(Colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
Muito do que se sabe acerca de recuados tempos romanos provém, ou de achados arqueológicos, ou de escritos deixados pelos chamados autores clássicos. Por entre algumas Histórias, Geografias, Cosmografias e Corografias, para o caso em apreço, destaca-se um manuscrito, provavelmente escrito no século III, que consta de uma compilação dos principais itinerários romanos, indicando as distâncias entre os locais aí assinalados.
Através da conjugação das obras clássicas com os referidos achados arqueológicos, nos quais se incluem, por exemplo, povoados romanizados ou miliários, tem sido possível, ao longo dos séculos, o estabelecimento dos diversos percursos das vias romanas. Para o caso do distrito de Bragança, interessa, particularmente, a que ligava Braga a Astorga, a «nossa» capital do «Conventus Asturicensis», quer através da via principal, quer através de uma sua derivação a sul.
À excepção de Aquae Flaviae, a actual cidade de Chaves, é sabido que não tivemos, por aqui, nenhuma destacada cidade romana. O que impeditivo não foi para a existência de quintas, pousadas ou povoações, algumas que adquiririam uma maior importância dentro da respectiva circunscrição territorial. Ao seguirem-se os traçados, quer por via das fontes literárias, quer através dos vestígios físicos que ainda permanecem, sejam eles as próprias calçadas ou os já referidos miliários, é possível estabelecer que duas das anotações constantes na literatura, se situariam em território actualmente bragançano.
Embora, ao longo dos anos, tenham sido apontadas diversas associações a localidades do distrito, parece hoje consensual, por diversos estudos e pela associação de diversos factores, que a primeira delas, «Pinetum», se situaria nas imediações de Vale de Telhas (Mirandela). Já quanto à segunda delas, «Roboretum», tudo aponta para que corresponderia ao sítio conhecido como Torre Velha, em Castro de Avelãs, local onde, presumivelmente, poderá ter-se situado a «Curunda», cidade capital dos Zelas, já aqui trazida na publicação anterior.
A acrescentar a estas, foi encontrada uma inscrição, cuja proveniência se desconhece, no interior da igreja de Lamas de Orelhão, que poderá corresponder a um «terminus augustalis», ou seja, um demarcador de limites territoriais. Inscrição essa onde se pode ler, já traduzido para Português, «aqui os de Ledra». Esta anotação aqui é trazida, por ser «Ledra» um topónimo perfeitamente identificável na actualidade. Embora «Ledra» não fosse uma povoação em si, mas uma região, que corresponderia, já em época medieval, às «Terras de Ledra», das quais ainda permanecem vestígios toponímicos em três actuais povoações.
Uma nota final para outras duas localizações já associadas a terras bragançanas: «Compleutica» e «Caladunum». A primeira chegou a ser associada à localização da actual cidade de Bragança, considerando-se, na actualidade, que se situa em terras espanholas. Quanto à segunda, «Caladunum», não obstante surgir associada a Mirandela, a sua localização é, de forma inequívoca, seguindo o referido itinerário do século III, bem como às milhas relativas a distâncias por lá anotadas, no concelho de Montalegre. Parecendo que a associação da dita «Caladunum» a Mirandela se terá baseado num mapa do século XVI, nos primórdios da cartografia. Infelizmente, são inúmeros os mapas, inclusive até ao século XVIII, ou mais tarde, pejados de imprecisões.
Em conclusão, para lá da «Curunda» dos Zelas, que poderia, sem certezas, situar-se em Castro de Avelãs, para a mesma localização se apontando «Roboretum», assim como para Vale de Telhas é associada «Pinetum», estas são as presumíveis designações mais antigas relativas ao território do actual distrito de Bragança. Acrescendo a estas a inscrição que faz menção a uma região, ou seja, a Ledra. São, como tal, e provenientes de época romana, os quatro mais remotos topónimos com provável associação a terras bragançanas.
Um destes dias, para os interessados nestas coisas, talvez traga por cá outras, já de período Suevo e Visigodo...
(Foto: Chavesandaround)
Rui Rendeiro Sousa – Doutorado «em amor à terra», com mestrado «em essência», pós-graduações «em tcharro falar», e licenciatura «em genuinidade». É professor de «inusitada paixão» ao bragançano distrito, em particular, a Macedo de Cavaleiros, terra que o viu nascer e crescer.
Investigador das nossas terras, das suas história, linguística, etnografia, etnologia, genética, e de tudo mais o que houver, há mais de três décadas.
Colabora, há bastantes anos, com jornais e revistas, bem como com canais televisivos, nos quais já participou em diversos programas, sendo autor de alguns, sempre tendo como mote a região bragançana.
É autor de mais de quatro dezenas de livros sobre a história das freguesias do concelho de Macedo de Cavaleiros.
E mais “alguas cousas que num são pr’áqui tchamadas”.

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