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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 6 de setembro de 2022

SECA ESTÁ A FAZER CULTURAS SUBIR EM ALTITUDE

 Agrónomo e docente do Instituto Politécnico de Bragança admite que a seca traz consequências às plantas de interesse económico


A seca tem levado várias entidades e pessoas a repensar algumas atitudes porque muitos dos efeitos que se estão a verificar parecem alarmantes. O que as alterações climáticas e um ano excepcional como este, como o temos ouvido chamar, estão a provocar à flora tem dado que falar. Afinal será a situação assim tão grave?

Seca afecta plantações novas e árvores em relevos convexos

Carlos Aguiar, agrónomo e professor na Escola Superior Agrária de Bragança, admite que o que estamos a atravessar é um alerta de que as coisas estão a mudar, mas não é, para já, assim tão dramático. O docente do Instituto Politécnico de Bragança (IPB), que começou por admitir que “há uma tendência para termos os Invernos mais amenos, Verões um pouco mais quentes e eventos climáticos mais excessivos”, explicou que “temos uma flora mediterrânica que está adaptada ao clima, em que chove de Inverno e não chove de Verão”, sendo que existem algumas oscilações. Ora assim sendo, este é um ano um pouco diferente dos outros, mas a verdade é que muitas das plantas que existem no nosso território estão completamente, diga-se, habituadas e capazes de resistir. No que toca, por exemplo, às nossas espécies indígenas, que são anuais, estas passam a estação seca na forma de semente, portanto, o que se está a registar, “à semente tanto faz”. A única maldade que o clima pode provocar é que “Primaveras pouco chuvosas”, como a que tivemos, fazem reduzir o input de sementes. Dramático? Não porque “muitas das plantas têm um banco de sementes dormentes”. Ou seja, se este ano corre mal, “há sementes no solo com dois/três ou quatro anos que terão a sua oportunidade de germinar quando chegar o Outono”. Quanto ao resto, o cenário já muda mas também não é algo que nos deixe, para já, de cabeça perdida. Segundo Carlos Aguiar, pode verificar-se “alguma mortalidade” no que às plantas lenhosas diz respeito. Ainda assim, “não precisamos de nos assustar, por exemplo, com as copas secas de algumas arvores, como muitas se viram no começo de Agosto, nomeadamente carvalhos”. Ou seja, esta mudança de cor de folha muito precoce é apenas uma “resposta eco- -fisiológica”. E diga-se que “as árvores estão preparadas para isto”. Assim, o que vai acontecer é que a algumas vai cair a folha mais cedo do que o normal, “mas essas plantas, muitas delas, já cumpriram o seu ciclo reprodutivo”, portanto, nada a temer. No que ainda a estes árvores diz respeito, o docente garante que o que é expectável é que “não haja um impacto muito significativo” mas que as árvores de interesse económico sintam mais o peso destes anos atípicos. Ou seja, produzirão, está claro, bastante menos, nomeadamente plantas que dão dinheiro ao distrito, como castanheiros e as oliveiras. Ainda assim, “os transmontanos são pessoas que dominam muito bem a biologia e ecologia destas árvores e sabem as consequências que anos como este têm numa planta que precisa de trovoadas de Agosto e chuvas que entram pelo mês de Setembro”. Estas árvores, os castanheiros e as oliveiras, por exemplo, estão a sofrer bastante com a falta de água, já as amendoeiras e as cerejeiras, que também são de grande interesse económico para a região, sentiram os efeitos de algo a que não estão habituadas: apanharam algumas geadas muito tardias, sendo que já estavam a rebentar porque o Inverno tinha sido ameno. Com o cenário a desenrolar-se à nossa frente, Carlos Aguiar resume bem tudo: a seca afecta sobretudo plantações novas, que precisam de mais água e, não chovendo, torna-se complicado aguentar pois há quem não tenha disponibilidade para regar. Plantas que estejam em relevos convexos também são, claro, afectadas. As que estão em relevos côncavos acumulam água e, por isso, não vivem as mesmas “dores”.

Culturas sobem em altitude

Carlos Aguiar, que acredita que “não é expectável que isto se repita indefinidamente”, falando deste ano de seca, afirma, ainda assim, que é óbvio que “há uma tendência para menor precipitação e, ao mesmo tempo, de subida de temperatura, sobretudo das temperaturas de Inverno”. Assim sendo, o que se espera é que algumas culturas “subam em altitude”. É algo até que já estamos a começar a ver, como é o caso do castanheiro, que “está a ser cultivado em altitudes que ninguém esperava que algumas vez assim fosse”. Tudo se trata então de uma questão de geografia das culturas e “nós somos muito adaptáveis e as plantas também”.

Tantas plantas que já passaram por tanto

No nosso distrito o que não falta são árvores centenárias que se lembram perfeitamente bem de anos como este ou até piores. O ano tão seco, como temos ouvido, a nós causa alarme, às plantas parece que nem tanto já que sabem como lidar com as oscilações. O que é factual, admite Carlos Aguiar, é que “as coisas estão a mudar” e “99% dos especialistas em clima estão de acordo de que há um problema de aquecimento global”. Assim, considera que “temos os instrumentos para enfrentar o que está a acontecer” e, então, resta sermos capazes de o fazer. Os instrumentos são simples: agricultura, plantação de árvores, pastorícia e fogo controlado, ou seja, os fogos aplicados durante o Inverno, que o docente acredita que estão para o pastor como a charrua está para o agricultor e se lhe retirou esse “instrumento tão fundamental”. Ciente de que “temos instrumentos, hoje em dia, que a muito custo as sociedades modernas foram capazes de montar”, Carlos Aguiar diz que é preciso acarinhar as instituições e leis que fomos capazes de criar porque isso “é importante para enfrentar a mudança”. “Em períodos de mudança temos todos que estar atentos”, vincou.

Incêndios menos graves com a expansão das plantas lenhosas

Olhando para os incêndios de 2017, Carlos Aguiar considera que a nossa região foi das menos afectadas e isso deve-se ao facto de existir aqui uma “área muito significativa de agricultura com plantas lenhosas”. Ou seja, a expansão da amendoeira, da oliveira e do castanheiro reduziu os riscos e estragos causados por incêndios e isso em si “é uma aprendizagem”. Sabendo de que nada do que diz é novidade, neste aspecto, o agrónomo, lembrando que “quanto mais combustível existir acima da superfície do solo maior é o risco de arder”, disse que a mudança passa por se substituir o que temos por culturas e pastagens. O docente do IPB entende também que é importante voltar a usar-se o tipo de fogo de outros tempos. “Há um documento, do tempo de D. Manuel I, no século XV, com queixas feitas ao rei, em que se discute a questão dos fogos e há uma localidade que diz que era importante que não se pudesse fazer fogo entre 1 de Maio e 15 de Novembro. Ou seja, já naquele tempo se sabia que o fogo deve ocorrer de Inverno mas não pode acontecer de Verão. As pessoas sabiam-no e era isso mesmo que punham em prática, fazendo o chamado fogo pastoril, pegando fogo aos montes quando necessário e tínhamos assim uma vegetação herbácea contínua e sabemos que, hoje, tremendamente produtiva”, terminou, deixando assente que o ponto de partida é olhar para o passado e aprender com aquilo que os nossos ancestrais faziam.

Jornalista: Carina Alves

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