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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

As Maias Pedagógicas


Vivemos este ano, em Mirandela, uma experiência singular, ao vermos o nosso livro «As Maias entre mitos e crenças» ser tema do IX Festival de Jardins Nómadas de Mirandela 2012. E para se conhecer bem um tema, nas Escolas, é preciso trabalhá-lo e explorá-lo com os Alunos, seja qual for a sua idade.
Por isso, quisemos ver com os próprios olhos como as Professoras e Educadoras explorariam o tema para o desfile e acompanharmos as emoções e vivências do desfile. Aí ficamos a saber que algumas Professoras e Educadoras levam os desafios mais a sério, quando se salta para fora da visão redutora do manual escolar adoptado. E, bastava olhar para as várias Escolas e Jardins-de-infância que tomaram parte no desfile, para nos apercebermos de diferentes formas de encarar o evento.
Depois, para algumas mestras, como foi o caso das que dão a cara pelo Nuclisol/Instituto Piaget, tiveram uma jornada de trabalho mais longa e não se ficaram só pelos adornos com maias, outras flores e verduras. O tema lançado pela Vereadora da Cultura, Maria Gentil, terá tido um momento de arranque, com dúvidas e incertezas, como nos disse a Educadora Beatriz Silva: - como é que o livro ia entrar na sala de aula e seria trabalhado?
Mas, depois da reflexão de grupo e de abraçarem o desafio e de «folhearem» o livro, este entrou mesmo no espaço pedagógico e passou a ser um dos assuntos capitais.
Em simultâneo com o desafio do desfile dos Jardins Nómadas, recebemos o convite para a Feira do Livro que o Município de Mirandela soube trazer para o melhor espaço público com história, cultura e socialzação, o «Parque Império». E, ao oitavo dia dos idos de Junho lá aparecemos, convencidos que em Trás-os-Montes e Alto Douro, como lamenta o nosso ilustre conterrâneo e grande livreiro, Nuno Canavez, «a gente importa-se pouco com a cultura e em ler livros».
Para que este lamento se deixe de ouvir, é preciso que se faça um trabalho estrutural e pedagógico nas Escolas, para que as crianças e jovens tenham mais contactos com os livros e sintam prazer na leitura.
Aquilo que vimos e em que nos envolveu a Cultura Municipal, também lá estava a Bibliotecária, observando o resultado do trabalho lançado para o público, pois só assim se têm conhecimentos para se darem passos mais firmes e proveitosos no futuro. Que os belos e interessantes trabalhos ali expostos eram de vários ATLs, Jardins-de-infância e Escolas do Concelho, como os que vimos do ATL de Abreiro.
Enquanto dialogávamos com as educadoras e com as crianças começamo-nos a aperceber que estas últimas «traziam a lição bem estudada». Por exemplo, já sabiam o nome do autor do livro e conheciam algum vocabulário sobre o tema das Maias. E começou o «fogo oral cruzado» e que as mestras ordenaram e lá choveram perguntas e muitas respostas da Rita, do João, da Leonor e dos demais.
Afinal, tinha sido reunido num bonito dossier todo o resultado do trabalho sobre o tema, com textos e imagens, com pedagogia, com criatividade, com sonho e com emoção.
Ficámos a saber que as crianças e educadoras se deslocaram a Rego de Vide, onde ouviram palavras sábias da «Avó Otília». Que as maias ou giestas podem nascer em qualquer solo. Que eram utilizadas como fertilizante e regenerador dos solos mais cansados. Que servem para fazer «basculhos» ou vassouras toscas. Servem, ainda, para lenha nas lareiras e para aquecer o forno e cozer pão, sendo as cinzas usadas como adubo das terras. Podem, também, fazer-se rodilhas ou rodaixas e como camas nas loijes para o gado.
Este tema foi tratado com base na observação das imagens e na leitura de excertos, de alguns provérbios ou ditos, como «favas Maio as dá, Maio as leva», e que as crianças passavam, em desenhos, para o papel.
As crianças puderam, ainda, ver registadas no papel frases suas, poemas individuais e de grupo, como corolário duma grande entrega ao tema e descoberta, dos quais retiramos a seguir os excertos que nos pareceram mais significativos, para o espaço deste jornal.

Do João Gomes (4 anos): “As flores eram amarelas e caiam quando dançávamos (…) Era a festa do amarelo (…)// Elas eram as Maias do Maio// Eu gostava de ser flor do Maio (…)”.

