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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 7 de abril de 2012

Livro - Do teatro popular, às mouras transmontanas e aos rituais da Semana Santa


Lendas durienses, mitos das mouras mortas em Trás-os-Montes, o teatro popular, a cultura da memória em aldeias transmontanas, os rituais cristãos e pagãos no Natal, no Entrudo e na Semana Santa. «Antropologia da Comunicação - Ritos, Mitos, Mitologias», o novo livro de Alexandre Parafita, docente na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), aborda as manifestações da memória oral no seio das comunidades que a mantêm viva.
Para Alexandre Parafita importa entender «o que vale realmente este património», na convicção de que «sem o aconchego da identidade e da memória, sem um quadro de referências sólidas e respeitáveis», as novas gerações «viverão dramaticamente desamparadas num mundo global complexo e num mundo de errâncias depressivas e angustiantes».
Nesse sentido, o autor caracteriza a obra «Antropologia da Comunicação - Ritos, Mitos, Mitologias» como um trabalho que procura apresentar uma visão antropológica das atitudes e comportamentos rituais com potencial comunicativo na sociedade e nas comunidades. 
Daí que nele se aborde «a obsessão do homem, desde há milénios, pela busca imparável de meios de comunicação até chegar à realidade complexa dos mass media e redes sociais dos dias de hoje». 
«Reflecte-se também sobre as formas e modelos de comunicação entre entidades terrenas e sobrenaturais, bem como sobre a vocacional comunicacional dos mitos e seus ritos, sobre as mensagens simbólicas do mundo lendário, dos romanceiros e de outros textos da tradição oral, incluindo a educação sexual presente no folclore obsceno», explica o docente da UTAD. 
A obra, reforça o também investigador, aborda, de uma maneira geral, o património cultural imaterial no seu contexto de uso no seio das comunidades, «com uma incidência interpretativa num conjunto representativo de exemplos».
E nesses exemplos encontram-se os mitos e lendas da região do Douro, os mitos das mouras mortas em Trás-os-Montes, o teatro popular, a iconologia sexual e diabólica nas paredes das igrejas, a cultura da memória em pequenas aldeias transmontanas, os rituais cristãos e pagãos no Natal, no Entrudo e na Semana Santa, o uso contextualizado dos contos populares, incluindo os contos de fadas.
A intenção do professor universitário, como o próprio sublinha, passou pela necessidade de «apresentar e avaliar, no seu contexto de uso, os esforços de comunicação ao longo da vida do homem, apresentando paralelismos entre o mundo actual, mass-mediático, e o universo comunicacional, intemporal, da arte da memória». 
E dá o exemplo dos velhos romanceiros e de «como neles encontramos a génese de toda a lógica dos media dos dias de hoje». 
«Criados pelos jograis no séc. XIV, através deles fixavam e difundiam na oralidade os sucessos históricos, os escândalos e as especulações de natureza passional da época, pelo que, na sua origem, estilo e formas de narratividade encontramos, claramente, paralelo com algumas das modalidades jornalísticas dos tempos modernos, relembra Alexandre Parafita. 
Para Alexandre Parafita, no mínimo, «é preciso identificar, inventariar, demonstrar e estudar» o património imaterial. «E dar aos museus do território condições humanas e técnicas para intervirem, mas para intervirem cuidando da genuinidade das tradições. Sem contaminações, ou aculturações», defende. 
Porque como vinca, «só assim as novas gerações encontrarão significado nas tradições e poderão sentir-se seduzidas pelo impulso identitário que elas representam». «Sem o aconchego da identidade e da memória, sem um quadro de referências sólidas e respeitáveis, as novas gerações viverão dramaticamente desamparadas num mundo global complexo, sobrevivendo num mundo de errâncias depressivas e angustiantes», argumenta. 
«Há cada vez menos lugar para os guardiões de memória»:
O especialista em literatura tradicional refere que tem encontrado um país dominado pela «celeridade da vida moderna, onde há cada vez menos lugar para os guardiões da memória e para o convívio com eles». 
E confessa: «Inquieta-me também o abandono da vida rural e especialmente o desaparecimento das franjas da população que se têm assumido como guardiões da nossa cultura imaterial profunda. Muitos desses intérpretes, pessoas bastante idosas, vou procurá-los em lares de terceira idade e irão levar com eles, quando partirem de vez, o saber e o conhecimento que trouxeram das gerações precedentes». 
Visivelmente triste por ser esta a realidade do património imaterial no nosso país, Alexandre Parafita confessa que, às vezes, sente-se «recompensado por ver que vou conseguindo atingir alguns dos objectivos que persigo». 
«Outras vezes sinto-me extremamente frustrado por ver essas bibliotecas vivas mas decadentes a desaparecerem irremediavelmente, sem que haja, de quem de direito, uma vontade sistemática, assumida, em salvaguardar os seus testemunhos para memória futura», conclui o autor de “Antropologia da Comunicação – Ritos, Mitos, Mitologias”.


Ana Clara
in:cafeportugal.net

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