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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

FLORES PARA DAMASCENO CAMPOS

10-12-2003, espaço privado da Presidência da
Assembleia da República,
Damasceno Campos ao centro,
à sua esquerda o Brigadeiro médico,
António Fernandes Tender e à direita Jorge Lage
A minha amizade com José Damasceno Campos (DC) teve como elo de ligação o saudoso amigo Fernando Azevedo. E nunca mais descuidei a troca de mensagens e telefonemas, além de encontros em Mirandela e Lisboa, durante os últimos doze anos.

A penúltima vez que me encontrei com DC foi há três anos em Lisboa, em que esteve, também, o ilustre mirandelense, Coronel Jorge Golias. Almoçámos os três próximo das Portas de Santo Antão e do Beco do Tronco, onde, reza a tradição, o Poeta Luís de Camões teria estado preso numa antiga cadeia.

Há dois anos, encontrei DC na Ponte Velha de Mirandela, num início de noite de Outubro, apresentando claros sintomas da doença que o roía e me deixaram preocupado.

Quando soube, pelo Fernando Azevedo, que o ilustre amigo, DC estava a viver em Leiria, em condições de saúde precárias, entrei em contacto com a esposa, Dona M.ª Josefina Vieira Lopes, que de imediato me escancarou as portas.

Estava previsto acompanhar a minha mulher, a Leiria, em afazeres profissionais e apenas aguardava o dia, só que antes a morte traiçoeira retirou DC do mundo dos vivos. Não é a primeira vez que estou para visitar um amigo e antes da minha ida parte para sempre.

A notícia da morte de DC, aos 85 anos de idade, em 26 de Maio último chegou-me pela voz da Poetisa, Maria Augusta Ribeiro, deixando-me abalado. O funeral teve lugar na tarde de 27 em Mirandela e pela expressão de rosto, teve uma morte serena, como foi sempre a sua postura em vida.

O funeral não teve a expressão que o seu percurso profissional e postura cívica mereciam. Foi discreto, para este «Homem Bom de Mirandela». Nem o Presidente da Junta de Freguesia local acompanhou as cerimónias religiosas fúnebres. Apenas amigos. Embora a maioria dos mirandelenses costumem ser gratos, a Assembleia Municipal, que deve ser um órgão muito atento, não terá registado sequer uma palavra de público pesar pela morte de DC.

Este mundo social e da política é, quase sempre, do faz de conta e da encenação burlesca. Ocupasse a filha Isabel um lugar de destaque na política, como em tempos idos, e não faltariam ali figurantes a tentarem perfilar-se em locais estratégicos.

Caricato foi ver, a escassas dezenas de metros da Igreja Matriz, a televisão pública farejar as janelas do tribunal para filmar e promover a imagem de algum assassino ou marginal e nada dizer sobre a morte do ilustre trasmontano. Quando a maioria dos portugueses era analfabeto, Damasceno (apelido de origem árabe) Campos (de origem marrana) licenciou-se em Histórico-Filosóficas e logo a seguir em Direito, na Universidade de Coimbra. Foi Procurador à Câmara Corporativa, Governador Civil de Bragança e de Leiria. Foi Provedor da poderosa Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e da Casa Pia e Director-Geral dos Serviços Prisionais, entre outros cargos, tendo sido agraciado com a comenda da «Ordem Militar de Cristo».

Sobre DC, a poetisa mirandelense, M.ª Augusta Ribeiro escusou-se, a falar do seu amigo de sempre, considerando-o como «um verdadeiro irmão», desde a meninice, destacando-lhe «aquela amigável bonomia».

Já o escritor Henrique Pedro, de Vale de Salgueiro, considera DC «um dos raros mirandelenses que, mercê da sua forte personalidade e pujança intelectual, ousaram granjear cargos de destaque na Nação (…) que (…) muito prestigiaram a nossa gente e a nossa terra. (…) Recordo a sua cultura, a sua frescura intelectual e visão lúcida do futuro, (…) Retenho, acima de tudo (…) o seu amor a Mirandela, (…)».

DC foi para mim um amigo e era tal a força dos seus conselhos que senti como a minha vida seria mais plena se tivesse o privilégio de o conhecer na minha juventude. Escutava-o como um grande sábio que coloca nas suas palavras toda uma prática de vida intensa e profícua. Via em DC um grande sábio que me estimulava e me incitava a procurar sempre o melhor da nossa terra e de Trás-os-Montes.

O seu grande apego a Mirandela e aos mirandelenses gostava de destacar os melhoramentos e de elogiar os melhores filhos da terra.

Com um sentido abraço à D.ª Josefina e família e um até sempre, meu ilustre e querido amigo!

Jorge Lage
in:jornal.netbila.net

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