O Diretor da Escola Profissional de Agricultura e Desenvolvimento Rural (EPA) de Carvalhais, no concelho de Mirandela, está revoltado com a atribuição do Centro Tecnológico Industrial, na área da CIM Terras de Trás-os-Montes, ao Agrupamento de Escolas Abade de Baçal, de Bragança, no valor de um milhão e meio de euros, que obteve a aprovação da candidatura financiada pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), em detrimento da que foi apresentada pela escola que dirige.
Marcelino Martins diz que a EPA de Carvalhais “era a única na região que se enquadrava para receber este centro tecnológico” e não esconde a frustração com o indeferimento. “À vaga sobrante, concorremos nós e o agrupamento Abade de Baçal, o que achamos muito estranho porque eles têm como oferta formativa profissional, os cursos de multimédia e de geriatria, enquanto a EPA tem cursos na área da mecatrónica automóvel, de vitivinicultura, agro-pecuária, turismo ambiental e rural, cozinha/pastelaria, pelo que seria normal o investimento ser feito na nossa escola”, conclui.
O diretor da EPA de Carvalhais entende que o critério para aprovação da candidatura, estar diretamente ligado à taxa de conclusão dos cursos está completamente errado. “Vamos ser realistas. Nós recebemos alunos com quadrantes económicos completamente diferentes do que qualquer escola na região e fazemos desse alunos, excelentes profissionais para o mercado de trabalho, dentro do ramos do seu curso profissional, muitos deles frequentam o ensino superior e também recebemos muitos alunos em fim de linha que os agrupamentos já não querem porque só têm comportamentos desviantes e nada conseguem fazer deles e nós ali fazemos autênticos milagres, pelo que não podemos só olhar para a taxa de conclusão para dar deferimento ou indeferimento a estas candidaturas”, afirma.
Marcelino Martins acredita mesmo que desta forma até estão a subverter-se os objetivos que estes centros tecnológicos pretendem atingir e deixa alguns exemplos. “Conseguimos ir para profissionais de eletricidade, de pichelaria, canalização, carpintaria, ou chaparia, que são setores que têm uma falta de mão-de-obra qualificada no mercado de trabalho que as pessoas não imaginam, muito mais do que em multimédia”, adianta.
O diretor da EPA elogia o trabalho feito pelo poder local de Bragança neste processo. “Tenho de dar os parabéns à Abade de Baçal e nomeadamente ao poder local de Bragança porque fizeram um trabalho fantástico, nada contra”, diz. No entanto, Marcelino Martins tem uma teoria para explicar esta situação. “O que está em causa é que Mirandela já tinha recebido um centro tecnológico ligado à informática, no agrupamento de escolas de Mirandela, na primeira fase, e então agora ia ficar outro e nenhum na capital de distrito?”, ironiza.
Ao invés, deixa críticas ao poder local de Mirandela. “A ajuda que tivemos foi a assinatura do protocolo, não vale a pena estarmos aqui com ilusões. É evidente que tinha de haver uma ajuda maior”, refere Marcelino Martins que começa a pensar que a EPA “é uma pedra no sapato para muitos agrupamentos de escola, porque cada vez recebemos mais alunos e ao ficarem sem eles recebem menos verbas”, acrescenta.
Sobre estas críticas do diretor da EPA de Carvalhais, a autarca de Mirandela já tinha sido confrontada na última reunião da Assembleia Municipal, onde respondeu que o executivo não tinha qualquer influência na decisão. “Soube que foi reprovada, lamentando obviamente, mas são comissões independentes que fazem essa análise e acredite que se houvesse da nossa parte essa possibilidade de apoiar tínhamos apoiado, até porque é uma entidade parceira e é um privilégio ter a EPA como resposta profissional em Mirandela”, afirmou Júlia Rodrigues.
Artigo escrito por Fernando Pires (jornalista)
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