José Cardoso Borges era natural da cidade de Miranda do Douro, onde nasceu em 1674 ou 1675, passando a viver desde “tenra idade” em Bragança, como ele próprio refere na Descrição, cidade em que tinha já ascendentes pelo lado materno. Filho de Francisco Borges Barreiros, natural de Miranda, e de Ana Rodrigues – “cristãos velhos de sangue limpo, sem raça alguma de cristãos novos, mouro, mulato ou de outra infecta nação, ou novamente convertidos à nossa sagrada fé, sem haver fama ou rumor do contrário” –, casou em Bragança com Clara Maria de Figueiredo Sarmento, filha de António Figueiredo Sarmento, coronel de infantaria, governador de Bragança e dela natural, entroncando, assim, num dos ramos mais ilustres das famílias brigantinas.
Foi sargento-mor de Bragança e seu distrito, escrivão da Câmara Municipal desta cidade, fidalgo da Casa Real, genealogista, e síndico do Convento de São Francisco da cidade. Comprou as “fazendas” que em Portugal possuía o Mosteiro leonês (Sanabria) de São Martinho de Castanheira e instituiu um morgadio em Bragança, com sua mulher, em 5 de novembro de 1706, administrado apenas por ele, em 1721, por morte de sua mulher.
Terá escrito, ainda, em 1740, a Árvore Genealógica da Família dos Figueiredos da Quinta de Arufe 3.
Faleceu em Bragança a 26 de Janeiro de 1745, com 70 anos de idade, tendo sido enterrado na Igreja de São Francisco. Dois anos mais tarde, passou a figurar na galeria de autores da Biblioteca Lusitana, onde Diogo Barbosa Machado caracteriza Cardoso Borges como um homem aplicado “ao estudo da História secular e eclesiástica”, que escrevia “com estilo corrente e suma indagação”.
O manuscrito da Descrição ou Memórias de Bragança não está assinado, nem o autor declara abertamente qual o seu nome. Porém, as páginas do códice fazem-no indiretamente e são pródigas em dizer muito mais sobre o seu autor. Sigamos o texto para que nos revele o autor e, através do autor, tentemos compreender melhor este texto.
Na época em que escreveu – 1721-1724 –, o autor é um homem com mais de 40 anos, viúvo, com cinco filhos adultos, dos quais três rapazes – Francisco Bernardo de Figueiredo Sarmento e José Sarmento de Figueiredo, que se viriam a formar em leis e a seguir a magistratura, e Bento José de Figueiredo –, ainda solteiros, e duas raparigas que haviam ingressado num mosteiro de Bragança. Em duas passagens refere episódios de infância ocorridos com dois dos seus filhos, Bento José de Figueiredo e Maria Josefa Gertrudes, indicando até que esta última era educanda no Mosteiro da Conceição. Os mesmos nomes constam, mais adiante, entre os cinco filhos de José Cardoso Borges, coincidindo também os dados relativos ao estatuto da filha. Assim, embora não o declarando, nesta ou noutra passagem, infere-se que é este, José Cardoso Borges, o autor do manuscrito, e este o seu contexto familiar, à época em que escreve – um homem piedoso, de uma forte religiosidade, para quem Bragança é a sua pátria.
in:Memórias de Bragança
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