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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 12 de maio de 2023

Batatas amigas

 
« – Como se obtêm estas batatas, ó abade? (…) – O segredo está nos três quindins:
terra granita, água granita e caganita, com perdão de Vossa Excelência.»

Aquilino Ribeiro

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A batata veio do Peru, entrou em Espanha e chegou ao Papa.

Uma confusão deturpou-lhe o nome, mas não a impediu de iniciar um imparável reino.

Por volta de 1524, os soldados de Pizarro, esse amável conquistador espanhol que avançou pelo Peru como um carro de assalto e destruiu o império inca, descobriram uma planta maravilhosa que se cultivava nos planaltos onde o milho já não podia crescer.

Jardineiros hábeis, os incas cultivavam-na desde tempos imemoriais.

Sabendo escolher os tubérculos de reprodução e obter várias variedades desse alimento a que chamavam pappa.

Pedro Cieza, companheiro de armas de Pizarro, mandou amostras de tubérculo para Espanha, de onde as enviaram de presente ao papa de Roma.

E foi assim que a batata e a Europa se travaram de relações.

Os espanhóis chamaram-lhe patata porque a confundiram com outro tubérculo peruano, a patata (batata- doce).

Os ingleses, a quem foi revelada por Walter Raleigh, seguiram-nos no erro e batizaram-na de patato.

Em 1588, em Viena de Áustria, o sábio francês Charles de L’Ecluse, mais conhecido pelo apodo latinório de Clusius (divulgador e tradutor para latim dos «Colóquios» do nosso Garcia de Orta), elaborou a respetiva árvore genealógica botânica. Como legenda escreveu: pequena fruta (tartufoli).

Os italianos adotaram este nome, que descambou em Kartofel na Alemanha e em Kartoscka na Rússia.

De início, a batata era pouco apreciada

A batata expandiu-se timidamente em Espanha, durante o século XVII, sobretudo em asilos e quartéis.

Aquando da Guerra dos Trinta Anos, os camponeses da Saxónia e da Westafália e achavam-na preferível à simples erva.

E embora a pobre Irlanda se tenha resignado a adotá-la, o certo é que a batata recebeu acolhimento deplorável.

Nada apreciada, tinham-na por boa apenas para o gado ou, nas melhores tradições de caridade cristã, para os pobres.

Felizmente para ela e para nós, apareceu o farmacêutico militar francês Antoine Parmentier, que levou a cabo uma intensa campanha de propaganda que, em 1785, obteve a aquiescência real.

A adoção da batata na alimentação humana, que só viria a verificar-se intensamente no decorrer do século XIX, provocou uma autêntica revolução no regime alimentar, sobretudo nas classes populares.

Quanto a nós, a primeira referência que dela se encontra num lexicógrafo nacional é em 1647, no «Thesouro da Língua Portuguesa», de Bento Pereira.

Além de cultivos esporádicos, parece ter sido Trás-os-Montes onde se cultivou pela primeira vez a batata com intensidade.

Atribuiu-se a D. Teresa de Sousa Maciel a sua introdução naquela província, sendo por isso premiada, em 1798, com uma medalha de ouro pela Academia Real das Ciências.

E assim começou o reino glorioso da batata, que veio ocupar o lugar até então preenchido pelas castanhas e, em menor grau, pelos nabos.

«Castanha-da-índia» lhe começou por chamar o nosso povo.

Rapidamente lhe foi reconhecida a versatilidade e foram sendo desenvolvidas inúmeras maneiras de a cozinhar.

Batatas cozidas (em água ou em vapor), fritas, salteadas, guisadas, assadas, em puré, gratinadas, batatas que tanto entram na sopa, como são entrada, guarnição, salada, e até prato completo.

Tubérculo amigo, o povo sempre esteve contigo!

Guia da Semana – EXPRESSO – Edição Norte (texto editado e adaptado)

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