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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite, Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues, João Cameira e Rui Rendeiro Sousa.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 18 de novembro de 2025

Cristóvão Aires de Magalhães Sepúlveda - Os Governadores Civis do Distrito de Bragança (1835-2011)

 6.abril.1893 – 14.dezembro.1893
GOA, 27.3.1853 – LISBOA, 10.6.1930

Oficial do Exército. Investigador.
Curso de Cavalaria da Escola do Exército. Curso Superior de Letras.
Deputado (1890-1892, 1894, 1901, 1902-1904, 1904). Governador civil de Bragança (1893). Governador civil de Coimbra (1908-1909).
Natural de Ribandar, concelho de Tiswadi, Goa.
Filho de Rafael Aires de Magalhães, oficial do Exército, e de Anália de Sousa Sepúlveda.
Casou com Maria do Carmo Vaz de Carvalho, de quem teve Maria Anália Vaz de Carvalho Aires de Magalhães (n. 14.5.1875), Cândida Vaz de Carvalho Aires de Magalhães (n. 27.8.1877), Marta Vaz de Carvalho Aires de Magalhães (n. 5.10.1879), Valentina Vaz de Carvalho Aires de Magalhães (n. 10.12.1880), Cristóvão Aires de Magalhães (n. 19.12.1881), José Vaz de Carvalho Aires de Magalhães (n. 5.5.1884) e Rodrigo de Azevedo Aires de Magalhães (n. 3.6.1888).
Cunhado da escritora Maria Amália Vaz de Carvalho e do deputado António Cândido Gonçalves Crespo. Tio de Luís Vaz de Carvalho Crespo, deputado.
Agraciado com carta de Conselho. Cavaleiro e comendador da Ordem de São Tiago do mérito científico, literário e artístico. Cavaleiro, oficial e grande-oficial da Ordem de S. Bento de Avis. Comendador da Ordem da Coroa da Prússia. Comendador da Ordem de Carlos III de Espanha. Comendador da Ordem do Mérito Militar de Espanha. Grã-cruz da Ordem de Isabel a Católica (1899). Medalha militar de prata de comportamento exemplar. Medalha militar de prata de bons serviços.