Da Leonor Nascimento (6 anos): “As Pessoas (…) batiam as palmas (…) Era a festa do amarelo…// o Sol estava contente…//Os bebés vestiam flores nos carrinhos// As mães estavam a passear as flores,…”.

Do Hugo Clemente (5 anos): “As carretas tinham muitas flores// (…) Elas brilhavam com o sol…// Estavam felizes…”.

Da Clara Correia (5 anos): “As flores andavam a passear nos carrinhos…// Iam para casa delas…”.

Do Ricardo Loureiro (5 anos): “As flores andavam a passear// Para plantar e regar…”.

Da Ana Clara Albuquerque (5 anos): “Os homens andavam a passear com os carrinhos// Mas as flores não estavam a chorar…”.

Da Ângela Coimbra (5 anos): “As flores estavam a dizer que gostavam dos meninos”.

Da Carolina Boal (6 anos): “As flores têm a cor do Arco Iris…”.

Da Letícia Gomes (6 anos): “Quando olhava para as carretas sentia o cheiro das flores (…)// Aquelas flores faziam-me lembrar as flores que a minha avó levou para o céu.”.

Do João Gomes (4 anos): “Gostei da crista do galo porque// Ela tinha muitas florinhas pequeninas à volta dela…// Era a Mãe e as filhas// e o sol era o pai.// (…) Porque dava calor e elas cresciam”.

Da Beatriz Mendes (8 anos): “É a festa das Maias// Entram nas portas da nossa casa// e fica a porta mais forte…// Temos comida todos os dias…”.

Do Igor Rafael (7 anos): “A minha mãe apanha as giestas e põe na porta// E o burro não entra na minha casa…”.

Do Diogo Alexandre (6 anos): “As Maias são fortes// Não deixam os maus entrarem na minha casa…”.

Da Matilde Ramos (6 anos): “As Flores amarelas, disse o senhor do Livro// Que são fortes…// (…) Não deixam entrar os maus…”.

Do Rui Trigo (6 anos): “As Maias são muito bonitas…// Têm muitas flores juntinhas.// São amarelas// Iguais ao sol…”.

Da Clara Mós Vieira: “As flores dançavam ao som dos violinos…”.

Em texto colectivo, o grupo dos 4 anos, falou do autor, depois de ouvir a nota biográfica e excertos d’«As Maias entre mitos e crenças»: “Ele chama-se Jorge Lage// Tem pais// Que trabalhavam no Campo…// (…) Nasceu em Chelas.// Nasceu em Abril…// (…) Estudou muito// Em muitos sítios… (…)”.

Outro texto colectivo do grupo dos 5 anos sobre o autor: “O autor do livro é o senhor das carretas…// Era magrinho// Encantador… // Olhava muito para os bebés…// Sorria muito…// Parecia que estava feliz…// (…) Ele é o Príncipe das Maias…”.

Noutro texto colectivo falam-nos: “As Maias são a festa da primavera// (…) São fortes// (…) Elas são o pai das casas. (…)”.

Ainda outro texto colectivo do ATL, sobre o Maio Moço (ou Maio): “(…) Chama-se João// E é capitão// Porque guarda a casa da Rainha Maia. (…)”.

Ainda pretendemos, mais tarde, trazer a público mais dois ou três trabalhos que a Educadora Beatriz e a sua Equipa nos entregaram no recheado dossier. As idades das crianças com que trabalham são as mais adequadas (bem como as Escolas do 1.º ciclo) para se lançarem fermentos de criatividade e de crescimento interior da gente que vai ser o nosso futuro. Quem sabe? Estão a dar às crianças o gosto pelos livros e pela leitura para que a nossa região sinta mais prazer em ter livros em casa e em saboreá-los.
Obrigado pelas muitas lições que nos deram e pela generosidade com que nos trataram. Nós fazemos o que devemos e o que a silenciosa voz dos nossos antepassados nos pede: honrar a sua memória e registarmos alguns dos saberes que estão a desaparecer com a globalização.
Este livro causou-nos imenso sofrimento interior, à medida que caminhava para o fim, ao longo de cinco anos, e algumas Escolas/Jardins-de-infância têm-nos dito que valeu a pena. Mas, o que nos fez humedecer mais a alma foi o Município de Mirandela levar o tema para um evento florido e público. Obrigado!

Arraiolos, 02JUL2012
Jorge Lage
in:jornal.netbila.net

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