Construir uma cidade verdadeiramente inclusiva não passa apenas por criar espaços bonitos ou modernizar infraestruturas, é preciso garantir que todas as pessoas, independentemente das suas capacidades físicas, sensoriais ou cognitivas, possam viver com autonomia, dignidade e segurança. Em Bragança, tal como noutras cidades em Portugal, a acessibilidade tem vindo a ganhar, algum, destaque nas políticas urbanas, refletindo uma crescente consciência social sobre os direitos das pessoas com deficiência e mobilidade reduzida. No entanto, ainda existe um longo caminho a percorrer para que a cidade seja, de facto, acessível para todos.
A criação de rampas, o rebaixamento de passeios, a instalação de corrimãos, a melhoria dos pavimentos e a adaptação de infraestruturas públicas são medidas essenciais para garantir mobilidade universal. Pequenas alterações no espaço urbano podem significar grandes transformações na vida de milhares de pessoas. Uma rampa bem construída pode ser a diferença entre poder entrar num edifício público ou ficar do lado de fora, um passeio nivelado pode impedir quedas e proporcionar segurança a idosos, pessoas com carrinhos de bebé ou cidadãos com limitações temporárias, semáforos sonoros podem permitir que pessoas cegas circulem com maior autonomia. Estas mudanças, apesar de muitas vezes discretas, tornam as cidades mais humanas, inclusivas e igualitárias.
No caso de Bragança, onde coexistem áreas modernas com a zona histórica de grande complexidade urbanística, o desafio é ainda maior. A preservação do património não deve ser vista como incompatível com a promoção da acessibilidade. Pelo contrário, adaptar espaços históricos, como ruas estreitas, escadarias antigas ou edifícios emblemáticos, para garantir o acesso universal, é uma forma de democratizar a cultura e valorizar o património comum. Uma cidade que inclui também protege e valoriza a sua memória, assegurando que todos possam usufruir do que ela tem para oferecer.
Pensar a acessibilidade não deve limitar-se a infraestruturas físicas. A mobilidade urbana depende igualmente de transportes públicos adaptados, informação clara e acessível, sinalética adequada, estacionamentos reservados e políticas municipais consistentes. O investimento em autocarros com rampas ou plataformas elevatórias, por exemplo, contribui para que muitos cidadãos ganhem autonomia nas suas deslocações diárias. A formação de motoristas e funcionários públicos é outro elemento essencial para garantir um serviço eficaz e respeitoso.
É fundamental reconhecer que a acessibilidade beneficia toda a população, não apenas os cidadãos com deficiência. Uma cidade acessível é mais fácil de percorrer para turistas, famílias com crianças pequenas, pessoas temporariamente limitadas fisicamente, idosos e até para quem transporta cargas. O conceito de “desenho universal” mostra que quando se projeta a pensar no todo, cria-se um ambiente mais funcional, seguro e confortável para cada indivíduo.
A participação ativa da comunidade é crucial. As associações de pessoas com deficiência, os técnicos especializados, os urbanistas e os próprios cidadãos devem ser envolvidos nos processos de decisão. O planeamento urbano não pode ser feito apenas a partir do gabinete, é necessário ouvir quem vive diariamente as dificuldades no terreno. A criação de conselhos consultivos municipais para a acessibilidade, auditorias regulares às infraestruturas e plataformas de denúncia de obstáculos urbanos são ferramentas que podem promover melhorias contínuas e eficazes.
Investir numa Bragança verdadeiramente inclusiva é também cumprir a legislação e seguir tendências humanistas internacionais. É afirmar um compromisso ético com a igualdade, com os direitos humanos e com a qualidade de vida de todos os seus habitantes. Construir rampas, requalificar passeios, adaptar infraestruturas é dar passos na direção de uma cidade onde ninguém fica para trás. A acessibilidade deve ser vista não como um custo, mas como um investimento, um investimento num futuro mais justo, mais digno e mais humano.

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