito Atanásio Sequeira, no sentido de serem sequestrados e leiloados os bens necessários ao pagamento da dívida. A isto se opôs o capitão Francisco Sousa Ferreira, então morador naquele sítio e certamente responsável pela defesa e manutenção da ordem, dizendo que “o devedor tinha em S. Tomás, em poder de António Teixeira, sobrinho dele capitão, ouro suficiente para pagamento de tal dívida”.
Não cobrando a dívida, Gaspar negou-se a pagar o prometido ao irmão. E aí começaram os desencontros. Durante uns 4 ou 5 dias, ainda viajaram juntos até á fazenda dos Angicos. Depois… Gaspar foi-se a cobrar a dívida em outras paragens e, no ano seguinte, meteu-se de regresso a Portugal. Fonseca ficou entregue a si próprio a mais de 40 léguas de casa.
O pior, no entanto, estava ainda para vir. É que, sendo preso pela inquisição de Lisboa, Gaspar denunciou o irmão, dizendo que se declarara com ele e fizera cerimónias judaicas em casa de Clara Lopes, no ano de 1706. E por esta simples denúncia, António Fonseca foi preso em 13.1.1727 e trazido para Lisboa na nau Nª Sª da Oliveira capitaneada pelo mestre Duarte Pereira, onde chegou em 16.8.1828. Por 4 anos conheceu os cárceres do santo ofício, sendo posto a tormento e acabando condenado em cárcere e hábito perpétuo no auto de 6.7.1732.(5)
Da leitura do processo ressalta, antes de mais a defesa que dele fazem todas as testemunhas e que o cavaleiro da ordem de Cristo, Atanásio Brandão, sintetizou:
— Quando o viu preso pelo santo ofício, dissera que se ele tinha culpas naquele tribunal não sabia de quem se havia de fiar.
E ressalta ainda mais o homem bom, “naturalmente alegre” que sempre se dispunha a ajudar os outros. O próprio comissário da inquisição, depois da inquirição das testemunhas nomeadas, escreveu no seu relatório final:
— Sempre o conheci por cristão-velho, muito temente a Deus (…) de que sou testemunha de vista e a sua caridade para com todos; era muito admirado pois, sendo pobre, se não negava no que lhe era possível…
E o capitão-mor Vicente de Pina, que morou 11 anos perto dele, falaria assim dos dois irmãos:
— Gaspar Fernandes era mau homem e pouco agradecido a favores que o dito António da Fonseca lhe fazia quando em sua casa o buscava; e sabia que António da Fonseca, com toda a sua pobreza, nunca a ele dito irmão buscara.
Homem pobre e pai de 4 filhos, fizera-se lavrador de roça, certamente em terra alugada e no seu amanho se empregariam os 2 escravos e 3 escravas que António Fonseca possuía e valeriam cerca de 400 mil réis que, certamente lhe foram sequestrados e vendidos em praça.
Terminamos com a transcrição de um parágrafo de suas confissões contando uma cena acontecida na Baía em casa de Ana de Miranda:
— Estando todos, perguntou ele réu a Violante Nunes por António Fernandes Camacho e a mesma lhe respondeu que era falecido e levando-o a uma câmara, coberta com uma toalha, onde estavam coisas de comer em que entravam pão, azeitonas e algumas frutas e em cima da mesa estava uma candeia acesa e perguntando-lhe ele confitente que era aquilo, ela respondeu que era em memória do dito António Fernandes Camacho e que a candeia dava luz era sinal que ele estava no céu… 

Notas e Bibliografia:
1 - ANTT, inq. Coimbra, pº 4199, de Domingos Lopes Dourado; pº 2792, de Maria de Andrade.
2 - IDEM, pº 6181, de Maria da Fonseca; pº 8130, de António de Morais.
3 - IDEM, inq. Lisboa, pº 17352, de Pascoal de Almeida: — O ano de 1728 me remetera (…) um mandado para se prender na vila da Mocha, de Piagui, a Pascoal de Almeida, por ordem desse tribunal (…) segurando-lhe depois ter notícia ser o dito Pascoal de Almeida falecido no rio de S. Francisco, no sítio das Barreiras…
4 - IDEM, inq. Lisboa, pº 8777, de Gaspar Fernandes Pereira; ANDRADE e GUIMARÃES – Jornal Nordeste, nº1085, de 29.8.2017.
5 - IDEM, pº 10484, de António da Fonseca.

António Júlio Andrade / Maria Fernanda Guimarães
in:jornalnordeste.com

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