Local: Soutelo, MOGADOURO, BRAGANÇA
Maria e José, para furtarem o Menino à fúria de Herodes, seguiram temerosos, de alma dorida, sem compreenderem como é que um rei tão tirano podia odiar de morte aquele Ser tão pequenino tão indefeso e tão inocente que apenas tinha como abrigo os braços de sua Mãe e a protecção de um pobre carpinteiro que tinha por únicas armas as suas ferramentas de oficio. A cada ruído que ouviam por pequeno que fosse como o cair de uma folha ou o rastejar de um pequeno réptil julgavam ouvir os passos dos soldados. Procuravam portanto evitar os caminhos mais transitáveis e atravessavam por sítios onde não ficassem pegadas que denunciassem a sua passagem.
A certa altura da caminhada embrenharam-se por um campo de tremoços. Como se sabe o tremoceiro quando esta seco e ainda com o tremoço dentro da vagem faz um barulho dos demónios comparável ao de um enorme ruge-ruge, daqueles que se compram para os bebés.
Ao atravessarem o tremoçal, o barulho era de tal ordem que, Maria, dorida e receosa, a quem o medo tornava um pouco impaciente, teria dito para José:
— Estas malditas ervas fazem tanto barulho, que, se os soldados passam por aqui perto, vão ouvir e somos apanhados.
Depois, dirigindo-se aos tremoços, disse:
— Ó ervinhas, peço-vos que não façais barulho, senão sereis amaldiçoadas e o vosso fruto não matará a fome a ninguém, por mais que comam.
Os tremoços continuaram com o mesmo barulho, e daí a razão por que esse fruto, que é tão apreciado como aperitivo e tão comum nas festas de baptizados e casamentos, não sacia o apetite a ninguém. Quantos mais se comem, mais se querem comer, sem nunca sentirmos o estômago cheio.
Fonte:OLIVEIRA, Casimiro Raízes: Poesia, Contos e Lendas
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(Henrique Martins)
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