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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 24 de junho de 2015

A Lenda da Aldeia de Morais


Morais, Macedo de Cavaleiros, é uma aldeia medieval anterior à nacionalidade. Diz-nos o Abade de Baçal nas suas“Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança – Tomo VI, pág 328”, o seguinte: «Gonçalo Rodrigues de Morais é o primeiro que acho em esta cidade e povoou o lugar de Morais, a que deu o nome...». Isto, aconteceu no ano de 1119 e, sendo assim, o lugar já existia. Aliás, o Pinho Leal, no “Portugal Antigo e Moderno”, confirma-o. Mas Morais também foi Comendador das Ordens Militares do Templo, de Malta e de Cristo. Numa Monografia de Balsamão, de 1859, encontra-se a seguinte passagem: “Em a freguesia de Morais, tiveram as Ordens do Templo e de Malta uma herdade que lhe foi deixada por D. Frolbe e Martim Pires, no reinado do Senhor D. Affonso II, como se achou pelas inquirições de El Rei D. Affonso III em o julgado de Lamas de Orelhão, a 18 de Novembro de 1258”. Penso que essa propriedade se situaria no “Vale de Nóvea”, actual sítio da Carba, onde se encontram, ainda, as ruínas de uma antiga igreja. Também os Genealogistas dizem que Morais é a origem do apelido dos Morais no nosso País.
A norte da aldeia, no Monte de Morais, encontra-se uma elevação montanhosa, chamada Cabeço da Paixão, que tem a forma de um cone, perfeito. Aliás, dizia-se que o Cabeço não era natural, mas sim artificial, dada a sua configuração. Dista da aldeia perto de três quilómetros, e está a uma altitude aproximada de 800 metros. À parte sul do sopé do Cabeço da Paixão, chama-se Campo de Vide, e do Pico, onde está um marco geodésico, avista-se uma paisagem invulgar, que abarca a Serra da Nogueira, o planalto Mirandês, o castelo de Algoso e terras de Espanha. Sobre a meia-encosta, existe uma “construção em pedra” que circunda todo o Cabeço, com buracos, que o povo chamava a “estrada dos mouros” e dizia que nela circulavam os mouros a cavalo, nos cavalos, para protegerem uma “Fortaleza” que tinham construído no interior do cabeço, onde habitavam e tinham uma grande riqueza e uma arca cheia de ouro...
Então, eis a Lenda:
«No Cabeço da Paixão encontra-se, enterrada, uma Fortaleza que era a mais importante que os mouros tinham na Península Ibérica. Era nela que guardavam o tesouro mais valioso que tinham: uma enorme arca cheia de ouro, à qual faziam guarda, permanente, montados nos cavalos, ao redor do cabeço, numa estrada de pedra que circundava a meia-encosta. Local, onde nem as estevas e as carrasqueiras cresciam, por estar amaldiçoada pelos mouros... Nessa altura, do Cabeço da Paixão avistava-se a aldeia de Morais, e os mouros estavam constantemente a “bombardeá-la” com grandes pedras, lançadas por catapultas, que destruíam as casas e matavam as pessoas e os animais, fazendo-lhes da vida um inferno! Então a população, por não poder defender-se das pedras, mudou a aldeia para um vale mais a norte, de onde deixou de se avistar e, por isso, estar exposta à fúria dos sarracenos... A partir daí, a população passou a viver em paz. 
Mas um dia travou-se uma grande batalha entre os mouros e os cristãos. Na peleja, os mouros foram derrotados e obrigados a abandonarem, à pressa, a Fortaleza que tinham enterrada no Cabeço, deixando lá ficar o tesouro. Essa batalha travou-se em Campo de Vide, e quando os mouros estavam em debandada, olharam para trás, a chorar e a dizer: “Adeus!, cabeço da minha paixão!... Adeus!, campo da minha vida!...”. É por isso, que o cabeço e o sopé se chamam assim... Contudo, os mouros ao verem-se derrotados, e não podendo levar o tesouro com eles, juraram que haviam de lá voltar, um dia. Por disso, deixaram ficar na Fortaleza a arca de ouro, guardada por uma princesa encantada, e por grandes cobras, também encantadas, que lhe faziam companhia. Isso, até ao dia em que voltassem para as desencantarem, e levarem o tesouro que lá deixaram ficar guardado...».
 (11437 bytes)Nota: Esta é a Lenda. Mas aos Arqueólogos direi que ela contém factos verdadeiros: o cabeço está lá, e quando eu era rapaz ainda se via a “muralha” circular e os “buracos”. Buracos, que podem muito bem ser a entrada de uma antiga mina, explorada pelos “Celtas”... Não sei se foi por causa da Lenda, ou porque foi, a verdade é que nos anos trinta, do século passado, apareceu na aldeia um sujeito, desconhecido, disposto a ir procurar a “arca de oiro ao Cabeço da Paixão”... Para isso, contratou dois rapazes. Os únicos que aceitaram ir trabalhar para lá, sem terem medo da “moira encantada e das cobras”... Esse indivíduo, cujo nome desconheço, enquanto teve dinheiro pagou o acordado aos dois rapazes. 
Mas um dia despediu-se deles e disse-lhes que voltaria quando tivesse mais dinheiro. Mas nunca mais voltou... Também vale a pena dizer, por ser verdade, que eles encontraram nos tais buracos o que lhes pareceu ser a ombreira de uma porta... E digo que foi verdade, porque um dos que lá trabalhou, foi meu pai. Foi ele que me contou isto. Mas não me recordo, por ser novo, se me disse se a “ombreira da porta” era de pedra ou de madeira; nem do nome do tal “explorador”.

João de Deus Rodrigues
in:jornal.netbila.net

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