Por: Fernando Calado
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
A Estrelinha estava muito cansada. Melhorou. Adoeceu de novo. O cancro não perdoou. Faz um mês, entrou muito triste para casa, deitou-se no tapete, olhou-me com aqueles olhos onde cabia a eternidade e partiu para a grande pradaria do céu… Ainda hoje a ouço correr e ladrar pela noite dentro. Entardecia. Deixou-me em pranto uma companheira de tantos anos. Chorei como se fosse por um cristão... Ficou o seu filho Kiko, pura energia que ainda não conseguiu conquistar-me o coração. O amor precisa de tempo.
Mas na semana passada regressava a casa e uma gatinha branca estava no quintal. Ignorou-me de olhos baixos e não se aproximou. Fugiu. No dia seguinte voltou e já trazia dois filhos recém-nascidos. Deitei-lhe de comer. Durante vários dias procurava a comida sem se aproximar.
Hoje eu amaciava a minha tristeza, a Estrelinha nunca mais viria comer no comedouro de tantos anos. Repetindo gestos e memórias deitei comida no velho comedouro da Estrelinha. Rituais. E, sem que nada o fizesse prever, a gatinha olhou-me nos olhos e meigamente aproximou-se do comedouro e sem medo fez a sua refeição como todos os dias fazia a Estrelinha.
… o céu existe mesmo… e é o lugar onde habitam os anjos… as pessoas boas, os animais… e os que amamos e nos abraçam… quando temos vontade de chorar.
… ficam os sinais… que o digam todos aqueles que me deixaram e regressam sempre… à beira da saudade… e dos enigmas.
Fernando Calado nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança.
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.
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(Henrique Martins)
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N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.
quarta-feira, 19 de junho de 2019
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