D. Sancho I legou a suas filhas, em testamento, algumas terras e castelos; porém, seu filho D. Afonso II, que lhe sucedeu no reino, não esteve por tal determinação, e pretendendo esbulhar suas irmãs das terras assim doadas, invadiu-lhas. Imploram estas o auxílio do rei de Leão, que subitamente tala a fronteira norte e oriente de Portugal, assenhoreando-se dos seus castelos, desde o de Contrasta, que foi destruído, até ao de Alva, sobre o Douro, e por isso o de Melgaço, Lanhoselo, Ulgoso (Algoso), Balsemão, Freixo, Urros, Mós e Sicoto (sic, será Picote?) caíram-lhe nas mãos e tiveram de aceitar a suserania, alcaide e guarnição leonesa, bem como os distritos de Barroso, Vinhais, Montenegro, Chaves, Ledra, Lampaças, Aguiar, Panóias e Miranda.
Estas guerras, que duraram quase dois anos, terminaram por um tratado de paz celebrado em 1213, segundo o qual Afonso IX de Leão restituiu a Portugal os castelos tomados.
Mas esta paz pouco sossego deveu trazer ao nosso distrito, porque desde 1220 a 1223, Martim Sanches, bastardo de D. Sancho I, que, igualmente espoliado pelo meio irmão, se acolhera à protecção de Afonso IX de Leão e lhe dera a suprema autoridade militar na fronteira de Galiza ao norte de Portugal, pretextando pequenas ofensas dos povos confinantes portugueses, invadiu o nosso território ao mesmo tempo que el-rei de Leão devastava a província de Trás-os-Montes, tomando Chaves, que só veio a entregar em 1231, reinando D. Sancho II.
Herculano, na nota 25 ao vol. I, pág. 506, alude a um documento relativo ao ano de 1236, publicado por Brandão, do qual se deduz que um infante chamado D. Afonso se apossara de Alva nos anos atrás, que já a havia perdido, e que D. Sancho II, louvando o acto de lealdade que praticaram os de Freixo de Espada à Cinta, lhes deu Alva por aldeia do seu termo, sendo expulsos os que nela moravam quando o infante a tomou.
Não é bem sabido, continua Herculano, quem seja este infante que se apossou de Alva, de acordo com os seus habitantes. Brandão supôs que seria um filho de Fernando III, depois Afonso X; porém, Herculano não concorda, pois, segundo ele, pelo meado de 1236 o infante de Castela pouco mais tinha de 14 anos, e além disso, tal acto praticado pelo herdeiro da coroa indicaria guerra entre Portugal e Castela, de que não há vestígios alguns depois da concórdia do Sabugal.
Assim, resta a hipótese de que fosse o infante leonês Afonso de Molina, irmão de Fernando III.
Neste pressuposto escreve, pois, Herculano, que o desleixo administrativo de D. Sancho II deu aso a que D. Afonso, infante de Molina, irmão de D. Fernando III, rei de Leão, tomasse o castelo de Alva, de acordo com seus habitantes; mas foi repelido, ao que parece, pelo concelho de Freixo de Espada à Cinta, de cujo espírito belicoso nos restam claros indícios.
Em castigo, Alva perdeu os seus foros de município e foi reduzida a aldeia do de Freixo de Espada à Cinta, ao qual se uniu também o castelo de Urros, que se achava deserto, provavelmente desde que no tempo de D. Afonso II ficara sujeito ao domínio leonês, e cujo território aquele belicoso concelho prometia ocupar e defender.
Memórias Arqueológico-Históricas
do Distrito de Bragança
Sem comentários:
Enviar um comentário