Local: VINHAIS, BRAGANÇA
Em uma noite de, frio inverno alguém passou junto do adro da igreja, e, sentindo passos cadenciados, espreitou, curioso, vendo duas fileiras de mulheres velhas e novas, trajando umas pesado luto, outras vestidas de branco; e, parecendo-lhe ver no meio delas um ente querido, seguiu-as até às portas da igreja. Porém, a última a entrar, ao fechá-las, olhou para trás e disse-lhe: vai-te embora, deixa em paz os mortos!...» Na noite seguinte, mais curioso ainda, voltou ao adro, tendo visto a mesma scena da noite anterior. Cheia de coragem aproximou-se, reconhecendo o lindo rosto de uma irmãzinha falecida havia poucos anos. Vindo à fala, pediu-lhe que o deixasse ir com ela; e, tomando-o pelo braço, levou-o comsigo. Fechadas as portas, ainda pôde ver, ao frouxo clarão da alâmpada, abrir-se o soalho da capela-mor, e descerem longa escadaria, que os levou a uma galeria profunda cheia de denso fumo de cheiro acre.
— Que é isto? Preguntou.
— «É o purgatório; êste fumo vem do inferno; é aqui que as almas se purificam, e daqui saem a penar uma boa parte do ano pela terra». O cheiro era insuportável, julgou asfixiar. Pediu à companheira que o guiasse até à saída; mas esta disse-lhe: «espera que venham outras almas a penar e segue-as; não te reconhecerão». Decorridos momentos, que lhe pareceram séculos, passou outra multidão de almas e seguiu-as. Ao transpor o limiar das portas da igreja, ouviu uma voz que lhe dizia: «vai, e não voltes aqui, diz ao mundo o que sofremos».
Fonte:MARTINS, Pe. Firmino Folklore do Concelho de Vinhais. Vol. 1
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(Henrique Martins)
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sexta-feira, 26 de junho de 2015
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