sexta-feira, 12 de abril de 2019

A instauração da República em Bragança (1910)

Em finais de setembro de 1910, como já tivemos oportunidade de analisar, a imprensa do Nordeste Trasmontano começa a anunciar a visita do Rei a Bragança. A Gazeta de Bragança anuncia o programa das festas organizadas por uma comissão formada para tal, referindo que, nas ruas haverá música, bandeiras, colgaduras nas janelas, flores e arcos triunfais, grupos “com descantes populares” e foguetes, “uma festa como ainda Bragança não teve”, uma vez que era a primeira visita de um monarca, D. Manuel II, pelo menos desde que a dinastia de Bragança começara a reinar, em 1640.

A 3 de outubro, foi convocada a Câmara para uma sessão extraordinária, sob a presidência de Olímpio de Oliveira Dias, que era o vice-Presidente, e com a participação dos vereadores efetivos, Francisco Manuel Alves, Augusto César Moreno, Venâncio da Ribeirinha; dos vereadores substitutos, João de Deus Afonso Dias, António Joaquim Nogueiro e Inocêncio António Miranda, e com a assistência do Administrador do Concelho, António José Madureira Beça, com o objetivo de ajustar a sua participação na cerimónia da receção de sua majestade.
Ficou acordado que receberiam D. Manuel II na gare do caminho-de-ferro e nos Paços do Concelho, que o Presidente do Município faria a alocução de boas-vindas, que se gastariam 100 000 réis na ornamentação do edifício da Câmara, para o que se pediria a necessária autorização uma vez que tal verba não estava orçamentada, e que se pagariam ordenados aos funcionários do Município e salários dos jornaleiros ao serviço da Câmara, assim como os fornecimentos da sua responsabilidade.
Na terça-feira, 4 de outubro, ainda a comissão angariadora de donativos para as despesas da “festança real… percorria a Cidade, numa febre de monarquismo festejeiro, requerendo bago à bolsa brigantina”.
Um telegrama do Primeiro-ministro, Teixeira de Sousa, no dia 5 de outubro, veio liquidar toda esta azáfama, informando a Câmara que ficava suspensa a deslocação do Rei a Bragança. No dia 6, a Cidade tomava conhecimento da proclamação da República em Lisboa e da saída da Família Real para o exílio. Contudo, ainda neste dia, sob a presidência de Olímpio Dias, reuniu a Câmara de Bragança, como se nenhuma mudança política tivesse ocorrido, despachando assuntos correntes.

Segundo o Jornal de Bragança, a notícia da proclamação da República não foi recebida com grandes manifestações de alegria pela população da Cidade. Pelo contrário, os brigantinos teriam assistido com indiferença às cerimónias que então ocorreram para formalizar a mudança de regime. De acordo com este jornal era sabido que no burgo “pequeno meio onde toda a gente se conhece e nada se ignora”, apenas existiam, antes da proclamação da república os seguintes republicanos: José António Rodrigues de Paula, João José Alves, Manuel Rodrigues Paula, Agostinho Paulino Pires, Casimiro Pissarro, Inácio Vilares, Nicomedes Afonso Anta, Delfim Conde, João Dias, Júlio Rocha, Manuel Brilhante, José Pires, Acácio Mariano, Maximiano Vaz, José Tomé e José da Ponte, a que se juntaram, como “aderentes dos primeiros dias”, João Baptista da Cruz, o subinspetor Miranda e Augusto Moreno.
8 de outubro, proclamou-se solenemente na Câmara Municipal de Bragança a República Portuguesa, em sessão presidida pelo novo Governador Civil, João José de Freitas.
Em sessão celebrada a 15 de outubro de 1910, tomou posse a Comissão Municipal Eletiva Republicana, composta de nove membros efetivos e de um número igual de substitutos. Formada a Comissão, procedeu-se à eleição do Presidente e vice-Presidente, sendo este ato presidido por João de Deus Afonso Dias, o cidadão mais idoso. Para o cargo de Presidente foi eleito Augusto Xavier da Veiga Valente, sendo Júlio Soares da Rocha Pereira o representante eleito para o segundo cargo. Todavia, continuando Augusto Valente a exercer as funções de Administrador do Concelho, na prática, a presidência do Município passou a ser assegurada por Júlio da Rocha Pereira.
A consagração da República em Bragança verificou-se no ano seguinte, a 19 de junho, sendo dirigidos os trabalhos do Executivo Municipal por Augusto César Moreno, em virtude de o Presidente e vice-Presidente não estarem presentes.
O texto do reconhecimento da República Portuguesa foi lido em voz alta nos Paços do Concelho, e aclamado por estrondosas salvas de palmas. Importava que os militares fossem informados da sua substância, mas, como em frente ao edifício da Câmara as forças militares não podiam desfilar, resolveu-se que tomariam posição na Praça da Sé e que a proclamação lhes seria dirigida a partir das varandas do Centro Republicano Emídio Garcia, fundado em 18 de fevereiro de 1911, em cerimónia presidida por João de Freitas, Governador Civil de Bragança.

Título: Bragança na Época Contemporânea (1820-2012)
Edição: Câmara Municipal de Bragança
Investigação: CEPESE – Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade
Coordenação: Fernando de Sousa

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