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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite, Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues, João Cameira e Rui Rendeiro Sousa.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 27 de novembro de 2025

Terras de Bragança mencionadas no… século VI. E centros de cunhagem de moeda Visigoda por… Terras de Bragança!

Por: Rui Rendeiro Sousa
(Colaborador do "Memórias...e outras coisas...")


 Vou confessar-vos algo: sempre que escrevo sobre estas magníficas terras, fico irritado. O que poderá soar a um paradoxo. «Se o irrita, porque escreve, então?» - poderão perguntar, com toda a legitimidade. «Porque temos tanto e fazemos tão pouco com o tanto que temos!» - responderei. E ainda acrescentarei: «E valorizamos, de ínfima forma, esse tanto que temos, aí incluídos os que nos governam!». Depois, por vezes, apetece «mandar tudo às malvas», possuído por esta estranha sensação de que poderei assemelhar-me a um D. Quixote dos tempos modernos, a lutar contra imaginários moinhos, enquanto me «armo» em calcanhares de um neo-Padre António Vieira, em novo «Sermão de Santo António aos peixes». “Bá”, isto são só alegorias, a léguas das do dito magnífico e incomparável «Sermão»… 

Ah! Já quase me esquecia que não vim aqui para escrevinhar sobre personalidades ou figuras do século XVII, mas sim acerca do século VI, mais de mil anos antes. Presumo que não deverá gerar qualquer confusão imaginar que os nossos décimos avós já por cá andassem no dito século XVII, afinal são apenas quatrocentos anos de distância. Mas, no século VI? Nessa época, a crer na «cartilha», as «Terras de Bragança» ainda não tinham sido inventadas, nem sequer existiam, que isto era um buraco enorme, sem fundo, que apenas seria preenchido, muito mais tarde, pela terra saída dos túneis que os Mouros aqui fizeram. Mesmo que, tudo o aponte, os ditos Mouros nunca tenham estado por aqui. E já me dispersei, que os Mouros só entrariam na Península no século VIII, e aqui vim para abordar uns «tempitos» antes, quando «ainda não habitava aqui gente», e isto estava «cheio de feras e demónios». “Bitchus-papões e diatchus’e”… Mas também havia Suevos e, depois, Visigodos… Desculpem, por favor, os desvarios. 

Aos ditos Suevos devemos, por entre outras coisas, o testemunho efectivo da existência, na nossa região, das primeiras comunidades cristãs estruturadas, já em finais do Século VI. Isso se depreende a partir de um magnífico documento, conhecido que ficaria pela genérica designação de «Paroquial Suevo». Trata-se da primeira divisão eclesiástica de âmbito paroquial conhecida. Na qual surgem, adstritas à Diocese de Braga, paróquias ou «pagi» localizados em terras do actual distrito de Bragança. Por lá constam cinco (posteriormente, seis) designações que, por diversos e válidos motivos, se presume situarem-se nestas «terras de trás-do-sol posto». 

Havendo dois (posteriormente, três) cuja grafia poderá remeter-nos para algo mais familiar, os restantes três constituem-se como estranhos para a realidade actual. E assim já tínhamos uma «Vergantia» («Vergancia», noutras versões), uma «Laetera» e, posteriormente, uma «Vallaritia». Ou seja, designações equivalentes às actuais denominações Bragança, Ledra e Vilariça. Já lá iremos… Antes disso, as restantes três: «Astiatico», «Tureco» e «Auneco» (nomes todos catitas). 

Retendo-nos nas três primeiras, haveriam de corresponder, posteriormente, às medievais «Terras de Bragança», «de Ledra» e «da Vilariça». Sendo que esta última parece ser uma interpolação tardia, não constando das primeiras edições. É comummente aceite que, sendo paróquias com alguma extensão, deveriam ter algum local central que as «administrasse». Em relação à primeira, não obstante o nome, convém não a confundir com a actual cidade de Bragança (esta tomaria, posteriormente, o nome das terras das quais seria cabeça). A localização da «sede de Vergantia», dando seguimento à importância anterior, situar-se-ia na actual Castro de Avelãs, a «Roboretum» dos itinerários romanos. Por sua vez, a «de Laetera», manter-se-ia na «Pinetum» romana, ou seja, em Vale de Telhas (Mirandela). Quanto à «de Vallaritia», tudo aponta para que se localizasse no actual território de Torre de Moncorvo. 

Estes três «pagi», ou «pagus», possuem a particularidade de terem permanecido após a instalação do Reino Visigodo. Pois dos mesmos serão originárias várias moedas visigodas, que os indicam como centro de cunhagem. Isto é, houve seis reis visigodos que cunharam moeda em «Brigantia», em «Laetera» e em «Valleritia». O que é, na minha humilde perspectiva, fantástico!

Assim como dois desses monarcas visigodos também cunhariam moeda em «Tureco». Denominação esta, à semelhança de «Astiatico» e «Auneco», que não deixaram vestígios toponímicos. Seguindo a lógica de atribuição das áreas das paróquias, bem como pela existência de vestígios arqueológicos, presume-se, na actualidade, que a «sede de Tureco» se situasse onde se ergue o Convento de Balsamão (Macedo de Cavaleiros), local que deteria, com castelo e povoação, alguma importância estratégica até ao século XIV. Por sua vez, a «sede de Astiatico» situar-se-ia no actual concelho de Mogadouro, sendo apontada a Vila de Ala como tal. Por último, desconhecendo-se qualquer localização concreta, é referido o concelho de Carrazeda de Ansiães para a ocorrência de «Auneco». 

E “prontus’e”… “Num bus tchatêu mais cum Suebus e Bisigodus’e”… Povos que, contrariamente ao habitualmente veiculado pela «cartilha», também andaram por aqui. E até nos deixaram marcas da sua presença… “C’mu quera, pur’i”... 

(Foto: Moeda do rei Sisebuto, cunhada em «Laetera»)


Rui Rendeiro Sousa
– Doutorado «em amor à terra», com mestrado «em essência», pós-graduações «em tcharro falar», e licenciatura «em genuinidade». É professor de «inusitada paixão» ao bragançano distrito, em particular, a Macedo de Cavaleiros, terra que o viu nascer e crescer. 
Investigador das nossas terras, das suas história, linguística, etnografia, etnologia, genética, e de tudo mais o que houver, há mais de três décadas. 
Colabora, há bastantes anos, com jornais e revistas, bem como com canais televisivos, nos quais já participou em diversos programas, sendo autor de alguns, sempre tendo como mote a região bragançana. 
É autor de mais de quatro dezenas de livros sobre a história das freguesias do concelho de Macedo de Cavaleiros. 
E mais “alguas cousas que num são pr’áqui tchamadas”.

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