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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite, Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues, João Cameira e Rui Rendeiro Sousa.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 4 de novembro de 2025

Uma Geração sem preconceitos

Após ler o excelente texto da autoria do meu amigo António Pires e observando o leque de reações suscitado, atrevi-me a revisitar o âmago do artigo sem qualquer outra pretensão que não seja brincar com a memória dos meus contemporâneos e despoletar alguns comentários sobre esses anos marcantes para a nossa geração.

Na realidade, embora tivesse noção da clientela dos cafés enunciados, na minha integração em Bragança não fez mossa essa aludida estratificação social. Talvez tivesse a ver com o período revolucionário então vivido ou, pelo meu desconhecimento do status quo vigente na época. De qualquer forma, fosse qual fosse o motivo, eu não frequentava esses cafés ditos elitistas e dos que restam, continuo a passar ao lado.

Ultrapassando sem qualquer tipo de constrangimento este pequeno introito, o meu objetivo será discorrer de uma forma descomprometida e lúdica, assinalando outros locais de reunião do maralhal que, não tendo sito objeto de referência por parte do António Pires, imagino que se assumiam como absolutamente democráticos e acolhedores.

E como a sua análise andou ali pelo centro, será pelo centro que vou começar. E nada melhor do que o icónico “Moderno”, para iniciar as hostilidades. Este café, constituído por duas salas, uma enorme e outra mais pequena, situava-se na Rua Almirante Reis. A sua clientela ser bastante heterogénea, sendo que na sala maior os estudantes dominavam. Embora muito grande, a sala era aconchegante e, nos longos dias de inverno, o pessoal passava lá longas horas.

Depois tínhamos o Transmontano, já um pouco distante do centro, pois situava-se no final da avenida João da Cruz, em frente à estação da CP. Como já foi aqui aflorado pelo meu ex-colega e amigo Humberto Sampaio, era muito frequentado principalmente por alunos da ECIB e também por militares.

A seguir vou referir o Príncipe Negro que, em aditamento ao referido pelo António Pires, parecia-me que os seus clientes, além de alguns estudantes, eram maioritariamente trabalhadores, principalmente à noite e fins de semana. E era um regalo ver a exposição de motorizadas estacionadas em frente do Café. E quando surgiu a V5? De qualquer forma não era um local onde me poderiam encontrar.

Agora vou dar uma volta pela Rua Alexandre Herculano em direção ao Loreto. E aqui deveremos considerar em primeiro lugar, por motivos exclusivamente de geografia, o Café Stadium (também conhecido por ZIP). Bebiam-se lá uns bons finos, jogavam-se matraquilhos na cave e fazia-se o embalo para o resto da noite. Clientela muito diversificada, mas sempre com estudantes. Depois, seguindo pelo mesmo passeio, surge-nos o Café Primavera. Aqui os estudantes não dominavam a situação. Era um local onde se bebiam uns copos, comiam-se uns petiscos e jogavam-se às cartas. Depois aparecia a joia da coroa, o Café Mini Copa. Era um local de pequenas dimensões, que albergava durante todo o dia estudantes do Liceu. Estes desciam por um carreirão situado, grosso modo, onde hoje existem as escadinhas que ligam a Rua Santa Isabel à Avenida Sá Carneiro e desta à Rua do Loreto. Era um local de encontros e confraternização, frequentado quase exclusivamente por estudantes, pelo menos durante o dia.

Finalmente, um bar muito diferente e muito bem frequentado chamado “Bôlha”. Era uma estrutura de madeira, instalada na parte superior do Jardim António José de Almeida, na confluência da parede do Ciclo Preparatório e da Rua da República. Munido de umas colossais colunas de som, servia uns excelentes finos ao som do melhor rock que se ouvia na altura. Foi ali que ouvi pela primeira vez o “Wish you were here” dos Pink Floyd, assim como “Crime of the Century, dos Supertramp e ainda “A Night at the Opera” dos Queen (ao qual inicialmente não achei muita graça, tão diferente que era). Clientela heterogénea, avant-garde e divertida.

