Local: VINHAIS, BRAGANÇA
Informante: Guilhermino Bernardino Fernandes (M), 70 anos
Conta-se que certa noite de inverno, um casal regressava a casa após um dia de trabalho no campo, numa propriedade distante da aldeia. Ao passar numa encruzilhada, encontraram um bode aparentemente perdido e abandonado.
— Este infeliz não deve ter dono. Vamos levá-lo connosco — disse o marido.
Chegados a casa, como estavam encharcados devido à invernia, acenderam o lume e sentaram-se à lareira a enxugar as roupas e a cear. O homem sentou-se num mocho com o bode ao lado, e, no escano, em frente dos dois, sentou-se a mulher. Esta, para melhor se aquecer, descuidou-se e abriu as pernas, ficando com tudo à vista. O bode, que até ali estava tristonho e silencioso, desatou a rir perante o que estava a ver.
Por sua vez, o marido, ao ver o animal a rir-se, desatou a rir também. A mulher, ofendida com a situação, ergueu-se do escano e pregou um pontapé no focinho do bode, mas este nem assim parou com as gargalhadas. E o marido não lhe ficava atrás. Até que a mulher, irritada, pegou no animal e disse:
— Ah seu cabrão duma figa! Já te vou tirar a vontade de rir!
Levou-o para um quarto escuro e fechou-o, bem aferrolhado, para que passasse ali a noite, sem comer bem beber, como castigo. Na manhã seguinte, a mulher foi ao quarto escuro para soltar o animal, e, ao abrir a porta, foi empurrada por um homem que saiu de lá a correr e a tapar a cara com as mãos para não ser reconhecido. E não havia lá bode nenhum, nem sinal dele.
Fonte:PARAFITA, Alexandre Antologia de Contos Populares
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(Henrique Martins)
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