Local: MIRANDA DO DOURO, BRAGANÇA
Informante: Orquídea Xavier
Noutros tempos nas terras de Miranda os cristãos eram escravos dos mouros. Havia então um cristão que tinha de trabalhar no duro durante o dia, e à noite era algemado de pés e mãos, e metido dentro de uma arca fechada. E em cima dela dormia um mouro que ali estava de guarda.
O cristão, que tinha muita fé em Nossa Senhora do Naso, passava o tempo a rezar-lhe, implorando que o libertasse daquela escravidão. Até dentro da arca rezava. Por fim, num certo dia, ao amanhecer, a arca apareceu num lugar diferente daquele onde tinha ficado à noite. E em cima dela lá continuava o mouro, que acordou com o som dos sinos a tocar ali perto. Perguntou então ao cristão para dentro da arca:
— Na tua terra há sinos?
O cristão disse-lhe que sim. Então o mouro, sentindo-se vencido por aquele milagre, libertou-o e disse-lhe:
— Podes mandar-me fazer o que quiseres. O cativo agora sou eu.
Em resposta, o cristão ordenou-lhe que fizesse ali um poço. O mouro pôs-se então a escavar, sempre a escavar, e, como o cristão, nunca mais lhe deu ordens para parar, ele foi sempre escavando. E assim o poço nunca mais teve fim. Há quem fale que o dito poço não tem fundo, e que o mouro ainda lá anda a escavar.
O povo canta ainda hoje a seguinte quadra:
Nossa Senhora do Naso,
Olhai o que diz o mundo,
Que tendes na vossa veiga
Um poço que não tem fundo.
Fonte:PARAFITA, Alexandre A Mitologia dos Mouros: Lendas, Mitos, Serpentes, Tesouros
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(Henrique Martins)
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