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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 16 de abril de 2019

A MAIS BONITA METADE DO CÉU

A sabedoria chinesa ensina-nos desde há séculos: “As mulheres carregam a metade do céu.” Contudo esta homenagem é algo ambígua se se deixar perceber que os homens carregam a outra metade e que as mulheres só transportam o céu e em nada a terra. Cada dia, sábio ou não, mostra-nos que as mulheres carregam o fardo do mundo e das civilizações, na totalidade, a começar pela espécie masculina que se distingue pela sua violência, pela sua cobardia, pelo desprezo por tudo o que não é macho, e pela sua fundamental brutalidade. As mulheres ao aceitar carregar a metade do céu consentem, efectivamente, em transportar a totalidade da humanidade e a sua condição, que não é ela tão famosa por vezes.

Estas encontram-se na primeira fila de todas as infelicidades porque elas sabem chorar, algo que os homens já não fazem há centenas de anos, desde o fim das guerras antigas. Os heróis de Homero são os últimos na história universal a ter derramado lágrimas de tristeza, de pena e de luto. As mulheres, elas, nunca cessaram de o fazer. Nas filas de populações famintas de refugiados que se arrastam por caminhos de lama dirigindo-se para os inúmeros campos de refugiados, elas carregam claramente aos ombros e às costas a metade da terra. A mais rude, a mais pesada, aquela que os homens deixaram atrás deles. Eles confiaram-lhes a carga toda e ficaram nos terrenos de combate para continuar o massacre e poder alimentar os ódios.

Frente às tendas onde se reúnem com as suas crias com olhos grandes e tristes, continuam a fazer boa figura, esboçando pobres sorrisos sem alegria perante a evidência da fatalidade. Elas ficam aliviadas por serem salvas, contudo infelizes. Perderam toda a liberdade de ir e voltar, toda a autonomia, que já não tinham antes quando, reclusas e pioneiras dos maridos com quem tinham sido obrigadas a casar, não tinham qualquer margem de manobra para a sua liberdade. Só existiam para servir. Como se fossem objetos domésticos.  

E aí estão elas a chorar os maridos.

Quando se fala no nosso país da “ condição feminina” e da sujeição da mulher e da sua dependência, esquecemo-nos de que, na terra, uma imensa maioria de mulheres vive praticamente em escravatura sob o jugo masculino. É apenas exagerado afirmá-lo desta forma. As nossas preocupações nas carreiras e igualdade homens-mulheres são, duma certa forma, preocupações de ricos, de pessoas mais ou menos bem inseridas na sociedade. Pensemos no que vivem milhões de mulheres indianas, chinesas, árabes, indonésias, africanas ou da América latina relegadas para segundo plano da humanidade, negadas na sua identidade própria, na sua dignidade e nobreza de mulher, de mãe e de esposa. Manipuladas como se fossem mercadoria pelos guerreiros ébrios que, por todo o lado, fazem sangrar o género humano. Violadas e abandonadas como farrapos depois da batalha.


Adriano Valadar
in:jornalnordeste.com

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