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Tendo passado a sua infância e juventude na Índia Portuguesa, e quando se achava no último ano do curso de Infantaria da Escola Matemática e Militar de Nova Goa, Cristóvão Aires veio para Portugal em 1871, por influência do conde de S. Januário, ao tempo governador daquele território, para estudar a expensas de um subsídio concedido pelas Câmaras Agrárias de Goa. Foi Tomás Ribeiro, antigo governador civil de Bragança e à época secretário-geral do governador da Índia, quem encaminhou Cristóvão Aires nos primeiros passos na Metrópole.
Assentou praça como voluntário no Batalhão de Caçadores n.º 5, em novembro de 1872, e terminou os estudos secundários em Coimbra, concluindo depois o curso de Cavalaria na Escola do Exército, após o que foi promovido a alferes graduado, em dezembro de 1876, passando para o Regimento de Cavalaria n.º 4. Apaixonado pelos estudos, nesta fase inicial da sua carreira militar frequentou o Curso Superior de Letras e seguiu as lições de Economia Política de Luís de Almeida e Albuquerque, no Instituto Industrial e Comercial de Lisboa.
Entre 1877 e 1879, prestou serviço na Direção Geral de Artilharia, ficando destacado, neste último ano, no Arquivo Geral do Ministério da Guerra. Nos anos seguintes, passou por vários regimentos de Cavalaria, ascendendo ao posto de tenente em 1884 e de capitão em 1890. Simultaneamente, foi aprofundando os seus conhecimentos sobre a história do Exército, a tal ponto que, por portaria de 27 de dezembro de 1890, foi incumbido de escrever a História Orgânica e Política do Exército Português, que seria publicada em 20 volumes.
Pela mesma altura, foi nomeado promotor de Justiça nos tribunais militares junto do 2.º Conselho de Guerra da 1.ª Divisão Militar, cargo que exerceu até agosto de 1894, e que deixou para ocupar as funções de lente provisório na Escola do Exército.
Passou a lente efetivo em 1896, no mesmo ano em que foi nomeado vogal da comissão encarregada de elaborar o plano de organização de uma biblioteca militar.
Foi sucessivamente promovido a major em 1901 e a tenente-coronel em 1908.
Nesse mesmo ano, integrou a comissão incumbida de formular o programa comemorativo do Centenário da Guerra Peninsular. Atingiu o posto de coronel em 1911, e nesta patente, integrou a comissão encarregada de elaborar um novo regulamento para a promoção aos postos inferiores do Exército, em 1912, e a comissão de História Militar, em 1913, questão que dominava como poucos. Passou à reserva nesse ano de 1913 e dez anos depois, em 1923, reformou-se do Exército, com o posto de general.
Foi também um notável político, militando no Partido Regenerador, estabelecendo íntima amizade com Fontes Pereira de Melo, Hintze Ribeiro e Lopo Vaz de Sampaio e Melo.
Seria eleito deputado por cinco vezes, a primeira por Mapuçá (Goa), para a legislatura de 1890-1892 ( juramento a 16.6.1890). Foi depois reeleito para a legislatura de 1894, pelo círculo de Nova Goa ( juramento a 17.10.1894); para a legislatura de 1901, pelo círculo de Marco de Canaveses ( juramento a 7.1.1901); para a legislatura de 1902-1904, pelo círculo do Porto Ocidental (11.1.1902); e para a legislatura de 1904, pelo círculo de Bragança ( juramento a 30.9.1904).
Integrou a Comissão da Guerra, de que chegou a ser secretário (1890-1892, 1894, 1901 - 1904), e as comissões de Negócios Externos (1890), Redação do Diário (1891-1892), Ultramar (1892, 1894, 1901-1902), Marinha (1901-1903), Recrutamento (1901-1904), Bill de Indemnidade (1901) e Instrução Pública Superior e Especial (1902-1904).
Fez várias intervenções no Parlamento, começando a destacar-se logo nos seus primeiros discursos como conhecedor das questões relativas à Índia e à situação das forças militares. A sua primeira intervenção de significado data de 9 de julho de 1890, sessão em que chamou a atenção do ministro da Marinha para a administração de Goa e para a necessidade de rever o Tratado da Índia com a Inglaterra de 1878. Em 2 de agosto seguinte, interveio na discussão do projeto de lei que autorizava o Governo a contratar a navegação por barcos a vapor entre Lisboa e a costa oriental africana, salientando a importância de ligar Moçambique à Índia. A 9 de agosto, referiu-se à precariedade do serviço das Obras Públicas na Índia e à necessidade de valorizar o caminho-de-ferro de Mormugão, destacando também a questão da divisão administrativa e da necessidade de melhoramentos na agricultura e no ensino. Na sessão legislativa de 1891, evidenciou-se pelos seus discursos relativos à venda da Índia, combatendo as sugestões feitas nesse sentido pelos deputados Mendes Pedroso e José Bento Ferreira de Almeida. Em janeiro de 1892, referiu-se ao facto de terem sido rompidas as negociações com a Inglaterra para renovação do Tratado da Índia e no mês seguinte destacou-se na discussão do projeto de lei que estabelecia deduções nos vencimentos dos funcionários públicos, apontando diversas desigualdades nessas tributações. Em 1894, salientam-se os discursos que proferiu durante a discussão de uma proposta para que a Câmara afirmasse a sua consideração pelas forças militares e a sua confiança como elementos da defesa da integridade nacional, defendendo Cristóvão Aires a Marinha e o Exército perante as censuras que a oposição lhes dirigiu e o empenho do Partido Regenerador na defesa das colónias. Nos inícios de 1901, interveio em favor da construção do caminho-de-ferro em Bragança.
