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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Concelhos da Terra Quente

...continuação
Carrazeda de Anciães é terra de múltiplas e variadas culturas a desenvolver-se por dois conjuntos territoriais geo-climáticos bem diferenciados. O Planalto integrado na Terra Fria; os vales encaixados que desaguam no Douro e Tua a integrar-se na Terra Quente. Dos cereais, o centeio, o trigo e também os milhos. Com eles combina-se o feijão, a castanha e a batata. Terras também de vinha e azeite.
No cereal, dominam o centeio e o trigo, que em muitas terras são as culturas mais abundantes e ordinária; pão de centeio e trigo vai referenciado para todas as terras. Em algumas terras, de particular desenvolvimento da vinha, pode faltar em elevada medida o cereal para as necessidades da terra (Castanheira, Pinhal de Anciães, Ribalonga). Pelo número de referências o trigo está menos presente que o centeio. Uma estatística de dizimarias de 1790 dá para seis freguesias mais próximas do Douro, uma clara supremacia ao centeio: 77,5%; 12,7% ao trigo; 7,2% ao milho grosso e ainda 1,7% à cevada. O milho vai aqui registado em sete das dezasseis memórias, referindo-se existir «de toda a casta» e identificando-se em concreto, o milho grosso e o miúdo, mas sempre em pouca quantidade. Com ele refere-se quase sempre a produção de feijão. Em quatro casos também se refere a cevada. Particular relevo tem a cultura da castanha. Em duas freguesias refere-se também a presença da castanha da Índia, ou da terra, também chamada batata da Índia. É dita «abundante» em Amedo e Fontelonga. O vinho é, em algumas paróquias, dita cultura abundante e de qualidade para exportação. O memorialista de Pinhal de Anciães refere-se mesmo à média anual das 150 pipas que colherá a paróquia, por efeito do muito trabalho dos moradores.
Em Amedo é dito «do mais conservativo» e em Pombal «vinho bom e generoso»; em Ribalonga, «vinho de ramo». Nestes casos a cultura vinícola constitui-se a principal riqueza da terra. De resto a estas culturas junta-se a da oliveira e azeite com alguma presença como é o caso de Vilarinho da Castanheira onde o azeite ao lado da seda é a cultura dita mais abundante. Mais uma vez, a excepção da breve referência de Pinhal de Anciães, não há dados quantitativos às produções que permitam hierarquizar com mais segurança a sua importância para o concelho. Estamos porém aqui longe do domínio absoluto da cultura do cereal – centeio e trigo – como se verifica noutros concelhos do Noroeste Transmontano. Aqui a presença do milho dá outra variedade à paisagem cerealífera. Nalgumas terras o cereal tem a alternativa do vinho, bom e de qualidade que se cultiva intensamente com destino à exportação como é o caso do vinho de ramo de Ribalonga.
Assinalável é a presença referida da batata, em duas freguesias. O tubérculo tem afinal uma história mais antiga no nosso património cultural. E os termos da referência como cultura abundante, certamente significará que a sua presença deve estar também presente noutras paróquias vizinhas. A sua importância no fornecimento de suplemento alimentar à população do Noroeste transmontano bem mais precoce, está assim por determinar.
O território do concelho de Macedo de Cavaleiros desenvolve-se por extenso planalto e a coexistência de serranias, vales, montes e planícies, a que corresponde diversidade climática e potencialidades culturais. O quadro das culturas e variedade da produção apresenta-se por isso complexa.
É extenso o leque das culturas: cereais, o centeio, os trigos, a cevada e também o milho; o vinho, o azeite e a castanha, as plantas e culturas «industriais»: o linho, a amoreira, para além de uma grande variedade de frutos. O centeio vai assinalado para todas as paróquias, a testemunhar a sua omnipresença, mas também, por regra, a cultura mais abundante.

