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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite, Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues, João Cameira e Rui Rendeiro Sousa.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 21 de novembro de 2025

Zelas, Romanos… o Natal e a data do nascimento de Jesus Cristo… e outras “cousas”

Por: Rui Rendeiro Sousa
(Colaborador do "Memórias...e outras coisas...")


 Quando catraio era, as festividades do Natal começavam, sensivelmente, uma semana antes do dia 25 de Dezembro. As montras eram iluminadas e enfeitadas com natalícias decorações, e nos «sotos», que centros comerciais não havia, surgiam, para delícia da pequenada, as pistas de carrinhos, os jogos de tabuleiro, especialmente o «Jogo da Glória», as bonecas, e outros adereços mais para aguçar o apetite do Menino Jesus, que o fenómeno do refrigerante com nome de Pai Natal ainda não tinha chegado. Também era hora de ir cometer o sacrilégio ambiental de cortar um «pinheirinho amanhadinho», bem como ir aos sítios do costume em busca do musgo para elaborar o Presépio. Eram outros os tempos do «não consumismo desenfreado». Hoje, pelo andar que a carruagem leva, não tardará muito a estarmos em época estival, e pela praia começar a surgir um «oh, oh, oh» em fato-de-banho encarnado a vender «Bolas do Pólo Norte», ao invés das tradicionais «Bolas de Berlim»… Adiante...

Quem conheça a Bíblia saberá que não há qualquer menção à data do nascimento de Jesus Cristo. E também saberá que, apesar de algumas indicações, não há consenso relativamente à data do seu baptismo no Jordão, por S. João Baptista. E quem esteja efectivamente consciente dos valores do Cristianismo, saberá que o seu grande dogma é a Ressurreição, ou seja, o que festejamos na Páscoa. Essa, sim, era a grande festa dos primeiros cristãos, estabelecida que foi tendo como base o primeiro plenilúnio após o Equinócio da Primavera. Por isso a Páscoa e, consequentemente, o Carnaval, são festas móveis. E aqui incluo o Carnaval ou, mais correctamente, o Entrudo, que o termo Carnaval é uma importação tardia, porque o dito Entrudo, na Idade Média, conjuntamente com o Natal e a Páscoa, até eram as três grandes festas cristãs. Veja-se lá o espanto…

Para os que conheçam os princípios nos quais assenta o Cristianismo, saberá que nunca se festeja a data de nascimento de um santo, mas sim a da sua morte. Aliás, celebrar o nascimento ou, em alternativa, a epifania, eram consideradas, pelos primeiros estudiosos do Cristianismo, manifestações associadas ao paganismo, que esse é que celebrava o nascimento ou a epifania dos seus deuses. Porém, como já por aqui venho trazendo, a Igreja, baseada no princípio de «se não consegues vencer o inimigo, junta-te a ele», começou por celebrar a Natividade na data de 6 de Janeiro, a qual correspondia à Epifania de Dionisos, o deus do vinho. Época na qual a gente se dedicava a estrondosas festas… 

Nos primeiros cristãos, embora convertidos, permaneciam arreigados e muito vivos, os valores das suas ancestrais festas. Nas quais entrava, e sempre, o vinho! Porque a Epifania de Dionisos correspondia a uma tradição de transformação de água em vinho... Daí o célebre milagre da transformação, nas Bodas de Caná, também ser conotado com o dia… 6 de Janeiro. Dia que passaria, mais tarde, a ser associado ao «tria miracula»: o da estrela que conduziu os Reis Magos, o dia do milagre das Bodas de Caná, e o dia do baptismo de Jesus Cristo. Sabe-se que, já no século IV, a festa da Epifania atingia tons de brilhantismo no universo cristão do oriente. Século esse, o IV, no qual surge, pela primeira vez, a data de 25 de Dezembro como a do nascimento de Jesus Cristo. O que poderá soar a estranho... Tantos séculos passados…

E o que tem isto a ver com os «nossos avós» Zelas e com os «nossos não menos avós» Romanos? “Peis, já que m’ássim’e, já cá boltu amanhã ou passadu’e, se calha”… 

(Foto: a mais antiga representação ocidental conhecida da Senhora com o Menino - finais do século VIII)


Rui Rendeiro Sousa
– Doutorado «em amor à terra», com mestrado «em essência», pós-graduações «em tcharro falar», e licenciatura «em genuinidade». É professor de «inusitada paixão» ao bragançano distrito, em particular, a Macedo de Cavaleiros, terra que o viu nascer e crescer. 
Investigador das nossas terras, das suas história, linguística, etnografia, etnologia, genética, e de tudo mais o que houver, há mais de três décadas. 
Colabora, há bastantes anos, com jornais e revistas, bem como com canais televisivos, nos quais já participou em diversos programas, sendo autor de alguns, sempre tendo como mote a região bragançana. 
É autor de mais de quatro dezenas de livros sobre a história das freguesias do concelho de Macedo de Cavaleiros. 
E mais “alguas cousas que num são pr’áqui tchamadas”.

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