Entre outros dos seus discursos, sobressaem ainda os que realizou em abril de 1901, a propósito do projeto de aperfeiçoamento do sistema de promoções no Exército, que defendeu perante as críticas de João Franco e de Augusto Fuschini; o de 19 de fevereiro de 1903, durante a discussão do projeto de reorganização da Escola Naval; e o de 17 de março de 1904, sobre a situação dos oficiais europeus dos quadros do Ultramar, justificando a apresentação de um projeto de lei que tinha por fim melhorar as promoções e os seus vencimentos.
Foi nomeado governador civil de Bragança por despacho de 6 de abril de 1893, tomando posse a 19 desse mês, na presença de Tomás de Sá, governador civil substituto em exercício. A sua ação no Governo Civil de Bragança foi muito elogiada, nomeadamente na superintendência dos diversos ramos dos serviços públicos, tendo resolvido a situação quase anárquica que então se vivia na instrução primária daquele distrito.
Exonerado a 14 de dezembro seguinte, no tempo em que esteve em Bragança promoveu a reorganização do Centro Regenerador do distrito e preparou o campo para a formação de centros em vários concelhos da circunscrição. Também por isso, a comissão executiva do Partido Regenerador de Bragança, “querendo manifestar-lhe a sua profunda consideração e reconhecimento”, elegeu-o seu presidente honorário.
Seria ainda nomeado governador civil de Coimbra, a 22 de fevereiro de 1908, quando Francisco Ferreira do Amaral presidiu o Governo organizado em seguida ao regicídio. Exerceria estas funções até 14 de janeiro de 1909.
A par do seu impressionante percurso militar, Cristóvão Aires também se notabilizou nas letras, na tripla faceta de escritor de ficção, investigador e jornalista. Na imprensa escrita, começou por colaborar em jornais locais quando ainda estava na Índia, sendo inclusive encarregado de saudar em prosa e verso o infante D. Augusto de Bragança quando este visitou aquele território. Em Portugal, por 1876 colaborava no Diário Popular e no Jornal do Comércio e das Colónias, de que foi diretor entre 1885 e 1892. Dirigiu ainda os jornais Notícias de Lisboa e A Tarde, e colaborou no Diário de Notícias e em muitas outras publicações nacionais e estrangeiras.
Autor de mais de três dezenas de livros, a obra de Cristóvão Aires abrange quase todos os ramos da literatura, da poesia ao conto. Todavia, onde se revela um grande escritor e investigador é na já referida História do Exército Português, cujos vinte volumes foram publicados entre 1896-1932, uma obra de imenso fulgor que encontrou nele o primeiro historiador consciencioso e imparcial, aliando ao seu espírito crítico a rara qualidade de investigador probo e infatigável. Ainda no domínio da história militar, sobressai a sua Teoria da história da civilização militar (1897); o Esboço histórico do Regimento de Cavalaria 7 (1893); os quatro volumes da História da Cavalaria Portuguesa (1880-1894); Organização militar dos árabes na Península (1901); Estradas militares romanas de Braga a Astorga – manuscrito do padre Martins Sarmiento (1901); Pela pátria. A conquista de Portugal, Lisboa, 1902; e um Dicionário da Guerra Peninsular, também em quatro volumes (1924-1930).
Desenvolveu investigação histórica noutros domínios, com destaque para O conde de Schonberg. Estudo histórico baseado sobre alguns documentos inéditos (1892); duas memórias, Testamento de Afonso de Albuquerque e Testamento de D. João de Castro (1899 e 1901); Fernão Mendes Pinto. Subsídios para a sua biografia e para o estudo da sua obra (1904); Fernão Mendes Pinto e o Japão, pontos controversos. Discussões. Informações novas (1906); Elogio histórico de António de Serpa Pimentel (1907); e A prisão do infante D. Duarte (1918).
Na área dos contos e poesia, avultam as obras Indianas e Portuguesas, 1870-1875 (1879); Novos horizontes, 1875-1880 (1882); Íntimas (1885); Longínquas. Fantasias orientais (1891); Lantejoulas (1890); Casal de Santo António (1910); Anoitecer (1912); e Cinzas ao vento (1921).
Foram igualmente publicados vários discursos da sua autoria, maioritariamente proferidos na Câmara dos Deputados, tocando os mais diversos temas, a confirmar a assinalável abrangência do seu conhecimento, incluindo A venda da Índia (1891), Equidade dos novos impostos, os serviços e as despesas do Exército (1892), A reorganização da Academia de Belas-Artes do Porto (1902), Reforma da Escola Naval (1903), Os oficiais europeus dos quadros do Ultramar (1904) e um discurso a propósito do Centenário do nascimento de Alexandre Herculano (1910).
Traduziu diversas obras de Júlio Verne, era sócio correspondente da Academia de História de Madrid e sócio do Instituto de Coimbra. Ingressou na Academia das Ciências de Lisboa como sócio correspondente em 1886, passando a sócio efetivo em 1900. Em 1907, exerceu o cargo de inspetor da biblioteca, em 1919, foi eleito seu secretário-geral, e em 1929, passou à categoria de sócio emérito e secretário-geral honorário, tendo ele próprio produzido e publicado, dois anos antes, um contributo para a história da Academia das Ciências de Lisboa.
Durante vários anos e até à sua morte, fez parte do conselho fiscal da Assistência Nacional aos Tuberculosos. O seu vasto e importantíssimo arquivo particular encontra-se hoje depositado em fundo próprio no Arquivo Histórico Militar.

