Os senhores de Carragosa,
Não são como pensais.
Abateram um burro
Para dividir pelos demais.
Desculpem, meus senhores,
Desculpem por aqui vir.
O burro que vocês mataram
Aqui estou para o dividir.
Eu venho dos talhos de Mirandela, Régua e Macedo.
Aos senhores de Carragosa
Não lhes dou nem um pêlo,
Pois bem basta a carne que já comeram.
Aos senhores de Soutelo
Damos-lhe o burro por inteiro
Para que apanhem o carvão
Para a forja do ferreiro.
Aos senhores de Cova de Lua,
Damos-lhe a tripa do cagato
Para que nela levem a pólvora
Quando forem para a caleira.
Aos senhores de Vilarinho,
Damos-lhe as tripas delgadas.
Como é terra de tocadores,
Servem para cordas de guitarras.
Aos senhores do Parâmio,
Damos-lhe uma parte da testa
Para que a ponham de memória
Lá no cimo da resta.
Aos senhores de Maçãs,
Que estão para ali escondidos,
Damos-lhe do burro as orelhas
Para tapar os ouvidos.
Ocorreu em Carragosa,
Lá do velho continente,
Que abateram um burro
Para dividir pela gente.
RECOLHA (1985) de Sebastião Agostinho Gonçalves. Gondesende – Bragança.
FICHA TÉCNICA:
Título: CANCIONEIRO TRANSMONTANO 2005
Autor do projecto: CHRYS CHRYSTELLO
Fotografia e design: LUÍS CANOTILHO
Pintura: HELENA CANOTILHO (capa e início dos capítulos)
Edição: SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE BRAGANÇA
Recolha de textos 2005: EDUARDO ALVES E SANDRA ROCHA
Recolha de textos 1985: BELARMINO AUGUSTO AFONSO
Na edição de 1985: ilustrações de José Amaro
Edição de 1985: DELEGAÇÃO DA JUNTA CENTRAL DAS CASAS DO POVO DE
BRAGANÇA, ELEUTÉRIO ALVES e NARCISO GOMES
Transcrição musical 1985: ALBERTO ANÍBAL FERREIRA
Iimpressão e acabamento: ROCHA ARTES GRÁFICAS, V. N. GAIA

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