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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Via Latina - Bragança

Por: Aida Sofia Lima.

Com a tradição coimbrã como musa inspiradora, em 1999 surge um grupo, em Bragança, devoto dos fados e guitarras de Coimbra, erigido na tradição e nas raízes mais antigas, bem como na pureza e profundidade das melodias que entoa. Via Latina, o seu nome, herdeiro de uma zona nobre da cidade de Coimbra, símbolo da Universidade. Gilberto Carvalho, António Tiza, Octávio Fernandes, Jorge Poço e Paulo Dias, os músicos. “Em 1999, quando vim para Bragança, fui visto a tocar pelo Gilberto, que resolveu entrar em contacto comigo e começámos a tocar umas coisas juntos.


Depois foram aparecendo os outros elementos. Juntou-se um grupo de pessoas com gosto pelo fado de Coimbra”, contou Jorge Poço, guitarra portuguesa, durante o ensaio que semanalmente decorre num pequeno espaço comercial do centro da cidade. “Durante algum tempo fomos ensaiando, aprendendo a tocar em grupo e depois começaram a surgir propostas para tocarmos em público, quer em Portugal, quer no estrangeiro, nomeadamente Espanha, onde somos muito apreciados, o que nos deu outro incentivo”, acrescentou, com a guitarra pousada no regaço. Um anúncio numa montra comercial há dois anos e a vida de Paulo Dias, o mais recente elemento, muda. “O Paulo viu o anúncio de pedido de um músico, mas preferia música de conjunto, uma sonoridade mais roqueira. Contudo, a sua adaptação ao fado de Coimbra não foi difícil. As coisas foram-se conjugando de forma positiva e teve uma boa entrada”, lembrou Gilberto Carvalho, guitarra portuguesa.
Para Paulo Dias, “foi a primeira vez que experimentei fado de Coimbra. Nunca ouvi muito fado, mas foi uma surpresa muito boa. Desde que estou no grupo percebo que é muito interessante, com particularidades muito curiosas, a nível de composição, harmonia. É um mundo novo que não conhecia, e que passei a conhecer, ainda só um bocadinho, pois é preciso tempo”.
Unidos pelo que denominam “sentimento muito profundo”, os cinco trovadores abraçam a serenata, um género que não se cinge ao que se entoa, mas um símbolo da manifestação artística e sentimental, de gesto romântico, exteriorizando, recorrendo a composições musicais de características melódicas dolentes, o que de mais belo têm para oferecer, exprimindo sentimentos.
De sonoridades nostálgicas, o fado de Coimbra, executado sob o uso obrigatório da velha capa negra, seja esta a da academia universitária ou da academia do antigo Liceu Nacional de Bragança, revela-se na performance do grupo como saudosista, perpetuador de tradições, símbolo de vivências que não se querem perdidas no tempo, e que fazem todo o sentido de serem lembradas naquela que antigamente era denominada “Coimbra em miniatura”: Bragança. António Tiza e Octávio Fernandes, as vozes do Via Latina, justificam a existência do grupo na forte tradição académica que defenderam e defendem. “Nós reportamo-nos, não só às nossas vivências académicas em Coimbra ou no Porto, mas também às vividas em Bragança. 
No Liceu Nacional tínhamos academia. Usávamos traje académico, sendo o único liceu do país onde isso acontecia. Tínhamos também a serenata monumental. Dada a vida académica de Bragança, o uso da capa e batina, o fado de Coimbra foi cultivado aqui com toda a força. Por isso, não estamos a recuperar nada. Estamos a dar seguimento àquilo que fizemos enquanto jovens estudantes. 
Assim, a existência do grupo de fados em Bragança faz todo o sentido”. Defensores acérrimos das melodias do Mondego, distinguem-nas do fado de Lisboa, criticando a fraca divulgação de que a canção de Coimbra tem sido alvo. “O fado de Lisboa é notoriamente diferente do de Coimbra, sendo o da capital mais bamboleado. O de Coimbra é mais nostálgico, mais profundo. O de Lisboa associa-se ao típico, é aplaudido, é contextualizado em ambientes de tasquinha. Ao contrário, o de Coimbra é mais solene, ao luar e sem palmas no fim”, caracterizou Gilberto Carvalho. Contudo, para o guitarrista, a principal diferença entre as duas formas de cantar o fado prende-se com o mediatismo, acusando a comunicação social de imprimir maior relevo ao fado de Lisboa. “Penso que a imprensa dá demasiada importância ao fado de Lisboa. É a imprensa e são as editoras que constroem as figuras mediáticas que têm surgido no panorama português, sendo o fado de Coimbra deixado para um segundo plano. É necessária maior divulgação”. E, empenhado em defender a música que mais sente, Gilberto Carvalho acrescentou: “ouvi dizer que a guitarra de Coimbra se arrastava, a dois músicos ligados ao fado. É mentira. A guitarra de Coimbra não se arrasta, tem é um som diferente, mais profundo. Zeca Afonso nunca arrastou a guitarra, tal como outros tantos. Tiravam partido da guitarra, com o seu som maravilhoso, profundo”. 
As críticas dos cinco músicos não se dirigem apenas ao mediatismo do fado lisboeta e à falta de divulgação da canção de Coimbra. Octávio Fernandes, já em fim de conversa, deixou um apelo à Associação de Estudantes de Bragança, no sentido de dignificarem a serenata, o “ex-libris de qualquer queima das fitas”. “Não interessa só ter muitos estudantes à frente. É preciso criar condições mínimas para um espectáculo deste género. Bragança tem que dignificar a serenata, seja esta protagonizada por quem for”, concluiu. “Rua Larga; Fado das Andorinhas; Guitarras do meu País; Sonhar Contigo, ó Coimbra” são alguns dos catorze temas que integram o primeiro trabalho discográfico do Via Latina, um CD que será lançado no próximo mês. 
Trata-se de um conjunto de versões de fados e um tema original. “É o nosso primeiro CD e penso que será positivo para nós, para divulgarmos o nosso humilde trabalho, mas sério. Será ainda um marco importante na nossa carreira”, referiu Jorge Poço.
Por agora os músicos vão continuar a dedilhar as guitarras e a entoar as canções que tradicionalmente eram cantadas quase em segredo, da rua para a janela. Abraçando com paixão os sons enraizados no que apelidam de “sentimento profundo”, todas as semanas se reúnem e partilham as canções que musicaram as suas vivências e foram banda sonora de diversos momentos importantes que sentem e recordam.

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