Notícia sobre a chegada a Bragança de Cristóvão Aires por ocasião da sua tomada de posse como governador civil, acompanhada de um perfil biográfico (1893)

No dia 18, à tarde, chegou a Bragança o ilustre governador civil do distrito, Sr. Cristóvão Aires de Magalhães Sepúlveda. A uma légua de distância, foram em duas carruagens esperar o novo chefe do distrito os Srs. Tomás de Sá, governador civil substituto, Augusto Lousa, secretário-geral, Silvino da Câmara, delegado do Tesouro, Dr. Joaquim de Sá, tesoureiro pagador, Dr. Abílio Beça, presidente da Comissão Distrital, António Beça, administrador do concelho, F. Avelino Ferreira, presidente da Câmara, Trajano de Oliveira, comissário de polícia, e Antero Lopes Navarro.
Desde Mirandela, acompanhavam o Sr. Cristóvão Aires os Srs. Abílio Soeiro e Francisco Lopes Navarro. Apenas pôs pé no distrito, o distinto funcionário começou a ser cumprimentado por muitas das pessoas mais consideradas e respeitáveis dos concelhos que ia atravessando.
Na estação de Foz Tua, era esperado pelos Srs. César Martins, presidente da Câmara e chefe do Partido Regenerador de Carrazeda de Ansiães, João da Veiga Martins, administrador do concelho, Manuel Maria Múrias e outros, sendo acompanhado por aqueles dois até Mirandela.
À estação do Cachão vieram cumprimentá-lo muitas pessoas de Vila Flor, entre as quais os Srs. visconde de Ferreira Lima, juiz de direito, António de Lemos, presidente da Câmara e do Centro Regenerador, Dr. António Augusto de Azevedo, Paulo José Pinto, Belmiro de Matos e Sá, administrador do concelho, Henrique José Pinto, etc., etc.; seguindo-o para Mirandela o presidente da Câmara e administrador de Vila Flor.
Foi considerável a concorrência de pessoas gradas na estação de Mirandela à espera do novo governador civil. Damos os nomes de algumas: visconde da Bouça, par do Reino, Francisco Pavão, antigo deputado, Dr. António Rocha, Dr. António Marcelino Durão, delegado da comarca, Dr. Olímpio de Andrade, presidente da Câmara, Leopoldo Sarmento, administrador do concelho, Domingos Cid, José de Sá Miranda, administrador de Macedo, Francisco Navarro, Dr. António Joaquim da Silva, António Barreira, Alfredo Lemos, etc. O Sr. Abílio Soeiro fez as apresentações do estilo.
Ao Sr. Cristóvão Aires foi oferecido pelo Sr. João Pereira Charula, chefe do Partido Regenerador do concelho de Macedo de Cavaleiros, um magnífico almoço no seu opulento palacete dos Cortiços.
Em Macedo foi também cumprimentado pelas autoridades da terra o Sr. governador civil, seguindo daí para Bragança.
Daremos em rápidos traços algumas notas biográficas do ilustre governador civil recém chegado.
Descendente da ilustre família Sepúlveda, que em Bragança representou papel importantíssimo na guerra peninsular, o Sr. Cristóvão Aires nasceu em Goa, na Índia portuguesa, teatro de antigas glórias de nossos heroicos antepassados. Adolescente ainda, fez os seus estudos em Coimbra e Lisboa, onde cursou a Escola do Exército com distinção, seguindo a arma de Cavalaria, e o Curso Superior de Letras, no qual foi laureado.
Nas letras, o seu talento manifestou-se primeiro como poeta muito apreciado, publicando livros de versos com os títulos de Indianas e Portuguesas, Novos Horizontes, Íntimas, Longínquas, três dos quais tiveram duas edições. Escreveu também um livro de contos, Lentejoulas.
Começou também cedo a labutar na faina do jornalismo diário da capital, entrando em 1876 para a redação do Jornal do Comércio, uma das mais conceituadas folhas do nosso País e da qual passou a ser diretor político desde 1884 a 1892.
Ser jornalista em Portugal é ser político; e o Sr. Cristóvão Aires milita desde há muito no Partido Regenerador, em que tem ocupado lugar distinto. Como deputado por um dos círculos do Ultramar, teve já assento na Câmara eletiva, onde pronunciou dois discursos notáveis, que se acham publicados em folhetos.
O Sr. Cristóvão Aires, sendo capitão de Cavalaria 7, andou desviado sempre do serviço do regimento no desempenho de comissões honrosas. Ultimamente era promotor nos Conselhos de Guerra da Primeira Divisão Militar.
Nessa situação é que foi pelo nosso Governo encarregado, precedendo concurso entre os oficiais de todas as armas, da elaboração da História Orgânica e Política do Exército Português, cujo primeiro volume, que abrange as épocas romana, goda e árabe, entra brevemente  no prelo. Da História da Cavalaria, que tem já concluída, estão já publicados dois grossos volumes dos quatro de que se compõe.
Como se vê, a bagagem literária e científica do Sr. Cristóvão Aires já não é pequena. E sendo ele um homem novo, mostra que tem um talento formado de aptidões várias e que possui a admirável atividade do trabalhador moderno.
À frente da administração do distrito de Bragança têm já estado homens ilustres no mundo literário; e entre eles sobressai o vulto simpático e glorioso do Sr. Tomás Ribeiro. O Sr. Cristóvão Aires é outro distinto homem de letras que vem ilustrar como funcionário superior o nosso distrito.
São das melhores as impressões que o novo governador civil tem produzido no ânimo dos que dele mais se hão acercado. Aos dotes da sua elevada inteligência reúne a cordura do trato, a distinção das maneiras e a vontade de ser útil à região cuja administração lhe foi confiada.
Tem havido governadores civis estranhos ao distrito que pelo seu proceder nenhumas saudades deixaram de si. Pela sua simples apresentação, parece-nos que o novo chefe do distrito deverá ser sinceramente estimado nele, tanto mais que virá, cremo-lo, a ser-lhe credor de serviços apreciáveis. Receba, pois, o ilustre funcionário os nossos cumprimentos de boas-vindas.