A seguir vou mudar de rumo, ou seja, irei aflorar outro tipo de estabelecimentos onde o pessoal masculino, sem qualquer tipo de estratificação social, passava horas e horas, em vez de estar a queimar as pestanas a estudar. Refiro-me, obviamente aos salões de jogos. E nessa altura (segunda metade da década de setenta e primeira metade de década seguinte, havia três: o Flórida 1, e o Flórida 2 e o salão do Sr. Henrique, inicialmente colocado junto ao BNU, igualmente numa estrutura de madeira. No primeiro, situado na Rua de Trás (Abílio Beça), espaçoso, jogávamos bilhar e snooker. Passávamos lá tardes e noites sem vacilar. Com cerveja e cigarros. No outro, um espaço exíguo na Rua da República, havia quatro mesas de matraquilhos, sob a supervisão do inesquecível Guta (Ó Guta, endireita aqui o varão!). Este espaço, igualmente lembrado pelo meu amigo Álvaro Lopes, era palco de jogos épicos, democráticos e infindáveis. Só quem os viveu pode compreender o quão eram empolgantes. No terceiro salão o ambiente era diferente: havia mais mesas de matraquilhos, flippers e máquina de música. Boa energia, não é Luís Henrique?

Continuando na senda das tendências de “bardinice” da juventude desses inclusivos anos, passarei agora para a categoria seguinte: discotecas. Para além da “boite” do Cruzeiro, não acessível a estudantes, nada mais havia. Eis senão quando surge uma pedrada no charco. É inaugurada em Vale de Álvaro a discoteca Aero-Hélice, vulgarmente conhecida como Bataclã, por influência da telenovela Gabriela. Mas os estudantes não tinham via verde para ali aceder. Eu próprio nunca pus lá os pés. Mas que foi um sucesso, isso foi. Depois apareceram outras, no final da década de 70 e princípio de década de 80. A Aranha, na Avenida do Sabor, A REP na Rua da República e a Bruxa na Rua do Loreto. Era uma tríade fantástica. Chegava a passar pelas três numa noite. Funcionavam todos os dias (acho eu), das 23h às 02h. Maravilha, sem nos esquecermos das célebres e apetecíveis matinés de sábados e domingos (domingos não tenho a certeza). Era o tempo da música disco, onde se dançava ao som dos Bee Gees, de Stevie Wonder, da Gloria Gaynor e mesmo do Patrick Hernandez, pelo menos até ao final da década de setenta. Na década seguinte começou a aparecer uma corrente mais pop/rock, como por exemplo o Rui Veloso, os Heróis do Mar e mesmo AC/DC e ZZ Top. E havia também infindáveis concursos de dança, eventos que definiam de facto a noite de Bragança. 

Finalmente e já no dealbar dos anos oitenta, surgiram alguns novos estabelecimentos, que provocaram uma certa transição nos movimentos pendulares efetuados diariamente pelo pessoal. Lembro-me do Self-service da Torralta (mais vocacionado para os teenagers que começavam a sair de casa, do Dragão (o meu Dragão) e o Tulipa. Foram locais muito frequentados e onde se reunia muita gente. Não nos podemos esquecer que, entretanto, já tinham encerrado o Moderno e o Progresso.

Dito isto e não havendo mais nada de relevante a acrescentar, com o intuito primordial de despertar as vossas memórias, direi que este conjunto de estabelecimentos, numa lógica de uma certa euforia da indisciplina, funcionaram como marcas impressivas, as quais indubitavelmente foram determinantes na moldagem daquilo que sou hoje. Obrigado àqueles que me acompanharam e nas interações que marcaram a nossa vivência.

Resolvi incluir uma fotografia minha daquela época, desfocada, que era como os meus compinchas me viam no fim a noite.

Carlos Morais, 11/2025

Manuel Carlos Dias Morais

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