Abílio Beça, estrénuo defensor dos interesses de Bragança |
Nenhum dos candidatos por este círculo seria eleito.
Neste mesmo ano, para as eleições da Câmara Municipal, concorre uma lista conjunta de monárquicos, cidadãos apartidários e republicanos. Teria sido formada, em princípio, por iniciativa de Abílio Beça – chefe do Partido Regenerador que se distingue pela atividade cívica e política e pela defesa dos interesses regionais, como se reconhece no elogio póstumo que se tece a este ilustre brigantino, no último número da Gazeta de Bragança.
As informações são ainda elucidativas acerca do funcionamento das redes de amizades e do tráfico de influências, mas continuam a atestar – o que muito interessa a quem tenta caracterizar atmosferas e ambiências – a aproximação entre o campo e a urbe. Para essa eleição da Câmara, Abílio Beça dá provas manifestas do seu espírito patriótico, preferindo, a amigos afeiçoados, “a escolha de cidadãos independentes e inteligentes, republicanos alguns, com o fim, somente, de administrarem com escrúpulo o Município”, como se lê na última Gazeta.
A Pátria Nova, em 28 de outubro de 1908, vai insinuar que a proposta da lista conjunta teria resultado da iniciativa dos republicanos. “Aos eleitores do Concelho de Bragança: O Partido Republicano local, cônscio da sua missão patriótica, ponderando que na eleição das vereações não se devem agitar as paixões políticas, resolveu propor a seguinte lista de homens de bem, de todos os partidos e de cavalheiros que não estão ostensivamente inscritos sob qualquer bandeira partidária. O Município, sendo a mais antiga e mais importante das regalias locais, não pode ser um campo de batalha de princípios políticos, mas uma família, no governo da qual todos os membros devem tomar parte.”
E dá-se a conhecer “a lista que os cidadãos republicanos apresentam ao sufrágio do eleitorado do Concelho de Bragança. Efetivos: Conselheiro Abílio Augusto de Madureira Beça, advogado e professor de liceu; dr. José Joaquim Pinto, médico; dr. José Marcelino de Sá Vargas, proprietário; António Dias, comerciante; dr. Eduardo Ernesto de Faria, advogado e professor do liceu; Acácio Augusto Mariano, farmacêutico; Augusto Xavier da Veiga Valente, proprietário; Francisco de Moura Coutinho de Almeida Eça, agente do Banco de Portugal; João de Deus Afonso Dias, comerciante”.
Esta coligação demonstra um certo tacticismo do Partido Republicano que, nos anos precedentes à instauração da República, não hesitou em unir-se com os monárquicos. Num meio em que os republicanos pouco contavam, era uma das maneiras de estar no poder. Também demonstra o peso e o prestígio de Abílio Beça, que impõe aos seus correligionários, em nome dos interesses da coletividade, uma aliança que se afigura estranha.
Mas o que comprova, essencialmente, é que, independentemente das razões que possam ter assistido às forças nelas implicadas, os republicanos participaram precocemente, durante 15 meses, na governação local.
Título: Bragança na Época Contemporânea (1820-2012)
Edição: Câmara Municipal de Bragança
Investigação: CEPESE – Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade
Coordenação: Fernando de Sousa
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