Fonte: Gazeta de Bragança, II ano, 1893, n.º 68, Bragança, 25 de abril.

Notícia da exoneração de Cristóvão Aires do cargo de governador civil de Bragança (1893)

O nosso prezadíssimo amigo Sr. Cristóvão Aires, que há poucos dias, ao sair daqui, estava ainda incerto se voltaria a Bragança como governador civil, deliberou em Lisboa pedir a exoneração do elevado cargo que ele exerceu distintamente em circunstâncias bem difíceis.
Sabemos que alguns dos seus atos não agradaram, nem podiam agradar a correligionários que com eles ficaram em situação bastante falsa; e sob o ponto de vista da política local, se um mais alto critério os não justificasse, eles teriam talvez sido menos bem vistos pelo partido inteiro.
Mas o Sr. Cristóvão Aires, fazendo o sacrifício de aceitar uma missão delicadíssima e cumprindo, como delegado de confiança do Governo, as instruções que dele recebera – as quais as circunstâncias especiais da época crítica que atravessamos indicavam e imperiosamente impunham – prestou serviços relevantes à atual situação política, que se tem mantido e robustecido, mercê da observância, por parte dos governantes, da mais estrita legalidade e do regímen de conciliação adotado nas relações dos partidos.
Como amigo dedicado e grato que somos do Sr. Cristóvão Aires, poderemos parecer suspeitos na apreciação vantajosa que fazemos da administração do ilustre governador civil; mas convictamente o proclamamos: a passagem do distinto magistrado pelo Governo Civil de Bragança foi das mais ilustradas e brilhantes e cremos que será por muito tempo lembrada com elogio e, pelo menos por nós, com viva saudade.

Fonte: Gazeta de Bragança. Folha regeneradora, Ano II (n.º 100), 1893, p. 2.

Fontes e Bibliografia

Arquivo Distrital de Bragança, Autos de Posse (1845-1928).
Arquivo Histórico Militar, Processo individual de Cristóvão Aires de Magalhães Sepúlveda.
Gazeta de Bragança, II Ano, n.º 85, 1893.
AIRES, Cristóvão. 1896-1908. Historia organica e politica do exercito portuguez, 5 volumes. Lisboa: Imprensa Nacional.
ALVES, Francisco Manuel. 2000. Memórias arqueológico-históricas do distrito de Bragança, vol. VII. Bragança: Câmara Municipal de Bragança / Instituto Português de Museus.
AMZALAK, Moses Bensabat. 1931. “Elogio histórico de Cristóvam Aires de Magalhães Sepúlveda”, in Boletim da Academia das Ciências de Lisboa, n.º 3.
AMZALAK, Moses Bensabat. 1953. Cristóvão Aires, o Homem e a sua Vida. Lisboa: s. ed. GRANDE Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, t. I Lisboa, 1935-1987.
MÓNICA, Maria Filomena (coord.). 2004. Dicionário Biográfico Parlamentar (1834-1910), vol. III. Lisboa: Assembleia da República.
SILVA, Inocêncio Francisco da; ARANHA, Brito. 1862. Diccionario Bibliographico Portuguez. Lisboa: Imprensa Nacional, vol. XVIII.

Publicação da C.M. Bragança

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