É cultura que apesar de resistir a terrenos mais pobres e frios, precisa aqui, como refere o Memorialista de Espadanedo, de esterco. Tal quer dizer que a cultura «espontanea» tem aqui poucas condições de sucesso. O trigo deve de um modo geral estar também presente em todas as terras. Embora nem sempre se registe a sua cultura, tal não quer dizer que não se cultive, exprime tão só a sua pouca extensão. Quando não se cultiva em absoluto faz-se de tal referência.
É o caso de Espadanedo onde o trigo «não se dá por ser terra muito fria». De um modo geral a produção de trigo é inferior à do centeio, com excepções, como a de Salselas. Distinguem-se as diversas qualidades de trigo: o trigo (presume-se temporão (Memória de Pinhovelo) e o trigo serôdio ou trigo tremês. Há uma referência a trigo candeal (Memória de Paradinha). O volume de referências é indicador de maior e sistemática produção de trigo temporão face à por vezes ocasional cultura do serôdio (Memória de Santa Combinha). A cultura da cevada vai só duas vezes referida; a do milho quatro vezes (uma como milho grosso). Estas são pois culturas marginais.
A cultura da vinha tem aqui um lugar de relevo, pela sua extensão e qualidade. Praticamente não há memória em que os párocos memorialistas se não refiram à cultura. Quando se não refere, foi necessário sublinhar que não há «nenhum vinho» (Memória de S. Cristóvão). Em muitos casos anotando a sua abundancia, noutros a sua qualidade: em Nozelos e Gralhós, como «os melhores da Província»; em Lamalonga «o mais selecto da Província»; em Talhinhas refere-se que «o vinho é o mais generoso da Província», colhido nas vinhas que ficam nas ladeiras do rio Sabor «tão agrestes como as do Douro» (Memória de Talhinha); em Vilarinho de Agrochão são ditos «os mais generosos e famigerados da Província.

É também regular a cultura da oliveira e fabrico de azeite, em geral em pouca quantidade e para consumo local. A castanha vai também de um modo geral referida para todas as terras. É em geral fixada como cultura abundante e nalguns casos de muito boa qualidade (Memória de Peredo).
Particular relevo assume em algumas freguesias do concelho a cultura das amoreiras para a criação do bicho da seda e produção sirgueira. Vai referenciada para Bornes, Castelãos, Chacim, Corujas, Grijó, Lombo, Lamalo
nga, Podence, Sesulfe, Valbenfeiro, Vinhas. Em Chacim refere-se expressivamente que «o que mais há são muitas amoreiras de folha preta e algumas branca, que não há outra povoação na Província mais natural, nem igual para semelhantes arvores. E pela dita abundancia se cria bastante seda a que podem administrar os moradores e sempre se vende muita folha a diferentes pessoas de diversas partes e lugares». Ao lado da produção de seda refere-se também com frequência a cultura do linho galego, nalguns casos em grande abundancia, em relação com o manancial das águas dos rios e ribeiros (Santa Combinha, Cortiços, Vilar do Monte). As múltiplas informações qualitativas exprimem as diferenciadas situações de subsistência das paróquias, que vão da «abundancia», de «abastança», à de necessidade dos agregados domésticos e das comunidades «para consumo e gastos dos vizinhos» (Memória de Soutelo) a situações em que a produção de géneros alimentares de referência (cereal sobretudo) é pouca e insuficiente.
A situação das comunidades é tanto melhor quando a economia paroquial pode conjugar e recorrer a diferentes recursos. De facto as situações mais débeis registar-se-ão nas freguesias onde apenas se produz e centeio (com complementos maiores ou menores da castanha e outros pequenos géneros); as situações de mais abastança são decorrentes da multiplicidade de recursos que se completam, os cereais, os vinhos, os frutos, a castanha, os produtos industriais. Em geral a boa qualidade dos montes é propícia ao alargamento das culturas. De registar a elevada cultura a que os montes estão sujeitos sendo «temperados» por todos os frutos; mais frios e agrestes para o centeio.
Cultiva-se na serra «seara de pão, vulgo candeal» (Memória de Castro Roupal, Macedo de Cavaleiros).


continua...

Memórias Paroquiais

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