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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite, Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues, João Cameira e Rui Rendeiro Sousa.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

Os Tartufos – um povo da Ibéria Ocidental

Por: Rui Rendeiro Sousa
(Colaborador do "Memórias...e outras coisas...")


 Há cerca de 2000 anos, Júlio César terá, pretensamente, afirmado: «Há, nos confins da Ibéria, um povo que não se governa, nem se deixa governar». Esse povo, com muita miscelânea pelo meio, evoluiu, entretanto. Hoje, é dominado pelos intocáveis Tartufos.

E lembrei-me dos Tartufos por causa de uma magnífica comédia do génio Molière, que há mais de 300 anos, criou... «Tartuffe»... Os Tartufos assumiram completamente as rédeas do Poder, e dos Poderes. São elitistas, vivem num sistema de castas onde só coabitam e falam com outros Tartufos. Esfaqueiam-se uns aos outros, gritam, se necessário for, para imporem a sua posição, criam «lobbies» com outros Tartufos, e tão rapidamente são aliados de Tartufos com os quais gritaram, chegando ao cúmulo do insulto barato, como rapidamente os voltam a afastar, em sanguinários jogos de bastidores. E o Povo gosta, sempre é mais barato do que ir ao teatro, e o sangue é real…

Os Tartufos são, habitualmente, uma casta que tem imensas dificuldades para obter um 10 no Ensino Secundário. «Chumbam» algumas vezes, mas lá vão fazendo o percurso, chegando ao final do ano lectivo com a conquista de terem transitado de ano com «duas negas». Entretanto, chegou a «democratização do ensino». E, anormalmente, vulgarizaram-se os «cursos superiores» nos quais se tornou possível a sua frequência apresentando como candidatura uma média de acesso negativa. Se para esses, ainda assim, não for possível, multiplicaram-se, que nem cogumelos, as instituições para as quais o critério maior de entrada são as notas… da carteira. 

Os Tartufos conseguiram, com isso, ombrear, nos serviços públicos, com os não-Tartufos (que, no sector privado, o galo canta de outra maneira – a não ser que sejam filhos do dono…). Os não-Tartufos, aqueles que, «estupidamente se esfolam» para ter médias que demonstrem as suas capacidades para frequentar as melhores universidades do país e do estrangeiro, passaram a ser suplantados, em concursos públicos, pelos Tartufos. 

Para exemplificar, recorro a um caso particular. Numa determinada área, nas consideradas quatro melhores instituições do país, três em Lisboa e uma no Porto, hoje não se «entra» com média inferior a 17,5. Aliás, no último ingresso, numa delas, o último colocado «entrou» com média de 17,8… Nessa mesma determinada área, outras instituições há em que a média de entrada anda pelos 11,5/12. Outras havendo em que a nota mínima de entrada é a já referida «nota da carteira»… Conheço muito bem quem conheça (muito bem), as três realidades. E os níveis de exigência são abruptamente diferentes. Aliás, o corpo docente é abruptamente diferente... 

Os Tartufos, que se «viam à nora» para ter um 10 no Secundário, não frequentam as tais de quatro melhores instituições do país. Mas podem frequentar as outras… Há uns tempos, falei com um estudante proveniente dos PALOP, que sabia ter «entrado» numa dessas quatro instituições mas que, entretanto, tinha mudado para outra. E perguntei-lhe porquê… Alegou que o custo de vida era muito mais favorável na cidade da instituição para a qual tinha mudado. Contrapus que, em termos de currículo e prestígio, e ele bem o sabia, era muito diferente. Retorquiu ele que isso lhe era indiferente, porque quando regressasse ao seu país, seria «Dótô» na mesma, independentemente do local onde tinha obtido o «canudo». Pensativo fiquei perante a resposta, limitando-me a dizer-lhe que não precisaria de regressar ao seu país, porque em Portugal já se estava a passar o mesmo… 

Portugal está tomado pelos Tartufos. Aqueles que são capazes de cometer os «sete pecados mortais», penitenciando-se com a «confissão» e a «comunhão», recusando-se, terminantemente, a cometer o «oitavo pecado mortal». Esse, é ler. Por isso, anormalmente, poderão, até pegar num livro de dez em dez anos, por norma não passando, porém, da décima página. Mas rapidamente se transformam em doutorados em qualquer assunto, só por lerem uma página da Wikipédia… 

Os Tartufos são extremamente indelicados e agressivos perante o conhecimento. Apesar de o tentarem esconder, sofrem sintomas severos de gnosiofobia. Na presença do conhecimento, que lhes possa abalar o estatuto ou abafar o brilho que julgam possuir, entram em pânico, sendo a amígdala cerebral activada, elevando o cortisol e a adrenalina a impensáveis níveis. E partem, de imediato, para a agressão verbal, escondendo o seu medo atrás da sobranceria e do pedantismo, ou recorrendo a fórmulas básicas aprendidas enquanto assistem à «casa dos segredos» ou a qualquer «peixeirada futebolística», no canal do costume. 

E os não-Tartufos, remetidos ao seu secundário papel na «Tartufiânia», o país onde imperam os Tartufos, ou se enclausuram cometendo o «oitavo pecado mortal», passando a padecer de sintomas de agorafobia, ou «tartufobia», ou procuram ser resilientes, ganhando consciência de que ainda resistem muitos não-Tartufos, e que, um dia, as «dinastias filipinas dos Tartufos» serão substituídas por uma qualquer «dinastia dos não-Tartufos». Assim aconteceu há 385 anos, após 60 anos de «tartufices filipinas». Que se repita a História…


Rui Rendeiro Sousa
– Doutorado «em amor à terra», com mestrado «em essência», pós-graduações «em tcharro falar», e licenciatura «em genuinidade». É professor de «inusitada paixão» ao bragançano distrito, em particular, a Macedo de Cavaleiros, terra que o viu nascer e crescer. 
Investigador das nossas terras, das suas história, linguística, etnografia, etnologia, genética, e de tudo mais o que houver, há mais de três décadas. 
Colabora, há bastantes anos, com jornais e revistas, bem como com canais televisivos, nos quais já participou em diversos programas, sendo autor de alguns, sempre tendo como mote a região bragançana. 
É autor de mais de quatro dezenas de livros sobre a história das freguesias do concelho de Macedo de Cavaleiros. 
E mais “alguas cousas que num são pr’áqui tchamadas”.

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