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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite, Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues, João Cameira e Rui Rendeiro Sousa.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 16 de novembro de 2025

Caretos e Pauliteiros… Zelas e Mundos Leoneses… “Querim bêre?”…

Por: Rui Rendeiro Sousa
(Colaborador do "Memórias...e outras coisas...")


 Muitos já terão ouvido falar de Zelas (ou Zoelas, nalgumas versões). Já por aqui trouxe esses «nossos avós» para demonstrar o quão diferentes somos. Nomeadamente pela forma como os autores clássicos Romanos os classificaram como Ástures, ou como os Romanos integraram o seu território, a «Civitas Zoelarum», no «Conventus Asturicensis». No actual distrito de Bragança ocupariam, genericamente, os chamados concelhos da Terra Fria, e ainda uma grande parte do concelho de Macedo de Cavaleiros, bem como as zonas mais a norte dos concelhos de Mirandela, Alfândega da Fé e Freixo de Espada à Cinta. “E q’é que tem iz’tu a bêre cum Caretus e Pauliteirus’e?”… 

Conheço, no distrito, mais de três dezenas de manifestações relacionadas com Mascarados e Chocalhadas. Grosso modo, todas se situam nos concelhos que faziam parte da… «Civitas Zoelarum»! Ou seja, os concelhos de Vinhais, Bragança, Vimioso, Miranda do Douro, Mogadouro, as extensões centro-norte e sudeste do concelho de Macedo de Cavaleiros, mais as manifestações em Torre de Dona Chama, a norte de Mirandela, a confinar com o concelho de Macedo, e as de Alfândega da Fé e Sambade, também a lindar com o concelho Macedense. Há, ainda, uma referência histórica à sua existência no norte do concelho de Freixo de Espada à Cinta, onde confronta com o de Mogadouro. 

Porém, o território dos Zelas ultrapassava os actuais limites do distrito, estendendo-se para as regiões da Sanabria, Aliste, Sayago, até Zamora. Regiões essas onde subsistem cerca de duas dezenas de manifestações de Mascarados e Chocalhadas! Sempre com as chamadas «Festas de Inverno» como matriz, sejam elas no período de Natal, ou no período do Entrudo. Não há coincidências…

Na actualidade, muitos encararão os Caretos apenas como uma curiosidade etnográfica, acrescida da dimensão adquirida pelo Entrudo Chocalheiro e, consequentemente, pelos Caretos de Podence, elevados a Património Imaterial da Humanidade pela UNESCO. Mas os Caretos, e o fenómeno das Mascaradas e das Chocalhadas, são muito mais do que isso. São uma das representações maiores de um Povo que é, de facto, diferente. Fazem parte do seu ADN! Um Povo que soube, com maiores ou menores obstáculos, manter tradições milenares, que esta coisa das máscaras e dos rituais encontram reminiscências em muito recuados tempos. 

A referência documental mais antiga que encontrei até hoje, a referir, especificamente, Caretos, é de inícios do séc. XVIII. Emboras as menções a mascaradas e chocalhadas, bem como à quebra de regras, especialmente no Entrudo, abundem desde a Idade Média. Curiosamente, essa menção é oriunda de uma povoação na qual já não existem Caretos, nem memórias há de terem existido. Porém, a documentação não mente, especialmente a provinda de eclesiásticos mundos. Acervo a partir do qual se percebem realidades muito distintas daquelas que conhecemos. Hoje será inconcebível a ideia de que os Caretos participavam em procissões… Ou que entravam em igrejas… Ou que os próprios padres participavam nas manifestações burlescas do Povo… Entre tantas outras coisas... Mas assim era!

Assim como o era o universo inseparável entre os Caretos e… os Pauliteiros. Parece que onde andavam estes a tocar e a dançar, Caretos andavam pelo meio. Aliás, ainda subsistem algumas manifestações onde se preserva essa ancestral ligação entre Pauliteiros e Mascarados. Mas sobre Pauliteiros e Zelas já cá virei noutra ocasião. Que isto de sermos «Leoneses» tem muito que se lhe diga…


Rui Rendeiro Sousa
– Doutorado «em amor à terra», com mestrado «em essência», pós-graduações «em tcharro falar», e licenciatura «em genuinidade». É professor de «inusitada paixão» ao bragançano distrito, em particular, a Macedo de Cavaleiros, terra que o viu nascer e crescer. 
Investigador das nossas terras, das suas história, linguística, etnografia, etnologia, genética, e de tudo mais o que houver, há mais de três décadas. 
Colabora, há bastantes anos, com jornais e revistas, bem como com canais televisivos, nos quais já participou em diversos programas, sendo autor de alguns, sempre tendo como mote a região bragançana. 
É autor de mais de quatro dezenas de livros sobre a história das freguesias do concelho de Macedo de Cavaleiros. 
E mais “alguas cousas que num são pr’áqui tchamadas”.

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