(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
Para quem conheça a Catalunha, depois de se passar por lá um tempo longo, no qual começamos por, naturalmente, nos comunicar em Castelhano, os Catalães começam, gradualmente, a olhar-nos de soslaio. Não deixam de falar connosco, em Castelhano, mas a simpatia vai reduzindo. Tendo notado tal fenómeno, perguntei sobre quais as razões para isso. Fiquei a aprender um pouco de História de Espanha, particularmente no que respeitava à forma como um determinado sistema político ditatorial quase matou a original Língua Catalã. E lá tive de ir aprendendo a dita Língua Catalã. Tendo começado a notar um certo regresso da simpatia quando passei o trocar o «buenas noches» por «bona nit», o «muchas gracias» por «moltes gràcies», o «por favor» por «si us plau», ou o «hasta mañana» por «fins demà».
Notei, igualmente, que os Catalães são muito ciosos da sua História, das suas tradições, da sua Língua. Ao ponto de os sinais de localização ou direcção se encontrarem todos em Catalão. Ou seja, por exemplo, pela Catalunha não há nenhuma placa a indicar-nos a direcção de «Lérida», designação castelhanizada e aportuguesada para a oficial «Lleida». Assim como o seu principal aeroporto, o de Barcelona, não é «El Prado», mas sim «El Prat». No qual todas as informações sonoras também são transmitidas em Catalão. E muito me entusiasmava aquela voz simpática provinda dos altifalantes a pronunciar um «si us plau, passatgers amb destinació a Porto», que era chegada a minha vez de regressar, por um fim-de-semana, a casa.
Tendo-me interessado pela questão dos chamados «idiomas minoritários», algo semelhante notei na Galiza e no País Basco. Onde o Galego e o Euskera, à semelhança do Catalão, haviam sofrido a «pena de morte» decretada pelo Franquismo. Ficaram moribundos, mas regressariam em força! Hoje, ser culto, ser erudito, nas respectivas regiões, é falar e comunicar-se nos idiomas históricos e originais. Não obstante toda a gente falar, em simultâneo o Castelhano «colonizador», sendo por isso bilingues.
Fiquei “imbijósu’e” em relação aos Catalães, aos Galegos e aos Bascos. Relativamente ao orgulho que eles sentiam nas suas origens, na sua ancestralidade. Apenas porque, no meu Nordeste, algo similar acontecia, no que respeitava à existência de uma História singular ou de uma Língua única, onde o Estado Novo tinha tentado imitar o seu parceiro do outro lado, assassinando essas História singular e Língua única, impondo o estigma do «falam mal Português» ou as falácias históricas que nos foram inculcando. Parece que o regime ditatorial deste lado teve mais sucesso nesse «assassinato» do que o do lado de lá…
E fico a imaginar alguém, de ignorante e sobranceira forma, a deixar aqui um comentário: «Pero en Cataluña ya no se habla Castellano?»… Qualquer Jovem Catalão, pleno de orgulho na sua identidade, responderia: «Això és Catalunya! I, molt abans que la gent parlar castellà, parlava català!»… («Isto é a Catalunha! E, muito antes de a gente falar castelhano, falava catalão!»). Mas isso, são os bilingues Jovens Catalães, que conhecedores são da sua História e da sua Língua, bem como da forma como um regime ditatorial quase as ia matando...
Por cá, alguns jovens, apenas faladores da culta “língua fidalga”, parecem desconhecer que um regime ditatorial tentou fazer semelhante coisa à nossa essência. E espumam-se, se necessário for, em “língua fidalga”, desconhecendo que estão a manifestar, 50 anos volvidos, apoio à propaganda de um… regime ditatorial! O que estranho é...
Sou, igualmente, muito orgulhoso da Língua Portuguesa. Porém, também sou capaz de dizer: «Eiqui ye l Nordiste! I mui antes de se falar Pertués, yá falábamos l Lheonés»…
«Çculpen qualquiera cousa»...
(Foto: © Rui Rendeiro Sousa)
Rui Rendeiro Sousa – Doutorado «em amor à terra», com mestrado «em essência», pós-graduações «em tcharro falar», e licenciatura «em genuinidade». É professor de «inusitada paixão» ao bragançano distrito, em particular, a Macedo de Cavaleiros, terra que o viu nascer e crescer.
Investigador das nossas terras, das suas história, linguística, etnografia, etnologia, genética, e de tudo mais o que houver, há mais de três décadas.
Colabora, há bastantes anos, com jornais e revistas, bem como com canais televisivos, nos quais já participou em diversos programas, sendo autor de alguns, sempre tendo como mote a região bragançana.
É autor de mais de quatro dezenas de livros sobre a história das freguesias do concelho de Macedo de Cavaleiros.
E mais “alguas cousas que num são pr’áqui tchamadas”.

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