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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 27 de junho de 2019

Acabei com as cápsulas de café e não ajudei o ambiente

Cá em casa acabaram as cápsulas de café. Fui desencantar a antiga máquina de café italiana de ir ao lume e arrumei a máquina que me fazia gastar duas a três cápsulas de plástico por dia. As notícias de continentes e ilhas feitas de plástico, de aves, peixes e baleias com os estômagos repletos de plástico pesavam-me na consciência.

Também mudámos a alimentação cá em casa. Com as miúdas mais crescidas voltamos às refeições vegetarianas na maioria dos dias da semana. Tentámos alterar os hábitos nas compras, mas com muito pouco sucesso: tudo tem várias camadas de plástico a envolver outras camadas de plástico. Passámos a andar com sacos grandes no carro e sempre que podemos recusamos outros sacos nas lojas. Na praia adotámos a “nova regra” que esteve a circular na internet e apanhamos todos os papéis e plásticos que encontramos. Em casa começámos a comprar sacos do lixo biodegradáveis, vendem-se na internet e são caríssimos, mas sentimos que tinha mesmo de ser. As lâmpadas são LED há já vários anos.

Durante a semana não usamos carro; eu uso o metro e as Giras para me deslocar, vou levar as miúdas à escola a pé e a minha mulher vai de bicicleta para o emprego, demora 40 minutos para cada lado, mas prefere a bicicleta ao metro, mesmo quando chove e faz frio.

Temos feito um esforço grande para falar com as nossas filhas sobre os problemas do ambiente. É um dos temas que mais discutimos, mas elas sabem quase tudo porque na creche e no jardim de infância têm trabalhado as questões do planeta com muita frequência. Neste aniversário, em vez de prendas pedimos aos amigos para contribuírem com 5 euros para podermos ir dormir com os tubarões ao Oceanário. Ficámos todos contentes com a iniciativa, mas a boneca LOL ganhou o pódio das melhores prendas.

Falamos com elas sobre reduzir, reutilizar e reciclar, muito embora o “reduzir” e o “reutilizar” tenham ficado para trás e só ensinamos às crianças a reciclar, porque parece que não se pode ensinar que consumir demais é sempre mau para o ambiente.

Apesar de todas estas ações conscientes e necessárias não contribuímos um milímetro para a redução dos problemas ambientais, para a redução do plástico nos oceanos ou para o combate e mitigação das alterações climáticas. Mesmo se todos os nossos amigos fizessem exatamente o mesmo que nós não faríamos nenhuma diferença. Não somos ambientalistas simplórios.

Greta Thumberg explica bem o paradoxo que vivemos: “Quando tinha mais ou menos oito anos, ouvi falar pela primeira vez de uma coisa chamada alterações climáticas, ou aquecimento global. (…) Disseram-me para desligar as luzes para poupar energia e para reciclar papel de modo a poupar recursos”. Mas, “se queimar combustíveis fósseis era assim tão mau, ao ponto de ameaçar a nossa própria existência, como é que as pessoas conseguiam continuar a agir como antes? Porque não havia restrições? Porque não passava a ser ilegal fazê-lo?”.

“Temos de agir como se a nossa casa estivesse a arder. Porque está.” – afirma Greta Thumberg, que nada tem de ambientalista simplória e conhece os dados do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas – “Se as emissões têm de parar, então temos de travar essas emissões. Para mim é preto ou branco. Não há áreas cinzentas quando se trata da sobrevivência. Ou continuamos a ser uma civilização ou não continuamos. Temos de mudar.”

O sistema de produção capitalista começou a queimar combustíveis fósseis há 200 anos e temos neste momento a maior concentração de gases de efeito de estufa dos últimos 3 milhões de anos. Estamos a meio da sexta extinção em massa, duzentas espécies extinguem-se por dia e o ritmo desta extinção é pelo menos mil vezes superior às anteriores.

Nunca aconteceu nada assim e até agora quem tem sentido mais os efeitos das alterações climáticas são os países mais pobres, justiça climática é justiça social.

Cá em casa sabemos que os milhares de jovens que saíram às ruas nas greves climáticas dos últimos meses têm toda a razão: a questão não é alterarmos os nossos padrões de consumo individual ou votarmos com a carteira. A questão é mudar o sistema de produção capitalista, é manter o carvão e o petróleo debaixo da terra e fazer a transição energética, mesmo que os lucros das grandes empresas se reduzam, porque não há planeta B.



Ricardo Sant'Ana Moreira
Investigador em Trabalho e Segurança Social
in: Jornal Económico

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