sábado, 6 de junho de 2015

Mogadouro - O Velho Chocalheiro visita à noite

Os chocalhos rompem o silêncio da noite. O Velho chocalheiro percorre as ruas de Vale de Porco. Na noite de 24 de Dezembro pedem cepo para armar a fogueira de Natal. No dia seguinte pede esmolas para o menino Jesus. Um ritual pagão com fins religiosos que se mantém vivo na aldeia do concelho do Mogadouro e que no dia 22 de Maio desfilou pelas ruas de Lisboa no Festival da Máscara Ibérica.
A 24 de Dezembro, o Velho chocalheiro percorre as ruas de Vale de Porco, concelho de Mogadouro. De porta em porta, pede cepo para armar a fogueira na praça central da aldeia. À meia-noite, a população concentra-se junto ao fogo de Natal.

A acompanhar este ritual está sempre o som ensurdecedor dos chocalhos pendurados no cinto de couro. «O velho chocalheiro volta a percorrer as ruas no dia 25 de Dezembro, no primeiro de Janeiro e, antigamente, também no Dia de Reis, a 6 de Janeiro», conta o presidente da Junta de Freguesia de Vale de Porco, Dulcínio Augusto Rodrigues, no decorrer do V Desfile da Máscara Ibérica que decorreu em Lisboa no dia 22 de Maio.
O fato de serapilheira, com carapuça, remata com uma máscara de madeira pintada com cores garridas. O ritual pagão acarreta sempre algum efeito demoníaco e assustador. É nestes trajos que a 25 de Dezembro e 1 de Janeiro, o velho chocalheiro pede esmolas que depois «entregará a Nossa Senhora da Conceição e ao menino Jesus», diz o mesmo responsável.
Apesar de a esmola ser entregue a elementos da Igreja Católica, Dulcínio Augusto Rodrigues sublinha que este é um ritual «totalmente pagão» cuja origem se perde no tempo. O ritual é reservado aos homens. As mulheres que quisessem juntar-se aos velhos chocalheiros podiam até ser mal interpretadas, «podiam mesmo ser pintadas com pó de carvão», conta o autarca, acrescentando entre sorrisos: «não se sabe é se este acto é mais para as banir do grupo se um mostra de carinho, ainda que um pouco brusca».
De resto, os chocalhos podiam ter a função de alertar a população da chegada do velho chocalheiro. Mas durante o ritual, os velhos chocalheiros também se aproximam das mulheres e fazem os chocalhos soar no corpo destas. Há aqui, também, um ritual de acasalamento associado.
Dulcínio Augusto Rodrigues conclui que esta tradição acontecia espontaneamente. Hoje sobrevive com o incentivo da junta de freguesia que mobiliza a juventude.
O Desfile da Máscara Ibérica acontece anualmente em Lisboa inserido no Festival Internacional de Máscara Ibérica, um evento organizado pela Associação de desenvolvimento e gestão do turismo cultural.

Sara Pelicano
in:cafeportugal.net

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